31. Conspiração em curso

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NO INTERIOR DAS CÂMARAS.

– Esperem, eu não roubei nada! – gritei isto incansavelmente, logo depois que as estacas subiram do chão à minha volta como uma gaiola mágica. Agarrei-me nelas, desesperada. – Essa espada foi um presente!

– Nós não a demos a ninguém, então não pode ter sido um presente. Você a roubou – Gilimen rosnou de volta, mas embora seu tom fosse grave, vi sua era expressão um tanto presunçosa ao invés de irritada, como se me prender o estivesse agradando. Seu rosto repuxado por uma cicatriz parecia ter sido atingido por algo muito quente, o que o deixava assustador.

Diante das acusações, o pior de tudo era saber que a espada tinha sido mesmo roubada, por Dâna e Celina, não por mim, é claro, mas dizer isso agora não advogaria a meu favor e talvez só piorasse ainda mais as coisas.

Por outro lado, em meio a tudo aquilo, eu estava podendo escolher entre mentir ou falar a verdade novamente, o que significava que o efeito de seja lá o que eles tenham me dado para não mentir estava passando. Rapidamente tentei pensar em algo a meu favor, o que não foi difícil:

– Esperem, pensem bem. Eu tomei o tal elixir que vocês me deram, lembram? – E apontei para a mesa. – Eu não poderia estar mentindo agora, poderia?

Nesse instante, Vangard pareceu repensar minha atitude, pois olhou-me com certa dúvida, embora os demais tivessem permanecido irredutíveis, mas então Gilimen tratou de ser rápido em contra-argumentar:

– O efeito não é duradouro, todos sabemos.

– Então me deixem comer mais e façam as perguntas que quiserem – sugeri, embora isso pudesse complicar mais as coisas.

Vangard pareceu mais inclinado a aceitar, mas Gilimen me olhou como se eu estivesse insultando-o.

– Esta espada pertence ao arsenal da Guilda. Tê-la com você sem nosso conhecimento já é prova suficiente de que não está sendo sincera.

– Mas eu entrei na montanha e fui trazida direto para cá – argumentei. – Não teria como eu ter roubado uma espada.

Contudo, todos eles continuaram a me fitar indiferentes, como sem respostas para me retrucar, mas novamente foi Gilimen que tratou de quebrar o silêncio e enfatizar uma mentira a favor da minha prisão:

– Ela é neta de Cornélio, um Mago. Pode conhecer magias que nos enganariam facilmente.

– Isso é loucura, eu não posso fazer magia nenh... Espera um pouco, eu disse que era estafeta de Cornélio, não neta. Como você...

Levem ela daqui! – Gilimen voltou a gritar, interrompendo-me antes que eu concluísse a interrogação. – O Conselho já decidiu seu destino: permanecerá nas masmorras até que seja achado um devido fim – e dessa vez outros Mestres surgiram da porta principal atrás de mim para me levar.

– Temos certeza de que tal decisão é a mais sensata, Gilimen? – Vangard interveio num tom, como das outras vezes, indiferente e sem se importar, mas seus olhos sobre mim diziam outra coisa, diziam que ele não podia intervir mais que aquilo, mesmo assim ele ergueu uma das mãos e os Mestres esperaram, esperando a resposta do outro.

– Claro que é! Ela ouviu nosso Conselho deliberar sobre si e sobre a guerra e ainda ousou nos trair. Num momento como o que estamos prestes a viver, Vangard, não podemos permitir ninguém desconfiável entre nós.

– Tem razão.

– Concordo.

– Estou de acordo.

– Plenamente correto.

– Bem, então sendo assim – E quando os outros conselheiros disseram todas estas coisas, quase que em uníssono, e os que não expressaram em palavras assentiam positivamente, Gilimen animou-se ainda mais. – Com a concórdia de Dênos, Salu, Zagar e Hitos, junto da minha e de Killion, temos mais da metade deste conselho, portanto, levem-na daqui!

Crônicas de Penina - Livro 1 - Os desenhos de Cornélio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora