NOS CÉUS DA MONTANHA DE DULIN.
Horas se passaram e eu não saberia dizer o quanto Tauane estava cansada de voar, até porque nós não havíamos nos falado muito depois que deixamos Mabel e Dinter-Dim naquele bosque, mas eu, sem dúvida nenhuma, estava exausta de ficar pendida nas costas dela por horas a fio, meus braços estavam dormentes, o sono estava insuportável e a ferida tinha voltado a arder no meu braço.
Porém, considerando que o ritmo veloz do voo dela pouco tinha mudado – e se tinha, fora minimamente –, todos esses incômodos pareciam insignificantes, uma vez que realmente compensou aceitar sua ajuda, pois assim que os primeiros raios de sol começaram a incidir no horizonte, amenos e tímidos, e o alvorecer foi pintando a escuridão do céu de um tom amarelado, a silhueta grandiosa da montanha de Dulin se revelou magnífica e ofuscou todas essas coisas. Vê-la à uma distância de dias tinha sido encantador, tanto pela altura de seu pico longínquo quanto pela imponência dela sobre tudo que estava à sua volta em muitos quilômetros, mas de perto a sensação era ainda mais extasiante e de encher os olhos de interesse, simplesmente porque não havia nada maior e nem que preenchesse tanto a visão como ela, mesmo que ainda faltassem alguns quilômetros até chegarmos sob sua sombra, eu não pude deixar de observar tudo isso.
As terras abaixo de nós eram de colinas verdejantes cheias de árvores nos cumes, que tentavam se sobressair subindo e se tornando maiores ao leste, até se juntarem à uma densa floresta de pinheiros, como uma camuflagem verdejante. Àquela altura do nosso voo, o sol já tinha começado a aparecer no ermo longínquo até onde minha vista alcançava, de modo que olhá-lo já era dificultoso. Foi então que começamos a sobrevoar os limites da floresta de pinheiros com clareiras ondulosas espalhadas ao longo de sua extensão e onde, vez ou outra, um casebre humilde, com fumaça saindo da chaminé, surgia e passava sob nós. O vento também mudou; finalmente se tornou mais cálido sobre nossos rostos, alguns pássaros começaram a cantar e a voar em volta; a natureza estava acordando para mais um dia. Então a ondulação das colinas, já bem elevadas em grandes rochedos, foi revelando uma extensa e vasta clareira no meio dos pinheiros, mas esta era diferente das demais; não ficava entre árvores, nem tão pouco era formada pela abertura entre estas. Rodeada de rochas lisas, o centro era ocupado por muitas águas cristalinas que escorriam em fortes correntezas seguindo o percurso do que parecia ser um rio bastante longo. O som das águas borbulhando encheu o ar e ao olhar para mais para a direita percebi que vinham de uma cachoeira que escorria por vários níveis de rochas cobertas de verde rasteiro e cercadas por todos os lados de árvores silvestres. Era uma paisagem admirável, e mesmo com o movimento constante das águas, havia alguns barcos e homens pescando tranquilamente lá em baixo. Vi um deles, minúsculo visto da altura que estávamos, apontar para nós, talvez fascinado, talvez duvidoso.
Enquanto eu ainda admirava tudo isso, Tauane disse com sua voz rouca:
– Vou dar a volta pelo Rio da Montanha para não sobrevoarmos Aileen. Vou direto para os portões das Câmaras.
– Não podemos parar um pouco? – eu perguntei, aproveitando que ela tinha finalmente falado algo depois de muitas horas em silêncio. – Estou com meus braços dormentes.
– Falta pouco, garota, talvez não mais que meia sombra do sol, então aguente. Quando tiver mais perto da floresta, vou ter que ganhar altitude pra cruzarmos a parte mais baixa da montanha. Segure firme.
– Poderíamos parar na floresta – sugeri, insistindo sem querer parecer exigente.
– Não seja tola – Tauane resmungou um pouco arfante, e esse foi seu primeiro sinal de cansaço. – Os Morcegos-Albinos devem estar em algum lugar dessa floresta, espreitando e esperando as ordens. Chegaram pela noite, sem alardes. Não podemos arriscar esbarrar com o bando deles.
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Crônicas de Penina - Livro 1 - Os desenhos de Cornélio (COMPLETO)
FantasyAVENTURA/FANTASIA - O segredo que separa a realidade da imaginação é bem mais sensível do que todos imaginam, e Cornélio, um famoso escritor, tinha esta verdade como lema de sua vida e de suas obras, até seu último suspiro. Depois de sua morte, o a...