A OESTE DA FLORESTA DE DULIN.
– Fiquem longe de nós! – eu gritei para eles, intimidadoramente, com a espada apontada diante de mim. Embora eu tremesse como um pouco, estava mesmo disposta a resistir.
Eles pararam a investida quase que no mesmo instante e ficaram me olhando como que duvidosos. Não era como se tivessem acatado minha ordem, mas como se estivessem surpresos com minha rispidez. Pude, então, observá-los nesse intervalo e vi que eram cinco. O que segurava Dingow nos braços era feito de areia, seco e rachado, mas os outros eram todos de pedras, rochas brutas cobertas de musgos ou cascalhos sedimentados, todos com quatro ou talvez mais metros e de aspectos assustadoramente brutais. Tinham os rostos deformados, sem muita simetria, e quase impossíveis de identificar alguma coisa além dos olhos, que por sinal, brilhavam num dourado cor de ouro, como se dentro das pedras houvesse uma forte fonte de luz.
Diante do silêncio que se fez, e da imobilidade dos monstros, eu tentei chamar o conselheiro por sobre meu ombro, aos sussurros, sem desviar os olhos deles, é claro.
– Senhor Vangard... Senhor... Ainda consegue falar? Por favor, me responda o que são essas coisas...
Mas Vangard mal conseguia falar. Ainda estava grogue e vagava entre o consciente e o inconsciente, talvez no limite de suas forças devido a ferida. Mesmo assim, tudo que ele conseguiu balbuciar foi:
– Go... Go... lem...
E depois disto, apagou.
Obviamente eu não entendi nada; pelo contrário, fiquei ainda mais preocupada, pois Vangard precisava de ajuda, já tinha perdido muito sangue e não conseguiríamos isso encurralados ali por aqueles monstros. Depois que o conselheiro desmaiou, a criatura que segurava Dingow se virou lentamente e saiu por entre as árvores, sem nenhuma cerimônia e à passos fatigados. O grifo, em seus braços, permaneceu quieto, sem sequer relutar. Já os demais continuaram me fitando.
– Pra onde estão o levando? Devolvam meu grifo! Não podem... – exigi meio vacilante, olhando de soslaio para cada um.
Porém, o que recebi como resposta foram grunhidos graves em sílabas impossíveis de entender. Eles pareciam me compreender, contudo eram incapazes de serem entendidos. Um deles até articulou com a mão para o outro enquanto se comunicavam, mas até mesmo isso parecia sem sentido. Deduzi que provavelmente eles estivessem argumentando entre si, ou talvez para mim, sobre o porquê estavam fazendo aquilo. De qualquer forma, todos eles ainda pareciam irritados, mal-humorados ou cansados.
– Eu preciso de ajuda – falei, apontando para Vangard, pois àquela altura eu estava realmente disposta a esperar que eles não fossem uma ameaça, embora a dúvida me consumisse. – Esse senhor aqui está muito ferido. Se não podem nos ajudar, por favor, nos deixem em paz. Tragam o grifo de volta e tudo vai ficar...
Contudo, antes que eu terminasse de falar, uma pedra pequena voou da direção de algum deles, vinda do meu lado direito, e atingiu a lâmina da espada de Yllen nas minhas mãos com precisão. A surpresa e o reflexo me fizeram querer virar e reagir, mas o impacto súbito do cascalho foi forte e me levou a largar a arma, que caiu longe demais para que eu pudesse pegá-la novamente a tempo. Isso foi o suficiente para que um dos monstros investisse e me agarrasse com ímpeto; seus passos pesados fizeram as folhas no chão tremerem; as pedras do seu corpo rangeram umas nas outras como num desmoronamento, o que fez parecer que uma avalanche me cobria. Eu gritei e tentei correr, mas foi inútil. As pedras grosseiras me envolveram e me prenderam com uma firmeza que até mesmo eu achei difícil conseguir se livrar daqueles símiles de braços. Diante disso, os demais sentiram-se livres para se aproximarem também. Um deles pegou a espada de Yllen no chão e a trouxe consigo; um segundo se inclinou perto de mim e pareceu pedir silêncio, colocando a mão na frente da própria boca. Um terceiro pegou Vangard, com certo cuidado, e o ergueu, vindo logo atrás.
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Crônicas de Penina - Livro 1 - Os desenhos de Cornélio (COMPLETO)
FantasyAVENTURA/FANTASIA - O segredo que separa a realidade da imaginação é bem mais sensível do que todos imaginam, e Cornélio, um famoso escritor, tinha esta verdade como lema de sua vida e de suas obras, até seu último suspiro. Depois de sua morte, o a...