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Capítulo 21

Harry pegou do bolso de seu sobretudo um bloco de notas e uma caneta, e por fim encarou Barbara como se estivesse a encorajando.

—Quer falar com Zayn aqui? — ele perguntou e Barbara olhou em meus olhos.

—Eu não sei.

—Pode me dizer por que não sabe?

—Eu só confio nele, mas não queria que ouvisse toda a dor que sofri. — ela disse com a voz embargada e seus olhos marejaram.

Caminhei até ela e segurei seu rosto cuidadosamente, deixando um beijo suave e demorado em sua testa.

—Estarei com você em todos os momentos. Você vai ficar bem, meu amor. — disse baixo e sorri para ela.

Barbara assentiu e enxugou rápido o seu rosto. Suspirei e me retirei dali, puxando uma cadeira e sentando um pouco mais afastado.

—Pode começar por onde lembra?

—Eu lembro de tudo. — ela disse com a voz triste e vi seu queixo tremer como se já quisesse chorar novamente.

—Estou pronto para te ouvir, Barbara.

Harry disse calmo a olhando nos olhos e ela assentiu. Barbara fechou os olhos e respirou muito fundo antes de reabri-los.

—Eu lembro que na minha casa sempre foi só eu e o meu pai. — ela sussurrou e vi Barbara esfregando os dedos repetidamente. —Não consigo dizer quando começou, mas eu lembro de estar pintando um desenho de um anjo na sala.

—De anjo?

—Sim. Eu tinha muitos sonhos com anjos quando tinha quatro anos de idade.

—Quatro anos? — Harry perguntou sereno, mas notei a indignação em seu olhar.

—Eu já estava machucada antes disso.

—Oh céus. — ele sussurrou e anotou algo.

—Enquanto eu pintava ouvi a porta destrancando e tentei me esconder antes que fosse aberta, porque sempre que ele chegava... — ela parou de falar e fechou os olhos com força.

—Você está bem? — ele perguntou e ela assentiu.

Sentia meu peito apertando tanto por ouvi-la contar tudo que já passou e Barbara mal tinha começado a falar.

—Ele me arrastava pelo cabelo, eu aprendi a prender meu cabelo sozinha porque doía muito mais quando estava solto. — ela disse olhando para suas mãos e fechei os olhos. —Era arrastada pela escada até o porão.

—Pelos cabelos? — ele perguntou e ela assentiu.

—No começo ele me levava lá quando queria fazer aquilo comigo, mas depois ele me trancou lá no escuro e eu ficava sozinha o dia todo! — ela disse começando a chorar e senti os meus olhos ardendo. —Mas eu preferia ficar sozinha do que quando ele chegava.

Barbara começou a chorar mais e escondeu seu rosto entre as suas mãos. Aquilo me causava uma angústia terrível.

—Harry, é melhor pararmos...

—Se pararmos, vai doer mais para ela relembrar mais tarde, Zayn. — ele disse calmo. —Barbara?

—Eu vou falar. — ela sussurrou e fungou.

—No seu tempo, okay? Não há pressa.

—Ele me deixava naquele lugar o tempo todo, e depois que completei seis anos tudo parecia piorar. — ela disse e Harry anotou. — Ele passou a esquecer de me alimentar, às vezes passava mais de um dia fora e eu achava isso bom porque ele não me tocava. Mas eu não tinha comida ou água e era terrível.

Barbara respirou fundo e enxugou seu rosto que já estava molhado novamente. Esfreguei meu rosto sentindo uma tristeza terrível em meu peito.

Não imaginei que as coisas pudessem ser piores do que o que Rodger me disse.

—E o que você fazia?

—No porão tinha goteiras, infiltrações por todos os lados e era isso que me salvava. — ela disse e suspirei. — Eu me arrastava até lá e bebia o que pingava, sem me importar de onde vinha.

Não sabia se ia ser capaz de ouvir todas aquelas atrocidades que o maldito fez com ela.

Era tão cruel e podre que eu desejei ressuscitar o maldito só para poder matá-lo dolorosa e lentamente com minhas próprias mãos.

—E você não comia?

—As vezes quando eu não conseguia aguentar a dor em meu estômago, mastigava os pedaços de jornais velhos ali. — ela disse e suspirou.

—E quando ele voltava?

—Quando ele lembrava de me trazer comida dizia que só me daria se eu... se eu... — Barbara chorou mais e levantei da cadeira esfregando meu rosto com força. —Ele dizia que só me daria comida se eu tocasse nele e eu estava com tanta fome! Tanta fome!

Barbara chorava com tanto desgosto que não consegui segurar também. Meus olhos marejaram e puxei meus cabelos com força.

—Zayn, precisa manter a calma. — ele disse sereno me olhando.

—Isso é tão cruel!

—Nós sabemos, Zayn. Mas Barbara precisa de você agora, então precisa manter a calma. — ele disse calmo e suspirei.

Enxuguei meu rosto e assenti. Respirei fundo e soltei o ar intensamente voltando a sentar na cadeira em que estava.

—Barbara, sente-se bem para continuar?

—Sim. — ela balbuciou e se abraçou à almofada ali.

—Quando quiser. — ele disse calmo e ela assentiu.

—Eu lembro que tudo permaneceu desse jeito até os meus doze anos. — ela disse e abaixou o olhar.

—E o que mudou desde então?

—Lembro que comecei a passar muito mal, muito mais do que só a fome e sede que sentia naquele porão.

—Passar mal?

—Sim, eu vomitava muito e aquele lugar foi ficando tão sujo e eu não conseguia sair de lá porque ele trancava com cadeados. — ela disse voltando a chorar. —Lembro que ele me olhou assustado em certo dia e depois ele me chutou muito na barriga.

Arregalei os olhos conforme comecei a juntar as peças e Barbara grunhiu como se sua garganta doesse imensamente.

—Eu não entendia por quê ele estava me chutando daquele jeito e ele não parava, até que eu sangrei muito no chão. — ela disse chorando muito e não fui forte o suficiente para não chorar junto.

—Barbara... — Harry sussurrou e vi que até mesmo ele estava horrorizado.

—Eu fiquei grávida aos doze anos e ele chutou minha barriga para dar um jeito naquilo. — ela disse baixo e logo depois se abraçou mais a almofada chorando de forma angustiante.

Isso era demais para mim. Era demais para lidar.

[...]

Psicopatia • z.mOnde histórias criam vida. Descubra agora