Epílogo

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ENQUANTO ISSO, NA CIDADE-FORTE...

As paredes e os corredores do Castelo-Forte estavam mergulhados num silêncio moribundo. Pareciam abandonados. Algumas tochas nem sequer tinham sido apagadas depois da noite que passou – noite difícil. Não havia ninguém ocupando as saídas ou portais. Por algum motivo todos tinham se retirado e, através das torres altas e dos salões vazios, nada além do vento sem movia e assobiava solitário.

Mas então, de repente, uma das portas na parte inferior da ala oeste foi escancarada com toda violência e quatro pessoas saíram correndo por ela com grande assombro e dificuldade. O barulho da batida foi ressoante em meio ao silêncio em volta; reverberou mais alto que o normal e com mais urgência também. O primeiro deles, o jovem Mago Elcana, era o mais apressado e conduzia os demais como se já conhecesse muito bem o castelo, segurando o braço esquerdo que ele havia quebrado e fazendo caretas de dores. Ele pretendia ficar de cara com o problema que havia o levado até ali o quanto antes.

Logo atrás, o bobo-da-corte mancava um pouco e fazia careta enquanto agarrava o próprio peito, como se sofresse com dores naquela região, e, do lado deste, a garota Mabel ajudava um Vangard agora bem mais debilitado a se manter de pé e acompanhar o ritmo dos passos largos do Mago.

Eu não estou acreditando que ela fez isso! – Dinter-Dim exclamou, mesmo com dificuldade por conta da dor, referindo-se à sua ama. – Ela não vai sobreviver sozinha! Por todos os Magos! Por que você não fez nada?

Eu não pude! – Elcana se explicou outra vez, pois parecia já tê-lo feito antes. – Ela me empurrou de repente e não veio.

– Meu Deus, se o que você contou for verdade... Quer dizer, um dragão do lado de Malcon, então... Tine tem alguma chance? – Mabel estava com os olhos marejados, cheia de horror.

– Eu não sei. Por alguma razão as Chaves-Magnas perderam a conexão – o Mago disse novamente –, então se a Estafeta escapar, terá que se virar sozinha. Nosso foco agora é salvar o Muro da Realidade, não temos como voltar para salvá-la, nem como ela vir até nós, pelo menos não tão rápido.

E por fim, esta parecia ser a sentença com a qual eles deveriam se conformar, pois o tom do Mago era definitivo. Nenhum deles parecia aceitar que perder a garota Cristine fosse justo, era absurdo, por isso seus rostos misturavam entre a preocupação e a angústia. Mesmo assim, eles se calaram, cada um dividindo-se entre seus próprios dilemas.

Eles eram os únicos a se moverem pelos corredores nos quais passavam, suas vozes eram as únicas a ecoarem pelas paredes e vãos e por isso pareciam mais urgentes e debilitadas, como se precisassem de ajuda no lugar errado.

– Onde estão as pessoas desse castelo? – Elcana quis saber, com certa impaciência enquanto ia à frente sem olhar para trás. Sua roupa rasgada e suja sacudia com seu manquejar.

– Eu não sei, as coisas aqui podem ter mudado – Dinter-Dim respondeu, tentando acompanhá-lo, mas agora suas bochechas estavam molhadas de lágrimas pela ama.

– V-vamos para o salão d-do rei, é mais sensato – Vangard sugeriu com certa dificuldade por conta da ferida. A pobre Mabel, por outro lado, ajudava-a a se sustentar com muita peleja sobre seus bracinhos finos.

E assim sendo, os quatro dobraram num corredor largo de curva longa e portais com colunas grossas que dava visão para a ala mais inferior do castelo, muito embora aqueles ainda fossem os corredores subalternos da ala oeste. Se ele pretendia chegar ao salão do trono, deveriam caminhar para leste até acharem acesso para os corredores superiores, o que fizeram sem o menor problema e sem alterar o ritmo das passadas imprecisas.

Crônicas de Penina - Livro 1 - Os desenhos de Cornélio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora