🌻 SEXTO 🌻

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Eu estou deitado em minha cama encarando o teto branco em silêncio. O braço está por baixo da minha cabeça, já começava a doer e não tinha dúvidas que o peso era por causa das coisas que aconteceram algumas horas antes. A sexta não foi um bom dia, na verdade, desconfiava que provavelmente foi um dos piores dias do mês.

Quando encontrei um Jungkook com olho roxo e machucados que somente depois foram vistos, eu me senti... quebrado. Ver um garoto mais novo que eu naquele estado não era nada legal, ainda mais quando o Jeon recusava-se a comentar sobre o assunto. Mesmo que eu gritasse no calor do momento para saber o motivo, o mais novo só soube abaixar a cabeça enquanto negava.

Eu estava cansado somente por relembrar o momento, suspirando fundo ao que agora deito-me na cama de bruços. Enterro o rosto no travesseiro e não ligo de não conseguir respirar normalmente daquele jeito, querendo apenas calar meus pensamentos.

Não parei de pensar nas razões de Jungkook ter apanhado e ter se metido em briga. Só estava assustado, assustado demais. Cheguei a pensar na possibilidade de Jungkook ter apanhado de alguém na rua. Mais especificamente de alguém da escola que sabia sobre sua sexualidade.

Mas soube guardar a curiosidade absurda só para mim e parar de encher Jeon com perguntas, deixando o menino sozinho pelo resto daquele dia. Não sei dizer se estou chateado por não saber ou chateado por Jungkook não confiar em mim para contar, mas o fato é que estou chateado.

As batidas leves na porta me fazem despertar, fitando a maceta girando sem eu ao menos autorizar. Suspiro fundo e me sento direito na cama, vendo minha irmã mais velha se aproximar lentamente e sentar-se no colchão. Ela é mais baixa que eu mas tinha uma moral gigantesca, chegando a muitas vezes ser a única pessoa em que eu verdadeiramente confiava naquela casa.

Infelizmente não confiável o bastante para contar quem realmente sou mas isso não era algo para pensar agora.

— Passou o dia todo no quarto, aconteceu algo? — ela pergunta suavemente acariciando as minhas costas com as unhas perfeitamente feitas. Ela é encantadora, todo mundo sabe disso.

Os olhos são iguaizinhos aos meus, aliás, um traço que ambos herdamos da mamãe que é tão belíssima quanto a filha. Os lábios são um pouco mais carnudos, os fios são um tom de castanho escuro com um corte de cabelo curto e adorável. As bochechas são cheinhas e a mulher, ao contrário da maioria das coreanas, se orgulha de suas coxas grossas e quadril largo. Essa é uma das coisas que eu mais gosto nela.

— Eu não sei se devo te contar.

— Você pode me contar tudo. Sabe disso.

Ela sorri reconfortante, me fazendo morder os lábios e começar a falar. — Meu amigo, depois de quatro dias completamente sumido, apareceu na escola cheio de hematomas.

— E ele te contou o que aconteceu? — Franze o cenho depois de eu negar com a cabeça. — Vocês são mesmo amigos?

Assinto, mesmo que incerto. — Sim... eu acho que sim.

— Bem, talvez ele só não queira te preocupar — conclui dando de ombros e olhando ao redor. Levanta-se indo até a pilha de roupas limpas e tirando de lá uma cueca, esta que pela careta que ela fez ao aproximar o nariz da peça, está suja. — Você nunca vai aprender?!

Gargalho, deitando-me na cama e abrindo os braços sobre o colchão. Realmente gosto muita da minha irmã, mesmo que quando criança implorasse para ela não estar em casa por causa dos meus amiguinhos idiotas que babavam na menina e esqueciam-se de mim.

— Sério, Yoongi. Você precisa viver, cara — reclama, pegando a cueca e a jogando no cesto de roupa suja.

Vai andando ao redor do quarto enquanto recolhe livros, fones de ouvido e sapatos do chão e os coloca em seus devidos lugares. Ela tem essa mania de limpeza irritante.

— O que isso tem a ver com a cueca suja? — pergunto aos risos, realmente não a levando a sério.

— Tem a ver com o fato de que você está bagunceiro e você não era assim.

— Isso se chama adolescência — replico, fazendo um biquinho. Admitir minha bagunça é demais pra mim. — E você e a mamãe que guardavam minhas coisas! Eu nunca nem tive a oportunidade de ser bagunceiro porque vocês faziam tudo pra mim.

Ela sorri. — Sim e não fazemos mais. O certo era você seguir nossos ensinamentos e não se tornar esse monstro! — gesticula indignada, recolhendo mais algumas coisas do chão. Realmente, meu quarto está uma zona. — Mas essa bagunça tem a ver com o que você está passando, sabia?

Levanto o tronco só para olhar no rosto dela, querendo me certificar que ela não está falando sério. Mas ela está, e eu só sei bufar enquanto volto a deitar na mesma posição que antes.

— Você e esse papo de terapeuta de novo... — sopro ao que ela resmunga algo. — Já te disse que não sou um de seus pacientes, noona.

— Não é papo de terapeuta, seu imbecil — Joga um travesseiro em mim e eu reclamo ao ser atingido. Chaerin se aproxima em seguida, sentando sobre o colchão mais uma vez e ficando frente á frente comigo. Ela adota uma postura — As nossas ações dizem muito sobre o que estamos passando, mais ainda aquelas que fazemos inconscientemente.

Desvio o olhar, mordendo a bochecha interna e respirando fundo. Não quero mesmo iniciar esse papo, ainda mais quando sei que minha irmã me conhece mais que eu mesmo. Não duvidaria de ela adivinhar todos os meus problemas só com algumas palavras trocadas.

Por isso que definitivamente não posso conversar com ela.

— Eu preciso ir, tenho compromisso agora. — digo repentinamente, ela chega a se assustar. Me apresso a vestir um moletom qualquer jogado sobre a mesa do computador e corro para achar meus sapatos.

— Você estava quase dormindo, Yoongi! — Levanta também, mas não chega perto de mim. Chaerin noona cruza os braços, balançando a cabeça em negação. Sabia que eu estou apenas fugindo.

— Pois é! Muito obrigado por me acordar, noona! — exclamei sorrindo forçado. Depois a dou um beijo na testa e, antes de fechar a porta atrás de mim para ir a qualquer lugar que não fosse essa casa, grito para que a minha irmã ouça. — Não me espera acordada. Amo você, Chae!

Já do lado de fora, olho para a calçada e para a rua parcialmente vazia. São nove para as dez da noite então é normal não ter muita gente nas ruas. Considerando que agora Seokjin está muito provavelmente enfurnado numa casa enorme de algum dos jogadores do time, bebendo como um louco e ouvindo gargalhadas altas de quem escuta suas piadinhas idiotas porque estão todos muito bêbado demais pra notar isso, não posso contar com o Kim.

E ao caminhar, pensando que preferia mil vezes estar nessa festa do que andar sem direção na calçada escura, nem imaginaria que no dia seguinte rezaria para que essa noite pudesse ser repetida.

GIRASSOL por gohixtape;

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