15. Coragem na batalha

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NA TORRE DE OBSERVAÇÃO.

Ficamos paralisados diante de Brenner, eu e Dinter-Dim, trocando olhares com medidas diferentes de espanto.

O Bobo, sem dúvida, estava mais surpreso do que eu. Pessoas comuns, e de mais idade, talvez diriam, num momento como aquele, algo como: "Eu não disse? Esse tipo de sujeitinho tatuado sempre se envolve nessas coisas!", mas tudo que consegui pronunciar, erguendo minhas sobrancelhas, foi:

– Talvez ele também esteja sendo controlado, não acha?

Sem muita reação, Dinter-Dim permaneceu quieto e só conseguiu balbuciar:

– Estávamos mesmo errados... aquele soldado não era o espião... o verdadeiro espião era um traidor consciente.

– Como tem tanta certeza? – insisti.

– Porque pra qualquer um evocar magia, é preciso estar com a própria consciência, Tine, principalmente os Mestres, que não podem evocá-la de si mesmos. Sem falar que possessão nenhuma é capaz de forçar ninguém a executar magia, nem muito menos usar a magia de outro, porque isso faz parte da mente, que precisa estar sã e consciente, ainda mais sendo uma magia tão poderosa como essa. – Ele fez uma pausa. – É como Dâna supôs, lembra? Ele está funcionado apenas como um vínculo entre Malcon e o exército amaldiçoado, é como uma torre de passagem pra que ele não precise estar perto para controlá-los.

– Então Brenner queria trair todos? – conclui e tudo que Dinter-Dim fez foi menear a cabeça em círculo, o que eu não entendi muito bem: ele estava concordando ou discordando? Acrescentou confuso:

– Precisamos chamar os outro porque eu acho que...

Entretanto sua voz morreu sem que ele conseguisse terminar a frase. Em silêncio, recolocou seu chapeuzinho e seus sapatinhos e deu uma olhada em volta, mas ali era vazio de móveis ou qualquer outra coisa, era apenas o saguão antes da escadaria em caracol que subia a torre.

– A luta deve ter parado – sugeri depois de uma pausa, já que Brenner seria a fonte de passagem do controle. – Logo, logo eles vão aparecer.

– Não. Não vão não – ele discordou. – Foi muito fácil...

Então houve outro silêncio entre nós e tudo que o bobo fez foi fitar o rosto tatuado de Brenner e o colar grande que ele usava e que, mesmo debaixo da camada de gelo, ainda brilhava num vermelho intenso. Vê-lo preso por todo aquele gelo, que se abria como se jorrasse do chão em fortes trombas d'água, deveria deixá-lo menos assustador, eu sabia, mas eu realmente não conseguia simpatizar com sua fisionomia macabra, ele ainda parecia ameaçador.

Naquele instante, pensei em sugerir que saíssemos dali e fôssemos chamar os outros, mas nem bem tomei fôlego e tão de repente como tinha sido a explosão, o Conselheiro acordou com um suspiro profundo e um urro de ira.

Dei um pulo de susto porque seus olhos se abriram desesperadoramente e, não só isso, mas possuíam um brilho vermelho como se houvesse fogo dentro deles. Eu e Dinter-Dim nos afastamos e então ele abriu a boca e começou a gritar muito alto, sacudindo-se na tentativa de se soltar – por sorte a camada do gelo era resistente, o que nos permitiu assistir àquilo arrepiados, principalmente porque seu grito era grave como se ecoasse com mais de uma voz.

– Temos que avisar aos outros, Dinter-Dim – eu balbuciei, imaginando que sozinhos não poderíamos conter ele por muito tempo. – Temos que avisá-los!

Entretanto, naquele instante, o gritou de Brenner se tornou palavras nítidas de perjúrios:

Escória de tolos! AH! Escória de tolos! Estão iludidos, todos vocês estão iludidos! Malditos são todos os que dão a vida pelo Muro, pois quando ele cair, todos cairão com ele! Haveria clemência se houvessem se rendido, mas agora ele vai dizimar todos... ele é poderoso... poderoso e ainda vai ser conhecido por muitos nomes...

Crônicas de Penina - Livro 1 - Os desenhos de Cornélio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora