Capítulo Treze

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Godric estava bêbado novamente e a repetição desse fato em um intervalo tão pequeno me preocupava muito. Quando deixei Salazar sem nem ao menos me despedir achei que era por conta da minha prioridade que sempre foi Godric, mas também era vergonha. O que eu deveria fazer depois de tudo aquilo? Como olharia parra ele depois? E se ele descobrir que tudo o que está me ensinando tem como objetivo agradar a Godric? Dessa vez o trouxe para a sala de antes do meu quarto, não arriscaria deixá-lo no escritório de Rowena novamente.

- Por que, mulher? – ele choramingava entre soluços bêbados e algo que parecia ser um choro seco

A situação era ridícula e me incomodava. Aquela mulher claramente não era eu, Godric estava sofrendo por alguém, que eu me recusava a admitir quem era e eu estava sofrendo por ele. Mas, quem estava sofrendo por mim?

Essa não era minha melhor ideia nem de longe, mas era a única que eu tinha no momento, e iria usá-la, depois me entenderia com Salazar, porque eu tiinha a certeza mais que absoluta que ele iria perceber.

- Accio: Veritaserum!

Quando a poção chegou em minhas mãos o medo de usá-la foi maior do que a minha vontade de descobrir a verdade, então, resolvi não usá-la agora. Deixei Godric sozinho em minha sala de visitas, lancei feitiços para abafar o som, um para trancar a porta de saída e um para esconder a varinha dele e que ela só aparecesse a ele quando estivesse sóbrio, e me tranquei em meu quarto. Ele se debatia, quebrava algumas coisas minhas, gritava, batia na minha parede, as vezes tudo parava e eu só ouvia os seus soluços, mas nunca o nome, como se de alguma forma isso fosse proteger a identidade da mulher que tinha sua devoção.

Durante alguns minutos eu chorei junto com ele, chorei por ser incapaz de ajudá-lo, por não consegui superar a mulher que preenchia sua mente, por saber que eu nunca seria ela, e por ver que ele não me amava, tudo o que vínhamos vivendo esses dias era uma mentira, uma linda mentira para mim, mas que para ele era uma forma de seguir em frente. Seria então o meu papel ajudá-lo a seguir em frente? Afinal, eu... Eu o amava de forma intensa. Eu...Eu o amava ainda?

Meu choro, porém, não durou a noite toda, acabei me deixando levar por toda a situação na qual estive envolvida com Salazar e fiquei pensando no que deveria ter acontecido caso eu não tivesse fugido para ir atrás de Godric. O que Salazar faria? O que eu deveria fazer? Godric fazia muito barulho no outro cômodo o que me impedia de ter um pensamento coerente, mas essa era só a desculpa mais plausível que encontrei para não dizer que eu não era capaz de chegar a uma resposta e que só a teria se tivesse permanecido lá, algo que só poderia reparar com um vira tempo e não seria algo tão sutil assim.

Quando Godric finalmente silenciou, o que eu entendi como se ele tivesse dormido, eu também o fiz, e deixei todos os muitos pensamentos serem varridos para o canto da minha mente, focando somente em coisas boas e agradáveis, e foi assim que adormeci.

A manhã cinzenta me trazia conforto apesar de não gostar desse tempo, me mostrava que tudo parecia sentir como eu estava: confusa entre o sol e a chuva, entre a luz e a escuridão, entre amar Godric sozinha ou não. Deixei-me mergulhar em um banho de horas para limpar a minha mente, e pela primeira vez desde que fizera as mudanças em minhas roupas, não e senti confortável com elas, então, peguei uma como as que eu usava, um vestido de baixo longo, com as meias compridas, espartilho, anágua e um vestido fechado até o pescoço, deixando somente meus antebraços expostos para me dar liberdade em mexer na terra.

Fui seguindo para o quarto de Rowena antes mesmo de tomar café da manhã, precisava saber se elas estavam bem, mas desisti quando ouvi os risos dela e de Godric, estavam juntos e bem, felizes, se pudesse vê-los tenho a sensação de que veria algo como uma família. Imaginei que iria cair no choro por imaginar algo como isso, mas não aconteceu, talvez eu estivesse seca por dentro agora. A fome que antes era uma pequena parte de mim, agora já não estava mais ali, então, simplesmente segui para a nova estufa.

Passei uma grande parte do meu dia cuidando de diversos guelrichos, precisaria deles para a minha atividade de volta as aulas, me dedicar a minha paixão foi o que me manteve sana e fez o dia passar mais rápido. Sempre soube que eu não era o amor de Godric, mas tê-lo comigo da forma como estávamos me dava esperança de que um dia esse amor poderia ser esquecido ou substitui pelo meu, quando na verdade tudo era uma forma dele se proteger, se reerguer do ganho de Helena, uma filha que não era dele.

Como esperado, apesar de estar longe a maior parte do tempo, foi impossível não encontrar alguém, ainda que o castelo fosse enorme, e claro, com minha falta de sorte, encontrei justamente quem não queria. Godric vinha seguindo exatamente da direção do quarto de Rowena, e a ver por suas roupas amarrotadas e boca inchada era nítido o que havia acontecido. Foi aí que perdi o controle, não esperei que ele chegasse perto de mim, desaparatei, mas minha coragem, ou melhor, falta dela, não me permitiu ir muito longe, fui para a cozinha e desabei a chorar com um elfo. Chorei e reclamei, enquanto o elfo Dipz me consolava, era triste e digno de pena minha atual situação.

- Diria que é repugnante o que está fazendo. – Salazar falou, acredito que mais por estar com um elfo do que por qualquer outra coisa - Mas, não quero saber o porquê. Só estou passando para avisar que peguei algumas urtigas secas...

- Você o que? – gritei me levantando do colo do elfo, que estava estático até agora – Como ousa mexer com as minhas plantas? Não pode fazer isso! São minhas filhas! Não pode mexer nelas!

- Eu procurei você lá a uns minutos atrás, mas não a vi, então peguei o que precisava, algo me disse para passar aqui, e acabei encontrando-a.

- Certo! Não quero brigar com você. Só não faça isso de novo, por favor. – ele permaneceu parado, esperando alguma outra ação, então, fiz uma besteira, como sempre – Quero cancelar as aulas. Não preciso mais delas.

- Godric estar se acertando com Rowena te incomoda tanto assim?

- O que Godric tem a ver com isso? – perguntei nervosa, mostrando claramente que ele tinha tudo a ver

- Ele era o seu objetivo. Mas, agora você está desistindo.

- Eu... – e ao invés de tentar esconder, me entreguei totalmente – Desde quando você sabe sobre Godric? Por que aceitou as aulas?

- Tenho meus motivos.

- Mas, você sempre disse que iria descobri. Por que se você já sabia?

- Queria ouvir de você, mas eu percebi que não iria tirar essa informação de você, não por conta própria pelo menos. E agora foi uma boa oportunidade para isso.

- Mas, como descobriu? Quando?

- Desde o momento em que nos conhecemos. Eu vi o modo como você olhava para ele e ainda olha, mas o olhar mudou um pouco. É claro, que como seus olhos só o vêem, não foi capaz de perceber que Rowena sempre o viu da mesma forma, e os olhos dele retribuíam a alguém...

- A Rowena, eu sei, eu o enxergo muito bem, mas isso não tirou a minha esperança. Achava que se desse a ele o que precisava, ele poderia me amar.

- Helga, Helga... Ninguém é capaz de amar por duas pessoas.

- Eu já ouvi isso. Foi Adelaide! Ela me disse isso! Afinal, qual a relação de vocês?

- Acho que já chega por hoje. – mas, eu sabia que era só uma desculpa pra fugir do assunto – É bom refletir sobre o quão forte você é e o que está disposta a sacrificar para tentar ter o amor de Godric.

E como sempre fazia quando não queria mais falar, apenas saiu e me deixou sozinha.

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