Capítulo quarenta e nove - Epílogo da Helga

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Hoje a capinha tá num link no capítulo, pra não dar spoiler do capítulo de hoje, que foi inspirado nessa arte
Esse é o epílogo da Helga e o último capítulo dela, o próximo será o único narrado pelo Salazar.


Levantei apavorada era a primeira vez que eu tinha um pesadelo tão forte como esse, que mesmo eu não me recordando ainda me deixou com sensação de pavor. Eu estava em pânico! Meu corpo tremia, minha mente estava turva e confusa, memórias falsas minhas com Salazar a tomavam. O medo era tamanho que precisei me levantar da cama, porque sentia que estava presa a ela, e seria pega por algo cruel.

"Não pode oferecer aquilo que não tem."

Sentei em minha bancada de frente para o espelho. O branco da minha roupa de dormir se confundia com o meu e parecia que eu era um fantasma. Exceto pelos meus olhos que estavam vermelhos do choro silencioso, que só identifiquei por conta do espelho, porque ainda não o estava sentindo, tão pouco o compreendia.

"Pela primeira vez em anos a Hufflepuff mostra que sua bondade infinita tem um limite."

O pesadelo havia me causado uma dor interna, como se tivesse revivido lembranças perdidas. Se fosse algo referente a minha família, seria totalmente compreensível, mas a Salazar? Não tinha sentido algum! Apesar de saber disso eu ainda estava em prantos.

"Não vou perder minha compostura por algo tão insignificante."

Peguei minha escova de cabelo para me pentear, talvez fazer algo me ajudasse a me controlar. Meus cachos estavam cheios de nós com o sono conturbado que tive, e nem chegara a ser uma noite completa. Comecei a passar a escova devagar pelos cachos, mas as lágrimas não sessavam.

"Você se identifica com a plebe, é por isso que ela faz parte da escola, mas não somos obrigados a fingir que nos importamos."

Eu ouvia frases soltas na minha mente, frases que teriam sido ditas por Salazar para mim, e eram cruéis. Parecia que eu estiva cercada por fantasmas maldosos que queriam me ferir independente do que precisassem falar para me fazer mal. Não lembrava de ter muitas lembranças com Slytherin, mas as que tinham não eram assim, eram comuns, sem importância. Porém, cada fala que vinha para mim me causava mais dor do que eu poderia imaginar. Doía mais do que tudo o que eu já havia passado em toda a minha vida e era real.

"Pra mim parece que você mente o tempo todo pra mim."

As frases tinham um único intuito, me machucar. E estavam conseguindo! Não lembrava que minha mente era tão sádica a ponto de produzir memórias falsas tão cruéis. Mas eu sempre me surpreendia comigo, de uma forma muito ruim, infelizmente. O pior é que todas as memórias eram envoltas com Slytherin, e ele nem poderia se defender das minhas acusações infundáveis.

"- Você está horrorosa nesse vestido!"

Não estava dando certo! Eu chorava ainda mais, as palavras estavam acabando comigo. Minha frágil autoestima estava caindo como uma cascata. Não tinha ideia do que fazer para me salvar. Todas as minhas inseguranças estavam ali gritando para mim todos os meus defeitos.

"Diria que é repugnante o que está fazendo."

Larguei a escova. Já não estava magra como antes, nem sei como havia conseguido ficar tanto tempo com um corpo "normal". Estava comendo do jeito que eu gostava, com abundância. A cada dia eu percebia que estava engordando um pouco mais, estava voltando ao meu eu de sempre, como na minha adolescência, quando Godric me conheceu. Só havia a diferença das roupas agora, eu usava coisas mais modernas e bonitas.

"Você precisa de um filtro nessa mente e na boca também."

Peguei a tesoura!

Era hora de me causar algum sofrimento real para as minhas dores fictícias.

Pensei no que fazer...

Respirei fundo...

E cortei!

O vermelho foi escorrendo em câmera lenta, quase como se quisesse me ferir mais do que eu planejava.

"Achei que você só poderia ficar mais bonita, mas me enganei!"

Nunca acreditei na minha beleza, nem em nenhuma outra característica minha. Ainda assim eu mantinha o máximo que podia da minha dignidade agindo conforme a sociedade pedia. Mas eu estava cortando isso hoje!

"Suas desculpas me irritam, na maioria das vezes."

Continuei o corte, e chorava cada vez mais. Já não poderia dizer a que se referia a dor que eu sentia, mas ela estava lá vivíssima, como se nada a tivesse aplacando. E junto dela, mais sussurros perversos.

"Não quero ouvi-la. Não sou obrigado a isso."

Aos poucos meu cabelo ganhava forma de novo, ficando irregular, e com o corte na altura do ombro era o fim do que restava da minha sanidade. Uma dama da alta sociedade não tinha o cabelo curto, usava luvas, sabia fazer um belo penteado e muitas outras coisas que eu não era boa.

"Não seja tola!"

Quando a última mecha vermelha caiu no chão, não foi em lenta como a primeira, foi rápida como um feitiço. Não tinha mais volta agora! Eu estava arruinada por completo! Joguei a tesoura no chão, não me preocupando com ela. Abaixei minha cabeça em cima do braço, e chorei com todas as minhas forças.

"Não chore! Sabe que as suas lágrimas não produzem o mesmo efeito em mim!"

Chorei até perder o ar!

Chorei de forma feia e sem decoro algum!

Chorei para esquecer!

Chorei para não ouvir!

Chorei para tentar limpar minha alma!

Chorei por estar chorando!

Chorei, chorei, chorei...

Chorei até não ter mais forças!

Chorei até parar de chorar!

Chorei muito!

E só parei, quando o dia começava e eu era obrigada a voltar a viver!

"Cuidado para não ser devorada texugo."

Mas eu já estava quebrada por dentro! Eu era milhões de caquinhos perdidos, que talvez nunca fossem ser colados de novo. Tinham várias perguntas sem resposta na minha cabeça, mas só uma gritava para ser respondida:

Por que Salazar foi embora?

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