XIV

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— Para a árvore pelo menos há esperança: se é cortada, torna a brotar, e os seus renovos vingam. Suas raízes poderão envelhecer no solo e seu tronco morrer no chão; ainda assim, com o cheiro de água ela brotará e dará ramos como se fosse muda plantada. Mas o homem morre, e morto permanece; dá o último suspiro e deixa de existir — a voz sonolenta de Bradley ecoava pela sala abafada em uma leitura preguiçosa.

Era o dia seguinte após a reunião e o clima na escola estava, no mínimo, uma merda. Uma dúzia de alunos cansados cochilavam sobre as mesas de madeira desgastadas durante as aulas, como se tivessem passado a noite toda em claro, e seus rostos carregavam expressões exaustas e distantes. Harry não estava muito atrás daquilo e muito menos seus amigos, então por aquele motivo ele analisava Zayn rabiscando um bonequinho andando de skate no canto de sua bíblia durante a aula de Teologia.

Eles estavam trabalhando em dupla naquele dia,, haveria um teste sobre O Livro de Jó no próximo horário e por algum milagre Hall permitirá que eles usassem dois cérebros para resolver 100 questões. Harry só conseguia pensar se era tarde demais para se jogar de uma torre.

Niall fazia dupla com Liam na mesa da frente. Os dois jogavam algo parecido com o jogo da velha por detrás das bíblias empoeiradas. E pelo placar improvisado no braço de Horan, Liam estava ganhando de 12x1. Oh não, Niall.

E também havia Louis. Harry estava tentando não olhar para duas mesas trás de si, onde Louis cochichava algo com James McVey e soltava risadinhas abafadas. Harry sabia que eles estavam fazendo dupla por causa do plano de vingança idiota de Niall, Harry havia descoberto parcialmente que era sobre as pílulas serem trocadas por laxantes ou algo do tipo. Ele não se importava, honestamente, mas seria um pouco cômico ver James confundindo os comprimidos e... bem.

Mas Harry ainda queria jogar uma cadeira na direção deles. Ou diretamente na cabeça de James. Claro que seria acidentalmente.

O professor Hall explicava o texto que Bradley havia lido, mas por ter aprendido sobre o Antigo Testamento em sua igreja quando fez catequese, Harry resolveu mais uma vez não prestar atenção.

— Eu poderia comer mil pacotes de Oreo agora — Zayn sussurrou com um suspiro dramático.

Naquele mesmo instante, Niall se virou para trás.

— Cara, eu comeria dois mil!

Harry fez uma careta imaginando o quanto dois mil pacotes de Oreo faria um estrago em seu estômago.

—Claro que comeria, você não tem fundo — Liam disse baixo, também se virando para trás.

— Ei, eu preciso manter meus ossos fortes — Niall revida, parecendo mais uma criança de seis anos tentando explicar a importância do açúcar no mundo.

— Coma verduras então — Zayn revira os olhos e volta a atenção para sua obra de arte.

— Cara, você já pensou em ser artista? —Niall pergunta impressionado e ganha um olhar feio vindo do professor.

Os quatro murmuraram desculpas, mas logo estavam conversando novamente.

— Bem, já — Zayn encolhe os ombros. — Mas meu pai diz que artistas não podem administrar sua empresa futuramente. Ele já idealizou toda uma vida em que eu me torne um empresário bem sucedido, domine o mundo dos negócios e blábláblá.

— Uh, que merda — Harry murmura solidário. Ele entendia o sentimento. Desmond criou todo um futuro onde seu exemplar filho faria Direito em NYC e se tornaria um grande advogado.

— É, uma grande merda — Zayn concorda.

— Meu pai queria que eu fizesse economia em Cambridge igual a ele — Niall comenta distraído. — Mas eu mostrei interesse em música desde bebezinho, então ele já aceitou o fato de que serei um popstar ou produtor musical. Talvez os dois!

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