NO JARDIM DO MURO.
Greg e Mabel estavam completamente envoltos pelos cipós e pelas folhas e isso incluía suas bocas também. Acordados e conscientes, seus olhos bem abertos estavam assustados com tudo que viam em volta, pois se debatiam tentando se livrar das plantas resistentes – e me olhavam pedindo isso.
Depois que balbuciei seus nomes, num misto de espanto e pavor, Ernet perguntou a mim de cenhos crispados:
– Conhece esses dois?
– Claro que conheço! – exclamei, correndo até eles para puxá-los dos cipós, embora fosse inútil, pois eram bem mais fortes do que eu. – São meus amigos! Não são uma ameaça! São só crianças, como eu!
– Nêspera disse que estavam atacando o Muro – o comandante argumentou –, e quem ataca o Muro é sim uma ameaça.
– Eles não estavam atacando nada. Ninguém derruba um Muro com ferramentas de jardinagem, e aposto que eles estavam usando isso. Não são capazes de fazer mal à uma mosca. – E com isso desisti de puxar os cipós. Virei-me para ele e implorei: – Solte-os e vamos ouvi-los, por favor...
O comandante guardou silêncio por alguns segundos, encarando os gêmeos presos, depois Nêspera, e avaliando se deveria ceder, mas depois de muito ponderar, finalmente retrocedeu:
– Tudo bem. Pode soltá-los.
O Nurezim abriu novamente a mão livre e outra vez as folhas envoltas num brilho prateado voaram e fizeram os cipós recuarem, soltando os gêmeos em solo firme. Ambos caíram no chão desengonçadamente, mas não os deixei sequer respirarem ou fazerem mais nada: corri para abraçá-los, agarrando os pescoços dos dois com meus braços. Ali entre suas cabeças, suspirei aliviada como nunca tinha suspirando antes. Foi extremamente reconfortante sentir o aconchego tão familiar que os dois me passavam – sem falar que eles ainda tinham o cheiro do bosque do lado de lá, o cheio da madeira que os cupins estavam destruindo aos poucos e aquilo me fez lembrar de casa, da escola e me fez remoer de saudades por todos.
– Ah, meu Deus, como é bom ver vocês! – eu suspirei entre seus ouvidos e eles também me agarraram com força. Ficamos ali por quase um minuto, sem dizer nada, apenas sentindo a saudade ser saciada por um breve momento.
Depois que nos soltamos, Mabel foi a primeira a dizer:
– Tine, o que está acontecendo?
– Como você veio parar aqui? – Greg inquiriu logo atrás.
– E que lugar é esse? – Os dois encerraram juntos.
Eu sorri por vê-los sincronizados outra vez bem ali na minha frente, tão parecidos como sempre foram.
– Eu que pergunto. Como vocês acharam o Muro?
– Fizeram uma vigília pelo bosque, para te procurar – Greg contou e Mabel completou logo em seguida:
– O pessoal achava que você pudesse ter ficado presa nas árvores que andam caindo por lá, por conta da praga de cupins, lembra?
– É – Greg continuou. – Mas eu e Mabel fomos mais longe do que deveríamos e encontramos esse Muro entre as copas das árvores.
Mabel, então, olhou para Ernet.
– Não estávamos tentando derrubá-lo, senhor. Pensávamos que Tine pudesse estar além dele, não foi, Greg?
– Sim, e como não sabemos escalar – ele acrescentou, embora eu soubesse que ele, e somente ele, não gostava de altura –, achamos que abrir uma passagem fosse mais sensato.
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Crônicas de Penina - Livro 1 - Os desenhos de Cornélio (COMPLETO)
FantasyAVENTURA/FANTASIA - O segredo que separa a realidade da imaginação é bem mais sensível do que todos imaginam, e Cornélio, um famoso escritor, tinha esta verdade como lema de sua vida e de suas obras, até seu último suspiro. Depois de sua morte, o a...