🌻 OITAVO 🌻

2.3K 405 191
                                    

Eu não sabia o que fazer.

Aperto minhas mãos vermelhas uma contra a outra enquanto cruzo minhas pernas encima do banco de madeira em que estou sentado. A coluna ereta e os olhos focados em tudo que não fosse a pessoa ao meu lado denunciam o quão nervoso e perdido estou a qualquer um que passasse por nós. Seria uma cena engraçada se o momento fosse outro.

Mas Jungkook está chorando como uma criança que perdeu-se da mãe no supermercado, com as mãos a todo tempo tentando enxugar as lágrimas que não param de descer por suas bochechas coradas. O garoto sente uma tristeza absurda, mesmo que quisesse se acalmar e parar de chorar simplesmente não conseguia. A mente embriagada só sabia reagir a tudo com tristeza e ele nem parece o mesmo palhaço dançando alguma música latina que tentava miseravelmente imitar há duas horas atrás.

E a tristeza dele acabou me consumindo também.

Suspiro, sentindo-me desconfortável. Ver Jeon chorando é péssimo, ainda mais quando ele está bêbado de forma deplorável. Nem sequer lembro de quantos copos ele tomou... Quero bater em mim mesmo quando penso que deveria ter medido a quantidade de bebida que ele tomaria.

Jungkook funga de cinco em cinco minutos, parecendo diminuir o choro. Só assim tomo fôlego para falar algo. — Você já se sente melhor? — pergunto sem olhá-lo.

Jungkook encara a areia em seus pés, nem se importando de saber onde está um dos pares de seu sapato. Ele nega com a cabeça, limpando a mão melecada na calça. Faço uma careta enojada ao ver mas não falo ou faço nada, afinal, ele só está bêbado.

— Eu nunca me sinto melhor, hyung — me confessa numa lerdeza absurda.

— Mas eu digo agora. — Viro para o menino, me entristecendo mais ainda quando reparo sua coluna curvada e o cabelo todo desgrenhado. — Já chorou tanto que nem sei se ainda tem água no seu corpo — zombo em tom de brincadeira e me sinto melhor quando escuto sua risada.

— Eu queria... — Espero ele completar a frase, e isso dura tanto que nem sei mais se iria acontecer. Mas Jungkook volta a falar depois de fungar mais uma vez. — Se não tem água no meu corpo, então eu fico doente e minha mãe terá que cuidar de mim.

— A sua mãe não cuida de você? — fico confuso, sentindo um nó na garganta que engulo com muito pesar.

— Sim, mas só quando eu estou doente, hyung — funga. — Ou quando eu apanho na rua.

Arregalo os olhos e Jungkook levanta a cabeça para me encarar. A forma tristonha que ele fala em meio aos olhos escuros me observando com lágrimas que já começam a aparecer de novo, isso tudo faz eu mesmo lacrimejar também. E eu rio sem humor. Talvez estivesse tão bêbado quanto. As mãos do mais novo agarraram o meu casaco assim que o abraço, ele enterra suas unhas no tecido enquanto tenta se segurar pra não cair com o enorme peso que sente nas costas.

Porque Jungkook poderia parecer não ligar para o que as pessoas sussurravam quando lhe viam na rua, mas ele ligava. E ligava muito. O peso de ser aparentemente o único homossexual em uma escola coreana parecia lhe empurrar para baixo cada vez que era ignorado por um professor no corredor; ou via as pessoas se encolherem quando passavam perto de si, como se ele tivesse uma doença contagiosa; ou quando chegava da escola e via o olhar preocupado de uma mãe que vivia com medo do filho ser machucado por somente ser quem era.

Me sinto um tanto ruim de não dizê-lo que sou como ele. Não que isso aliviasse muita coisa.

Mas eu fui até ele, lhe dizendo que não me importava, não tentando o mudar de forma alguma. E óbvio que ele não era acostumado com aquilo, nem sabia como agir as vezes. Estava constantemente se auto corrigindo quando falava comigo e pensava que talvez eu interpretasse algo de forma errada. É difícil.

GIRASSOL;Onde histórias criam vida. Descubra agora