11. Indisposição para lutar

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DE VOLTA AO SALÃO DO TRONO.

Despertei de repente.

Ele sabe como encontrá-lo! Ele sabe como encontrá-lo! – Foi o que eu gritei quando abri meus olhos, até conseguir perceber que tudo não passou de uma ilusão na minha cabeça, então olhei em volta, assustada. Minhas pernas tremiam, tornando difícil me manter de pé, meu peito arfava e meus olhos estavam melados pela gosma; por conta disto, tudo estava meio borrado à minha frente. Suada e trêmula, eu ainda repeti uma última vez: – Ele sabe como encontrá-lo!

– Acalme-se, Cristine, acalme-se. – Dâna pegou em meus ombros com firmeza e me sacudiu levemente, tentando me convencer da realidade outra vez, e só então percebi que eu não estava mais só. – Não era real, só aconteceu na sua mente. Calma!

Eu a olhei com espanto e repeti em tom de súplica:

– Dâna, por favor, precisamos trazer vovô de volta. Ele pode não estar morto, você entende?

– Cristine, do que você está falando? – ela recuou a cabeça, como se eu tivesse enlouquecido.

Ernet, que também estava ali, se aproximou de nós duas.

– Isso foi apenas um teste, garota. Usamos seiva-do-ladrão em seus olhos e isso te fez ter uma ilusão de que tudo estava sob ataque. Seu único dever era chegar ao salão e você conseguiu. Acabou. O que se passou lá não era real.

– Não, não. Ele estava aqui. – Olhei em volta, cautelosa e assombrada. – Bem ali... – apontei para a coluna, dando dois passos para longe dela.

– Ele quem, Cristine? – Dâna quis saber.

– Não sei seu nome, não perguntei, mas é aquele de quem vocês tanto falam. O inimigo de Penina e do Muro. Vocês sabem quem é.

– Malcon – a voz de Celina afirmou de repente, pois ela estava mais atrás, encostada numa das colunas escuras, de modo que eu sequer a tinha notado ainda. Estava de braços cruzados, como sempre. – Há rumores correndo de que o nome que ele usa é Sombrio ou Conquistador, mas ele se chama Malcon – ela repetiu com asco após a entrada soturna na conversa.

Ouvir aquele nome pela primeira vez depois de saber a quem se referia me deu calafrios. Celina prosseguiu depois da pausa que fizemos:

– Mas você não deveria tê-lo visto, Tine. Não fazia parte do teste, fazia? – ela olhou da irmã para o comandante.

– Não – Ernet confirmou. – Como eu disse, ela só deveria chegar bem até o salão. Acabava aqui.

– Eu estou dizendo – tentei convencê-los –, conversei com ele bem aqui.

– Como ele fez isso? – Ernet perguntou desconfiado, mas não para mim, olhou sério e concentrado para Dâna e Celina. – Está claro que ele entrou na mente dela, mas como?

E Dâna, que estava um pouco encurvada para mim, se pôs ereta e disse:

– Não podemos ter certeza, mas agora sabemos que ele consegue isso também, o que é perigoso e me faz desconfiar de algumas coisas. – Ela alisou a testa, mas não disse mais nada a respeito das tais desconfianças. Depois de pensar um pouco, perguntou: – O que vocês conversaram, Tine?

– Sobre muitas coisas: ele saber que estou em Penina, que vovô tinha me enviado e que, no fim das contas, eu não sou uma ameaça para os planos dele. Ele terminou dizendo que poderia me devolver vovô se eu escolhesse seu lado.

– Acredite, ele não pode. – De onde estava, Celina me garantiu, cheia de indiferença. – É um miserável mentiroso.

– E se puder? – eu retruquei, cheia de esperança. – Ele parecia poderoso e...

Crônicas de Penina - Livro 1 - Os desenhos de Cornélio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora