Assim que o Uber parou na porta do pequeno prédio, Harry agradeceu e pulou pra fora com agilidade. Ele sentia que deveria ter dado uma gorjeta extra para a motorista que ouviu seus problemas familiares durante todo o percurso e parou em uma farmácia para Harry colocar um curativo na bochecha.
Seus olhos subiram até a janela que pertencia a sala. Ele imaginou se todos estariam lá esperando por ele, prontos para pegar a estrada até Holmes. Céus, Harry não podia aguentar aquilo naquele momento, não podia suportar perguntas e olhares preocupados.
Ele sentiu uma vontade impulsiva de sair correndo sem rumo. E foi o que fez.
Sem olhar para trás, Harry se virou na direção contrária e começou a caminhar, seus passos ficando cada vez mais rápidos até que ele estivesse correndo em direção ao vento. As pessoas passavam por ele em um borrão, nenhuma se importando com o garoto perturbado que chorava enquanto zanzava pelas calçadas de Londres, apenas desviavam como se Harry fosse uma folha seca voando em suas direções. Mas era assim que o mundo funcionava: pessoas não se importam com outras pessoas, apenas com suas próprias histórias.
Harry cessou seus passos quando chegou em um parque miúdo que havia no bairro vizinho. Crianças faziam guerra de neve, os jovens patinavam no pequeno lago congelado e as risadas e vozes altas pareciam distantes, ecoando entre o som do coração acelerado nos ouvidos do rapaz. Seu peito doía mais e mais a medida que ele deixava o corpo pesado deitar debaixo de uma árvore com as folhas congeladas, sua pele se arrepiando pelo contato com a neve fria. A gravidade funcionava em volta dele, mas Harry parecia fora de órbita enquanto tentava controlar sua respiração.
Seu celular começou a vibrar no bolso do casaco. Uma vez, duas, seis, nove. Ele não se importou muito.
— Oi.
Harry abriu os olhos assustados quando uma voz tímida e infantil chamou sua atenção.
Um garotinho de meio metro estava parado ao seu lado, analisando-o com genuína curiosidade enquanto seus dedos empacotados por grossas luvas seguravam um caminhãozinho de bombeiro.
Harry tentou sorrir e arrastou o corpo até conseguir se sentar apropriadamente.
— Olá. Você está perdido?
— Não, eu aprendi o caminho de casa — o garotinho disse inflando as bochechas e estufando o peito, tentando parecer mais maduro do que sua idade permitia.
— Oh, você parece ser bastante esperto — Harry juntou os joelhos e os abraçou no peito, tentando manter-se aquecido. — Qual o seu nome?
Um sorriso animado começou a iluminar o rosto da criança depois de analisar Harry o suficiente para garantir que o rapaz era confiável. Porém ele ainda se manteve em pé a uma distância segura.
— Rellian! E o seu?
— Eu sou o Harold, mas você pode me chamar de Harry.
Rellian sussurrou o apelido algumas vezes, como se estivesse testando em seu sotaque.
— O que você está fazendo sentado no gelo, 'Arreh? Você caiu e não consegue levantar?
Harry bufou uma risada adorável pela forma que seu nome saiu e com a inocência do garotinho. Por um segundo ele sentiu inveja da criança, que não entenderia o porquê dele estar jogado sozinho em um monte de neve.
— Sim, foi um tombo feio.
Ele fez uma careta, arrancando risadinhas do garotinho.
— Precisa de ajuda? Você machucou sua bochucha!
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Smother
FanfictionA academia dos anjos vermelhos foi o lar de rapazes da alta elite por mais de um século. Seguindo costumes cristãos para preparar os mais belos jovens, nunca houve um escândalo nas paredes conservadas do instituto. Ao menos nenhum que tenha saído do...