Meu encontro com os mestres de Monte Shasta.
Parte 32. O Jardim Sagrado
Descendo a montanha foi a vez de Yulia pedir um tempo. Queria nos mostrar - rapidamente - um lugar que poucos conheciam chamado Jardim Sagrado.
O Jardim ficava no meio do caminho entre Panther Meadows e a cidade de Mount Shasta. O acesso é fácil, por uma transversal à estrada.
Basicamente tratava-se de uma propriedade particular aberta ao público, sem ninguém por perto para cuidar. Não era necessário. O lugar era extremamente bem cuidado. Seus usuários compreendiam as regras implícitas e garantiam que aquele lugar estivesse sempre aberto e bem arrumado.
Um anão desses de jardim dava boas vindas aos visitantes. O primeiro caminho era cercado de flores e levava a uma clareira onde havia uma estátua branca de Nossa Senhora no centro de um canteiro. No seu entorno as pessoas depositavam principalmente objetos católicos como terços e santinhos, mas também deixavam outras lembranças como pedras, cristais flores e, no caso de Yulia havia uma semana, outra uma concha do mar. À volta tinha alguns bancos de praça para se sentar e contemplar o canteiro. Nos cantos perto do banco havia alguns quadros hinduístas e budistas, num absoluto sincretismo.
Em seguida, um pequeno caminho levava ao outro jardim. Este tinha motivos tibetanos. Era cheio de bandeirinhas de tecido e papel penduradas nas árvores, algo que dava um colorido especial ao local. Num dos cantos havia uma caixa de ferramentas cheia de cartões coloridos e canetas para que cada um pudesse escrever a sua mensagem. Parecia que alguém sempre ia até lá para renovar o material. Yulia insistiu que eu escrevesse uma mensagem. Rabisquei algo do tipo paz e amor, nada individual. Ela me fotografou e seguimos para a próxima estação.
Nos deparamos com um poste de madeira com algo escrito, possivelmente também em tibetano.
O jardim seguinte era o labirinto de Saint Germain - aquele mesmo da catedral de Chartres, só que cultivado com arbustos baixinhos. No centro havia outra estátua, um pouco menor, de Nossa Senhora. Passamos direto por esse jardim e fomos ao seguinte, com imagens de budas barrigudos, sapos com moedas e outros avatares. Seguimos em frente até o próximo canteiro, que era em homenagem a São Francisco de Assis. Lá tinha uma estátua do santo e uma outra representando um livro aberto com sua oração conhecida de São Francisco. Yulia a leu em voz alta.
Dave, o andarilho, nos seguia o tempo todo puxando conversa. Mantinha sempre uma atitude respeitosa.
As pessoas com que cruzávamos eram incrivelmente pacíficas e simpáticas. Diziam alô e seguiam seus próprios caminhos.
Voltando, passamos novamente pelo labirinto de Saint Germain. O apresentei a Yulia e Dave, que não o conheciam: fizemos juntos aquele percurso que, por algumas vezes, passava por baixo de uma árvore de carvalho. Recolhi suas sementes e as coloquei as no bolso. O labirinto é interessante pois quando parece que se está chegando ao centro o caminho se afasta de lá e parece que não vai chegar nunca bo destino final. De repente se chega e se tem uma certa sensação de alívio.
Terminando, saímos de lá e voltamos ao carro. Eu precisava seguir viagem o quanto antes.
Deixei os dois na cidade de Mount Shasta e me despedi.
Meio embaraçado Dave, me pediu algum dinheiro para poder tomar um banho, melhorar sua aparência e seguir viagem pedindo carona. Isso foi um desafio ao meu desapego: dei-lhe uma nota e me despedi pegando a estrada para o sul.
A mensagem do Escudo do Norte falava em seres esquisitos e evoluídos. Acho que Yulia, Dave, Michael e Steve se encaixam nesse perfil.
Eram bem mais que simples desapegados da civilização