Capítulo Dezessete

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E foi assim, sem perceber, que um mês se passou. Era assustador pensar que desde o acidente de Lewis até a minha recuperação completa havia perdido todo esse tempo. Mas uma coisa era preciso admitir que recebi o espaço que precisava, ninguém me procurou, Dipz levava para mim as informações importantes, e falava com Rowena a cerca do meu progresso. Apesar de tudo foi fundamental esse período para que as minhas ideias ficassem organizadas e agora eu estava pronta e decidida, pela primeira vez em muito tempo, tinha certeza de quem deveria ser a primeira pessoa com a qual eu deveria falar.
  Para não perder o costume recém adquirido e totalmente escandaloso para as regras de conduta da sociedade, decidi que só iria sair para minha primeira visita de madrugada. Era de fato uma nostalgia interessante voltar a andar pelos corredores da escola com uma coragem que não me é usual, e como em todas as outras vezes que fiz isso essa não seria uma conversa fácil de lidar. Bati na porta e tal qual o esperado foi aberta rapidamente, era incrível como parece que ninguém dorme nesse lugar.
- Confesso que não esperava uma visita sua, ainda mais a essa hora.
- Não poderia ter escolhido ninguém diferente para a minha primeira visita depois de um mês. – e assim adentrei ao aposento e fechei a porta
- Devo concordar, embora não tenha pensado em recebê-la hoje, fico feliz que tenha vindo, acho que temos que conversar mesmo.
- Com toda a certeza! Em algum momento nós mudamos muito e nos desencontramos no caminho, mas não quero perder você. Você é uma parte muito importante na minha vida e fico preocupada de estar cavando um buraco em nossa relação.
- Ah, Helga! – disse suavemente - Tem sorte que eu não caio em buracos assim. E embora eu não queira, eu preciso perguntar. Qual é a parte que é mais difícil para você em tudo o que estamos vivendo?
- Acho que vou precisar de uma dose de veritaserum pra te responder, essa é uma pergunta que eu ainda não tenho uma resposta.
- Por sorte, eu tenho uma aqui. Topa dividir?
- Não sabia que Slytherin compartilhava suas poções assim.
- Ele não faz, mas eu não me importo em pegar. – sorri disso
- Aceito a dose, precisamos de uma conversa verdadeiramente franca. Devo admitir que não esperava isso de você. Está sendo cada vez mais surpreendente.
- Sou uma mulher surpreendente, então? – Rowena pegou a poção e colocou em dois copos, se sentou e me apontou uma poltrona, ela bebeu o seu e me deu o outro, bebi a poção por inteiro antes de tornar a falar
- Com certeza! Deve ser por isso que todos os homens estejam aos seus pés. – parece que já estava fazendo efeito, como todas as poções dele, essa era bem forte e de efeito quase que imediato
- Adoro a sua visão sobre mim, faz com que eu seja menos comum e mais como você.
- Tem certeza que tomou a poção certa? É mesmo veritaserum? – e ela gargalhou da minha pergunta
- Isso a faz ainda mais encantadora, não saber o efeito que você tem sobre as pessoas. Se eu pudesse daria isso a você – arqueei a sobrancelha a ela, instigando-a a continuar – Uma dose, uma não, várias doses de você mesma, para entender como você é.
- Desculpe, mas recuso o seu presente. Não faz sentido eu ter mais de mim se eu tento ser como você. Seria o novo exemplo para a sociedade bruxa britânica.
- Como eu posso ser um exemplo tendo uma filha fora de um casamento?
- Tudo bem, você erro aí, mas...
- Não tem mais, isso é um escândalo em qualquer sociedade, bruxa ou não. As vezes me arrependo de ter Helena comigo, mas quando a vejo me envergonho por pensar nisso.
- Por que não se casa com o pai? Tenho certeza de que se falássemos todos juntos Slytherin iria ceder e assumir você e Helena.
- Por que Slytherin faria uma coisa dessas?
- Ele é o pai da Helena, é obrigação dele...
- Da onde tira essas ideias, Helga? Somos amigas a muito tempo e nunca consigo entender de onde saem essas suas deduções.
- Eu vi a preocupação dele durante o parto, e como ficou furioso quando não foi o primeiro a ver Helena. – e então, ela riu, riu de mim e do que eu falava, estava lutando contra mim para empurrar Salazar para ela e Rowena ria
- Garanto a você que ele não estava preocupado com a minha filha, mas sim com a parteira e na verdade essa é uma dúvida que eu ainda não sanei também. E se não acredita que ele não é o pai de Helena só com minha palavra, lembre-se que eu tomei a veritaserum.
- Então, quem é o pai da Helena? Godric?
- Por favor, Helga! Eu passei dias fora...
- Uma semana. – ela me olhou espantada – Eu contei, fiquei preocupada com o que poderia acontecer a você, quando voltou eu já estava pronta para falar com os outros para irmos atrás de você.
- Você é uma amiga muito melhor do que eu mereço.
- Como sempre, estou sendo posta em um pedestal. Adoraria ser a pessoa que vocês pintaram de mim, seria uma pessoa realmente incrível.
- Helga, você é essa pessoa, só não consegue ver isso.
- Trocaria isso pela sua classe.
- Não há nenhuma classe em ser mãe solteira!
- O que aconteceu afinal par terminar nessa situação? Quem é o pai da Helena?
- Bom, antes de me aventurar com vocês na fundação da escola, vivia em Cambridge é um bom lugar para se estudar e resolver pesquisas, consegui desenvolver muito da minha inteligência lá, minha família era da burguesia havíamos entrado para o grupo de aristocratas durante o início da minha adolescência, então, pude conhecer um pouco da realidade mais pobre e foi nessa época que conheci Thomas. – aquele era um nome que eu nunca havia ouvido aquela realmente seria uma história nova – Morávamos perto um do outro e acabamos por nos tornarmos amigos, mas ele não é um bruxo como nós somos, e como éramos grandes amigos foi difícil esconder a magia dele, a princípio passei a ficar escondida em casa, mas quando eu comecei a perder o controle em público foi mais difícil de manter a mentira, então inclui ele em meu universo mágico. Thom não tinha inveja de mim, nem medo como as outras pessoas, apenas tentava me ajudar sem me pedir nada em troca, você me lembra muito a ele. – ela disse pegando minha mão e deixando algumas lágrimas caírem, algo que não me recordava de ter visto Rowena fazer
Conforme minha família ganhava notoriedade mais eu precisava me afastar dele, mas me fazia mal estar longe, sem perceber eu havia me apaixonado por ele. Passei a frenquentar as festas da aristocracia e precisava cada vez mais controlar a minha magia, meus pais eram bruxos experientes e me ajudavam ao máximo que conseguiam, mas não era o suficiente, estar longe de Thomas havia me deixado mais instável, então, contratamos ele para trabalhar para nós, isso ajudou muito, mas estava me tornando imprudente. Quando a caça as bruxas chegou tivemos que praticamente não usar mais magia, mas como disse, estava me tornando imprudente, e em uma dessas decisões terríveis que tomamos por sermos jovens, usei magia junto a Thom e fui descoberta – nesse momento ela parou e começou a chorar sem para, ouvi Helena resmungar como se sentisse a dor da mãe, mas parou assim que ele recomeçou – Seria presa, ou morta, não sei, mas Thomas assumiu a culpa pela magia e foi levado. Godric surgiu lá nesse mesmo dia, ele era ainda mais imprudente que eu, mas isso era a força dele, sua defesa, ainda assim não parecia ter sofrido com os acontecimentos da sua vida, a princípio achei que ele era até mais novo que eu – eu ri disso, Godric sempre pareceu mais novo do que realmente é – Imagine só Godric apareceu a noite em minha casa para falar com meus pais para permitirem que eu fugisse com ele que assim ele ajudaria a salvar a vida de Thom, não foi preciso pensar muito, salvar o meu primeiro amor era uma necessidade tão grande que minha própria existência parecia não valer muito ali, e além disso, eu iria precisar sair dali. Godric fingiu que era um membro da nobreza, e conseguiu convencer ao Clero de que não precisariam matar Thomas, não foi uma punição justa, até porque ela era pra mim, mas foi a mais justa que conseguimos, ele teria que ficar recluso durante sete anos sem usar magia e quebrar sua varinha em público, Godric arrumou uma varinha falsa e deu a ele, assim que a cerimônia pública acabou fomos embora.
Godric me contou sobre a ideia da escola e que me escolheu por minha inteligência, me senti honrada por ser convidada para algo assim, ainda mais após o ocorrido, dali fomos atrás de Slytherin. Continuei mantendo contato com meus pais, soube por eles quando os bruxos de Cambridge começaram a ser realmente perseguidos, até a perda de minha mãe, já a de meu pai entendi quando as cartas pararam de chegar. A convivência com Godric fez crescer em mim uma admiração muito forte por ele, mas eu havia me fechado em uma pessoa fria e calculista, para que eu não pudesse repetir os meus erros e nem cometer outros como aquele, o que era totalmente diferente da postura dele, ainda assim não consegui suprimir o sentimento que foi surgindo.
Na semana que fugi da escola, Thomas havia me mandado uma carta dizendo que havia acabado o seu período de isolamento, mas que não se sentia bem, fui imediatamente atrás dele, sem pensar em nada, ele trazia em mim meu lado imprudente de volta. Retornar a Cambridge foi difícil, mas necessário, quando o encontrei ele estava bem, parecia melhor que antes, me entreguei a ele por inteiro naquele dia, não foi uma atitude correta para alguém com meu estudo e que conhecia todas as regras da sociedade, mas foi impossível resistir a ele. Thom me contou o que lhe aconteceu durante seu tempo recluso, ele foi forçado a participar da caça as bruxas e foi o responsável pela morte do meu pai, ainda assim, consegui jogar tudo isso para o fundo do meu coração e tentei trazê-lo para cá, nem ao menos pensei em Godric nesse momento.
Era o meu sexto dia fora quando acordei com ele morto, Thom havia tirado a própria vida, por minha causa, quando voltei descobri que estava grávida, Helena é a prova de que Thomas viveu, não consigo me arrepender por ela, mas tenho dificuldades em deixar Thom pra trás por conta disso, e nesse processo estou machucando Godric e sem perceber machuquei você também. Sinto muito por tudo Helga!
- Eu também! – e a puxei para um abraço – Sou muito grata por ter sua amizade e por ter sido agraciada com a sua história.
- Há alguma forma de reparar meus erros com você?
- Eu beijei Godric – confessei a ela, mas Rowena me sorriu como se já soubesse – Muitas vezes, inclusive durante o parto de Helena – seu sorriso morreu e a culpa me invadiu – Ele pode ser o seu presente e o seu futuro, enquanto Thomas foi o seu primeiro amor, o seu passado. Mas, Godric foi o meu primeiro amor – “Usei mesmo o verbo no passado?”- Ele foi a primeira pessoa a me reconhecer além da minha aparência, meu excesso de peso não era muito fácil de ignorar como ele fez, havia algo nele que me impulsionava para frente, algo que me tornava alguém melhor. Sinto muito por isso, Rowena! Nunca foi minha intenção me colocar entre vocês dois, mas quando ele veio até mim não resisti a ideia de realizar as minhas aspirações infantis. É claro, eu entendo agora, ele na verdade só queria encontrar um jeito de deixar você viver.
- Não sei o que dizer a você.
- Não se preocupe, também não sei bem o que dizer. É assustador demais tudo o que estamos vivendo. E ainda tem Salazar... – falei em um suspiro
- Desculpe, mas Slytherin não entra na minha história em momento algum... – eu corei com essa observação de que ele só tinha influência sobre mim – Oh, Merlin! Você se envolveu com ele também, isso vai ferir o enorme ego de Godric, saber que foi trocado por Slytherin.
- Na verdade, não troquei... – ela levou alguns segundos para entender o que eu queria dizer, mas quando o fez estava branca de espanto
- Por Merlin! A situação é pior do que eu esperava! Você estava com os dois ao mesmo tempo!
- Falando assim fica realmente muito ruim a situação.
- É claro, Helga! Você precisa se decidir, não pode ter os dois de uma vez. Precisa escolher qual você quer e ficar com aquele que lhe retribua, e não se preocupe comigo, se Godric esteve com você é porque ele esteve com dúvidas, então ele merece o direito de escolha, assim como você. Mas, você necessita desfazer essa confusão o mais rápido possível, porqu...
- Eu só preciso do Salazar – falei sem pensar e logo levei as mãos a boca cobrindo-a enquanto a verdade dessas palavras me afligia e Rowena alargava seu sorriso – Acho que a veritaserum não me fez muito bem. – levantei e fui saindo do quarto
- Seu segredo está guardado comigo.
Fechei a porta e sai correndo para o meu refugio: a cozinha. Precisava pensar e ver Dipz, ele iria me ajudar a encontrar a resposta para essa pergunta que eu nem sabia que tinha. Afinal, quando foi que Salazar tomou o lugar que sempre foi de Godric? Acho, na verdade tenho certeza de que essa é uma hora excelente para começar a preparar a amortentia.

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