Veritaserum

Capítulo Quatorze

Pulando.

Eu estava pulando em gelatinas gigantes, colorida e que flutuavam pelo céu, havia tantas cores que eu não conseguia pensar em tantos sabores que correspondessem a cada cor, eu diria que ali havia todos os sabores do mundo. Vermelha de morango, um outro tom de vermelho para tomate, outro tom de vermelho para cereja...E tinha uma laranja meio amarelada que eu poderia jurar ser cera de ouvido.

Curiosa como eu era, não resisti e fui até aquela gelatina pulando de gelatina em gelatina. Quando cheguei até ela, tentei reconhecer o cheiro, mas todas cheiravam a açúcar, então, mordi-a. E não é que a minha ideia estava certa? Era cera de ouvido! Mas, tinha uma coisa doce também da gelatina, era bom, mas a parte ruim era muito mais forte, e principalmente, nojento. Por isso, acabei cuspindo a gelatina que ainda estava na boca, mas...

Quando cuspi a gelatina ela e todas as outras começaram a cair e ao bater no chão todas elas se transformavam em feijões. Simples feijões! Comuns, pequenos e de uma única cor. Elas caiam a uma velocidade impressionante, eu até tentei me segurar, mas afinal era uma gelatina, e lógico, isso não foi possível, comecei a cair, sem estar em gelatina nenhuma, iria cair de cara no chão literalmente....

O susto do despertar foi ainda maior, porque além da terrível sensação de queda, e todo aquele estranho sonho, eu realmente havia caído, estava no chão do quarto e minha cama vazia. Apesar disso, a ideia de criar um doce com todos os sabores não saia da minha mente, então, fiz o que precisava fazer, levantei e fui para a cozinha. Era hora de começar a testar como deixar doces com todos os sabores do mundo.

Comecei,obviamente, tentando com as gelatinas, mas não deram muito certo, eram grande demais e o sabor estranho ficava concentrado em um ponto e o doce em outro, então, tudo seria uma questão de morder do lado certo. Passei para o que foi o meu segundo pensamento: feijões, afinal, eles também estavam no sonho, e aí sim a coisa passou a caminhar melhor.

Aquela não era minha primeira madrugada na cozinha, depois daquela conversa com Salazar e da reaproximação de Godric e Rowena decidi ficar um pouco mais afastada de todos pra ver se colocava meus pensamentos em ordem. Mas tudo teve o efeito contrário, ao invés de organizar os meus pensamentos e minhas emoções tudo ficou mais embaralhado, não conseguia descobrir se sentia falta mais de um ou de outro ou de ninguém.

O auge, porém, foi quando nenhum dos dois me procurou ou tentou saber como eu estava ou qualquer coisa. Não queria ser digna de pena nem nada disso, então, passei a dedicar meu tempo entre minhas plantas e a cozinha, ficava lá pra realizar todos os tipos de experimentos culinários possíveis. Até mesmo, Dipz, meu mais recente amigo, um elfo doméstico, disse que eu daria uma excelente elfa cozinheira e acabei concordando com ele.

Já estava chegando a o dia dos alunos retornarem a escola e eu desejava isso, queria por em prática a aula que pensei com eles, acho que dará certo, ainda mais agora com uma estufa tão próxima ao lago, também estava ansiosa para ver o trabalho que eles tinham feito, ele seria fundamental para o desenvolvimento da aula.

Como passei a me dedicar quase que integralmente a cozinhar passei a comer mais e, claro, engordei bastante. O aumento de peso não me incomodava, eu continuava sendo eu mesma, na verdade, eu me parecia mais comigo agora, havia retornado as minhas roupas mais fechadas e compridas. A princípio pensei que era vergonha, mas percebi que eu simplesmente estava voltando a ser a pessoa que eu era quando Godric me beijou a primeira vez, e não havia nada de ruim nisso.

Naquela época eu era uma jovem tímida que vivia escondida em roupas fechadas, ser gorda nunca me incomodou de fato, até eu ver as mulheres com quem Godric se relacionava. Essas questões sobre quem eu era e quem eu achava que deveria ser me deixavam atormentada, e na verdade ainda me deixam um pouco, e para sanar meus problemas eu comia ainda mais, era desmedido, muito além do que eu estava acostumada a comer, e o pior, é que sempre eram doces, havia uma probabilidade de ocorrer algum dano para o meu organismo, desenvolver uma doença ou algo assim, mas não me importava com isso, e por hora, isso também não me incomoda.

Apesar de tudo o que acontecia, estava feliz com quem eu era de novo.

O dia da volta dos alunos não foi tão bem planejado como eu imaginei, Rowena não fez uma reunião antes, não houve um roteiro, nem nada. Os alunos apenas voltaram. Como estava ansiosa por eles aguardei todos no saguão principal. Meus alunos estavam tão entusiasmados quanto eu, e não fizeram comentários algum sobre a minha mudança, apenas sobre a nova estufa que viram de longe, e sobre o como foi empolgante descobrir tantas coisas sobre o guelricho, além, de terem contado sobre as coisas que fizeram e o que imaginaram que mudou no castelo.

Mas, pela primeira vez, em toda a minha vida, senti real vergonha de quem eu era. Apesar, de ter estado com todos os alunos, e recepcionado todos, até os que não eram meus, meu real desejo era sair dali o mais rápido possível, e me surpreendi com a minha própria força por não sair chorando dali.

Os alunos do Rawenclaw me olhavam de forma espantosa, como se eu houvesse me tornado uma espécie de aberração, não teciam comentários, mas seus olharam eram maldosos e um tanto quanto superiores. Como o mestre, os alunos de Gryffindor tentaram esconder os reais sentimentos, mas acabavam olhando de uma forma diferente, quando algum deles fazia um comentário que fosse era logo repreendido por outro aluno, mas sempre riam antes. A casa de Slytherin agiu como os sangue puros que eram, sem nenhum comentário, sem rir dos comentários maldosos, sem empolgação a volta, sem me encarar, tentavam me ignorar para não baixar o nível junto as demais casas.

Essa, sem dúvidas, não era a recepção que eu esperava.

Mas, piorou quando Grodic apareceu com um sorriso de ponta a ponta acompanhado de Rowena, ele saudou seus alunos a distância com um grito e seus alunos o acompanharam, começando uma grande algazarra. Os alunos de Slytherin se retiraram sorrateiramente para as masmorras, os de Rowena a seguiram para algum lugar, já os meus começaram a andar cada um para um local diferente do castelo.

Godric apareceu de dentro do seu emaranhado de alunos e veio até mim com os braços abertos, me envolvendo no seu famoso abraço de leão, beijando, minhas agora fofas, bochechas. Quando me soltou, o barulho dos alunos já começava a diminuir e por isso começou a falar.

- Estou muito feliz por vê-la assim de novo! – não sabia o que responder, então, permaneci quieta – Você se parece de novo com a minha irmãzinha mais nova. Fico feliz por estar voltando a ser você. E devo agradecê-la imensamente por tudo o que fez por mim durante esses dias, sei que devo ter confundido um pouco sua mente, mas acredito que tenha entendido, todo mundo sempre soube que amo Rowena e você me ajudou a organizar os meus pensamentos, sinto muito por ter usado você como meio para entender isso tudo. Mas, sua benevolência é sempre muito superior a todos nós. Sou extremamente grato por você existir e ser tão boa pra mim. Amo você, minha pequena Helga. A minha irmãzinha que não tive.

Estava sem chão.

Como nós dois podíamos ver coisas tão diferentes em uma mesma situação? Se não o conhecesse a tantos anos diria que estava mentindo, mas ele estava sendo extremamente franco e esperava isso de mim também. O barulho dos alunos já havia diminuído com a dispersão dos alunos dele, e finalmente, deixei que a única verdade que pertencia a ele sair da minha boca, terminando com anos de segredo.

- Eu amo você. – ele me abraçou e beijou minha testa, esperei ele se afastar para que eu repetisse de modo que ele entendesse de verdade – Eu amo você, Godric, como homem.

Sua boca se abriu em estado de choque, e pela primeira vez em todos esses anos, Godric finalmente entendeu a forma como eu o amava, e estava sem reação, algo totalmente anormal para ele. Não queria ouvir agora que ele me amava como uma irmã, não de novo, não depois de ter suportado o olhar cruel dos alunos. Então, fiz o que aprendi de mais rápido com Salazar, sai antes que ele me respondesse.  

  Oi!!! Sinto muito pela grande desaparecida, mas até a minha formatura, tenho que dizer, que infelizmente será assim. Mas, não desiste não, vamos chegar até o final.