29. A revoada de Morcegos-Albinos

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A LESTE DAS MONTANHAS-DO-MEIO.

Não tínhamos outra opção senão essa: voaríamos até o dia amanhecer, se possível, para ganharmos tempo. Óbvio que ainda cogitamos outras possibilidade menos cansativas para Dingow, mas não havia e, portanto, pela primeira vez nós três voamos por um longo tempo sem fazer paradas e durante quase toda a madrugada – aquela, em especial, estava tão fria que todos os campos de pradaria abaixo de nós cobriam-se de uma névoa densa, deixando a visão dali de cima com um aspecto bastante sombrio. Era um verdadeiro tapete branco, seguindo quilômetros e deixando à amostra apenas as árvores altas e alguns pinheiros ao norte saindo do meio dela como torres em busca de ar, e até mesmo as pequenas colinas e elevações típicos daquele terreno estavam cobertas.

Mesmo assim, não demoramos para perceber que voar por horas a fio não seria tão possível assim, pois muitos quilômetros depois de havermos deixado as Montanhas-do-meio, Dingow começou a mostrar sinais de cansaço, o que não foi nenhuma surpresa visto que estávamos voando mais rápido do que de costume e ele não tinha comido nada desde que havíamos saímos da caverna.

Sendo assim, a opção era parar e acampar ao relento.

Procuramos um ponto da névoa em que fosse possível ver o solo, o que foi difícil, mas depois de voarmos mais rasteiros, achamos um próximo de alguns pinheiros novos e junto de algumas pedras onde o chão era forrado de grama fofa e poderíamos tranquilamente fazer uma fogueira ali. Os pinheiros formavam a orla de um pequeno bosque, então pousamos junto dele e o bater das asas de Dingow dispersou a névoa ainda mais. Quando descemos, percebemos o quão silencioso tudo estava em volta. Praticamente nada parecia se mover na escuridão. A luz da lua e das estrelas era tudo que tínhamos, junto do som dos grilos e talvez dos olhos brilhosos de algumas corujas nas copas dos pinheiros a nos observar. Fora isso, só havia nós no meio daquela névoa que cobria até metade de nossas pernas.

– Vocês acham seguro acamparmos aqui? – Mabel perguntou, baixinho e temerosa.

– Depois que fizermos o fogo, os bichos não encostam – Dinter-Dim assegurou.

– Eu sei, mas se Catterick não tiver matado o Flagelo que restou? Está escuro aqui e ele pode ter nos seguido.

– Teremos fogo e a nova espada de Tine contra ele. Confie em mim, Mabel, aqui está ótimo – o bobo voltou a argumentar e então tomou a frente de nós para ir até os pinheiros, atrás de matos secos, gravetos e troncos que pudessem servir de lenha.

– Pegue, Mabel, segure o grifo – entreguei as rédeas de Dingow para ela. – Vou atrás dele.

Ela atendeu e eu corri entre os pinheiros a fim de seguir o bobo. Os sininhos dele, sacudindo entre os troncos, me fizeram achá-lo na escuridão, e a cada dois passos ele abaixava-se para apanhar um tronco ou graveto. Percebendo que seus braços já estavam bem cheios, eu também comecei a fazer o mesmo. Os pinheiros em volta cresciam à uma pequena distância um do outro, mas havia um ou dois que se distanciavam e, da distância deles, a luz do luar incidia para dentro do breu.

– Dingow vai precisar comer alguma coisa – eu comentei, depois de uma pausa, a fim de não ficarmos em silêncio o tempo todo.

– Tem esquilos nesses pinheiros e cobras rastejando pela grama, ele vai ficar bem – ele me respondeu depois de apanhar o último graveto que seus bracinhos eram capazes de carregar. – Vamos partir pela manhã bem cedo, certo?

– Certo – eu disse. – Mas... Por que você está assim? Quer dizer, parece chateado.

Ele meneou a cabeça, como se não valesse a pena responder ou como se fosse algo insignificante falar de sentimentos.

Crônicas de Penina - Livro 1 - Os desenhos de Cornélio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora