17. Um tremor misterioso

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DE VOLTA AO CASTELO-FORTE.

Enquanto nós três caminhávamos pelos corredores caóticos devido aos corpos por serem removidos, ou aos objetos quebrados ou ainda escuros pela falta de tochas, Dâna nos colocou a par de como as coisas tinham prosseguido:

– Depois que vocês dois saíram, Brenner foi contido pelas cordas que selam magia e levado pelos Mestres de Dulin para as celas subterrâneas. Ele usava um colar de Necrom, um artefato muito antigo e abominável, que pertenceu à Ordem dos Rebeldes de outrora. Eram usados por generais subordinados aos Magos que usavam de magias possessivas para possuir exércitos inteiros durante a Guerra dos Magos na Terceira Estação. Os colares foram responsáveis por milhares de mortes e possuem uma magia muito maligna e tão antiga quanto o Muro. Todos nós pensávamos que tivesse sido extinta ao final da guerra, junto com os obstinados que a resgataram, mas pelo visto Malcon têm mexido com coisas muito antigas, muito antigas mesmo, e mais perigosas do que podemos imaginar. Temo pelo que ele ainda mostrará.

Diante de tudo aquilo, confesso que entendi apenas a metade do que Dâna falou; a outra metade eu só pude supor e imaginar, afinal, eu não conhecia nada da história e do passado de Penina, e mesmo que fosse interessante só de ouvir falar, talvez, com tudo que estava acontecendo, eu estivesse participando de uma que também seria contada daquela forma, e que estava se construindo naqueles dias sombrios.

Ela prosseguiu:

– Com os soldados e o rei fora do controle de Malcon, Otiniel e seus Mestres puderam trazer todos de volta, quebrando a maldição e nos assegurando que a magia possessiva foi removida, já que a transformação era só um disfarce, mas o problema agora é o rei. Ele não está acordando.

Pelo Muro! E onde ele está? – Dinter-Dim alarmou-se, pois sua lealdade ao monarca ainda era grande.

– No aposento real. Otiniel está lá com alguns Mestres e Anciões. Já tentaram de tudo.

– Podemos vê-lo? – perguntei.

– É o que estamos indo fazer – ela disse, olhando-me por sobre o ombro e sorrindo meio afetado. – Mas eu não vou entrar – acrescentou. – Sinto que esta noite eu e Otiniel já esgotamos nossa cota de aproximação. Quero evitar mais desconfortos.

Quase que inconscientemente – talvez porque a curiosidade já estivesse chegada no limite do meu subconsciente – eu perguntei num impulso:

– O que houve entre vocês dois no passado, Dâna?

– Vocês dois? – ela ficou sem jeito e repetiu aquilo com num susto. Eu, por outro lado, não sabia porque tinha questionado aquilo alto, mas agora era tarde para voltar atrás.

– É, quer dizer... Não... bem, na verdade... me refiro a você e Otiniel, eu quis dizer. – Entre gaguejos, isso foi tudo o que eu consegui dizer, com vergonha e arrependida.

Dâna guardou silêncio e ficou pensativa. Imaginei que ela estivesse ponderando se aquilo valeria mesmo a pena ser respondido, mas seus olhos sempre vívidos e brilhantes pareciam longe agora, fitando toda a cena outra vez. Depois de alguns minutos, ela sussurrou ainda distante:

– É tão nítido assim que já houve algo entre Otiniel e eu?

– Bem... – Eu fiquei ainda mais sem jeito de confirmar, mas o fiz hesitante: – Parece sim.

Ela deu um suspiro como se risse de si mesma, com os olhos fechados, depois disse:

– Eu ainda não aprendi a disfarçar isso, não é?

Confesso que não entendi de primeira, mas Dinter-Dim cuidou de responder essa por mim:

– Não. Ainda dá pra perceber quando vocês se olham.

Crônicas de Penina - Livro 1 - Os desenhos de Cornélio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora