Então, trabalhar na biblioteca não era tão ruim quanto Harry imaginou que seria. Até porque ele não tinha nada melhor pra fazer, então passar o sábado organizando livros empoeirados sem a presença de outros seres humanos por perto estava sendo maravilhoso.
Ele estava dormindo no chão do quarto de Zayn e Niall havia uma semana. No começo foi estranho, mas Harry se apegou tão rápido a amizade dos dois (e de Liam também, que vivia no quarto deles) que agora era divertido compartilhar o cômodo com os garotos. Niall passava a noite implicando com eles e o dia terminava com uma guerra de travesseiros e risadas altas.
Mas houve uma noite... complicada. Puta que pariu, Harry suspirava envergonhado só de lembrar.
Ele estava cansado de esperar Niall terminar de fazer suas coisas no banheiro, então após gritar do outro lado do box que Niall era um punheteiro de merda, ele saiu de lá em direção ao quarto. E, bem, quando a porta foi aberta por um Harry distraído (porque a regra de porta fechada não se aplicava aos melhores amigos do monitor), ele congelou com a cena que mudou tudo.
Zayn beijava Liam. Tipo, beijava muito. De um jeito carinhoso e caloroso enquanto soltavam risadinhas. Era bonita a demonstração deles, claro, ele deveria ter percebido antes, mas... Puta merda. Foi tão constrangedor. Harry congelou na entrada da porta, assustando os dois outros garotos que se afastaram na velocidade da luz.
Eles se entreolharam, sem saber exatamente o que dizer. Liam parecia um gatinho apavorado e Zayn, por alguma razão, apenas encarava Harry pacientemente, esperando ele sair de seu estado assombrado.
Harry solta o ar, depois de um par de segundos constrangedores, e suspira longo e dramático.
— Ah, bem, desde que eu não tenha que beijar Niall para não ficar de vela.
Ele abriu um sorriso divertido, fazendo Liam rir aliviado.
Então Harry descobriu que os dois namoravam escondidos — relacionamentos homoafetivos não eram muito bem vistos por seus pais e pela administração do internato. O que era uma pena porque eles formavam o casal mais puro e belo que Harry já conheceu.
E poderia parecer egoísmo, mas Harry se sentiu um pouco aliviado por não ser o único.
A roda do carrinho carregado de livros velhos fazia um barulho irritante através corredores vazios da biblioteca. A senhora responsável pelo local havia saído pro almoço e Harry ficou sozinho para tomar conta de tudo, o que não era difícil porque ninguém aparecia ali para atrapalha-lo. Estava sendo um ótimo dia, repleto de paz.
Perfeito. Sem dores de cabeça. Apenas o mais belo é magnífico silên-
— Harold?
Vocês já ouviram aquele ditado que diz "tudo o que é bom dura pouco"?
Harry respira fundo e devolve os livros que estavam em suas mãos para o carrinho. Ainda era visível um roxeado em seu nariz, e quando ele girou seu corpo e se deparou com o responsável pelo machucado, seu estômago se revirou. Os olhos azuis estavam presos em si e pela primeira vez Louis vestia o uniforme corretamente, a gravata vermelha estava bem apertada em seu pescoço e o paletó não aparentava nenhum amassado.
Impecável. Simplesmente impecável. Harry o odiava tanto que-
— Só Harry.
— Harry... — Louis experimentou o apelido e repuxou minimamente o canto de seus lábios. — Muito ocupado?
Eles estavam tendo uma conversa de verdade e Harry quase se beliscou para ver se não era sua imaginação o tapeando como sempre. Era a primeira vez que eles se viam depois da briga, sempre que o garoto perguntava pelo paradeiro de Louis (ele não conseguia evitar perguntar pelo ex-roommate, era quase uma obsessão), Niall ou Zayn desconversavam e apenas diziam que tudo ficaria bem. Durante várias noites Harry se pegava pensando em diversos motivos para Louis fazer o que fazia (vender ilegalmente comprimidos e etc). Nada fazia sentido.
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Smother
FanfictionA academia dos anjos vermelhos foi o lar de rapazes da alta elite por mais de um século. Seguindo costumes cristãos para preparar os mais belos jovens, nunca houve um escândalo nas paredes conservadas do instituto. Ao menos nenhum que tenha saído do...