Meu encontro com os mestres de Monte Shasta.
Parte 16. Feridas
Imaginava que aquilo pudesse acontecer, mas subestimei a sua dimensão.
Não era uma simples viagem. Era muito, muito mais que isso. Era um grande plano. Eram valores que tinham sido postos à prova. Era uma forma estranha de amor, de fé, de esperança. Era uma aposta muito arriscada.
Então fugi. Fui parar na costa da Sicilia, num lugar onde pedras de mármore brilham sob as águas do mar. Fui a Roma ver o Papa, mas não prestei atenção porque a Igreja não se compadece dos dragões mortos a golpes de lança. A Pietà, segurando seu Filho no colo, me passava uma mensagem falando em um desfecho necessário. Estátuas de mármore em igrejas majestosas condenam os extintos dragões às lanças e espadas dos santos guerreiros. As palavras dos sacerdotes ampliam a solidão e a angústia.
Mas igrejas majestosas nas não se comparam a montanhas. As obras dos homens não suplantam as obras de D'us.
Eis que me veio à mente uma imagem: o cipreste solitário de Peeble Beach, Carmel, Califórnia. Uma árvore diferente, isolada, que há 300 anos desafia as pedras e a fúria dos ventos, encarando o oceano com a altivez de um farol. É uma árvore que com sua luz e beleza atrai milharal de pessoas todos os anos.
Da Itália trouxe pedras. Uma dessas pedras veio do fundo do mar de Taormina, Sicilia, aos pés do Monte Etna e de um antigo anfiteatro grego. Preta com veios brancos, tinha uma beleza que de certa forma sintetizava aquela ocasião. Ela deve ter nascido de uma explosão, mas aos poucos se transformou, foi polida, e ali descansava por milhões de anos.
Aquela pequena pedra faria uma longa viagem até seu destino definitivo. Um breve instante em sua longa existência que lhe definiria novos rumos.
A Pedra de Taormina haveria um dia de se encontrar com o Cipreste Solitário.