Capítulo vinte e três

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Com o uso do acanto meus braços já estavam muito melhores, só continuava medicado para tentar amenizar mais um pouco as cicatrizes que ficariam, mas eu e Adelaide estávamos cuidando para que ficassem quase que imperceptível, e parecia que iriamos conseguir sucesso. Minhas pernas também estava melhorando e estávamos começando a fazer exercícios para movimentá-las, conversava com Adelaide sempre que possível, porque tais atividades me exigiam muito, mas era sempre agradável e importante tudo o que ela falava.

- Onde aprendeu habilidades tão diversas?

- Vim de um tempo antes de vocês, era preciso dominar mais de um conhecimento se quisesse sobreviver. Dei sorte de trabalhar para uma família que precisava exatamente disso, alguém que pudesse atendê-los da maior quantidade de formas possíveis.

- Eram burgueses?

- Não! Nobres! Tinham muitas posses e muito dinheiro, não saberia mensurar para você o quão ricos eram, mas queriam ser discretos com a sua criança – "Seria essa a família de Salazar?" - Era uma criança muito especial, que exigia cuidados únicos, e me contrataram para isso. O que eu achava estranho era como eles poderiam saber isso se me contrataram antes dele nascer. Mas nunca os questionei, é claro, eu sei o meu lugar como serviçal. Acho que essa é uma das coisas boas dessa divisão que o governo atual fez, cada um sabe exatamente o seu lugar.

- Discordo disso! Eles estão obstacularizando nossas possibilidades, é algo castrativo. Tenho alunos que poderiam fazer muito mais do que só herbologia, mas não podem aprender porque são camponeses.

- Seja bem-vinda ao sistema de vassalagem, viscondessa.

- Então ele contou pra você.

- Era um tanto quanto óbvio na verdade, não tem a postura da plebe. Mas é doce a forma como nos trata como iguais. Aposto que meu menino não gosta.

- Nem um pouco...

Queria continuar falando, mas o exercício estava me deixando cansada, continuamos mais algumas vezes esticando e flexionando as minhas pernas, comemos e ela me deixou dormir de novo. Estava ficando mais tempo acordada agora, mas continuava dormindo mais do que eu achava que deveria.

Dor!

Fogo!

Dor!

Eu estava pegando fogo de novo!

Não!

Por favor, não!

O meu desespero aumentara quando consegui distinguir quem eram os meus carrascos da vez, meus amigos, eu conhecia todos que estavam ali, e eles estavam me queimando. Comecei a chorar, não por medo ou dor, mas pela traição. Que grande mal eu os fizera para que se voltassem contra mim?

Eles me menosprezavam, me ignoravam, como se não me conhecessem, tal indiferença estava me matando de forma muito mais intensa e rápida que o fogo.

Gritei!

Gritei!

Gritei!

Forcei meu corpo para frente, para sair dali, mas não fui forte o bastante; então, tentei usar magia mesmo sem a varinha, foquei em algo que pudesse vir até mim e me tirar dali por conta do impacto, mas nada que pudesse ajudar veio. E pela primeira vez ouvi alguém falar, mas não tinha certeza se a fala era para mim, nem sabia quem o dissera...

- Ajude-me aqui, por favor!

O fogo subia, cada vez mais alto e forte, a dor era insuportável, não sabia como ainda estava acordada, mas eles estavam indo embora, cansaram de me ver sofrer, estavam me abandonando definitivamente. Usei minhas últimas forças para tentar sair dali de novo, impulsionei todo o meu corpo pra frente e tombei...

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