35. O plano do Mago

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NA CAVERNA SOB A COLINA.

Diante do meu espanto, paralisei ao ver a idade de Elcana. Ele me encarou confuso e retrucou com um dar de ombros:

– O que é? Vai me dizer que esperava um homem idoso? Ou ainda um guerreiro forte?

Não! – exclamei, inconformada, embora fosse verdade. – Quer dizer... Não acredito que estive atrás de uma criança!

– Não sou uma criança, vou fazer dezessete – ele disse, sério, e depois nos apontou. – Vocês duas são.

– Como é... – E até pensei em retrucar, mas eu suspirei e me contive. Pisquei e me acalmei, mantendo a postura. Olhei-o mais uma vez, de cima a baixo, e vi que estava usando uma capa marrom sobre a túnica amarelada e de mangas longas. Preso à cintura havia um cinto com uma bolsa pequena e uma espada. – Espera, deixa-me ver se entendi. Quer dizer que esse tempo todo – olhei para Mabel – nosso destino estava nas mãos dele?

– Não, nem vem – ele me interrompeu, com o indicador erguido. – Até agora o destino de todos estava nas suas mãos, Cristine – e ele disse meu nome com certo desdém. – Pelo que sua amiga contou, você que tinha que me encontrar.

– Sim, mas... Arc! – funguei.

Aquela surpresa definitivamente não estava me deixando a vontade.

– Por que ninguém me avisou disso? – Olhei para Mabel.

Elcana desdenhou:

– O título "o Jovem" não te sugeriu nada?

– Sim, quer dizer, não, mas pensei que os Magos deveriam ser pessoas experientes e sábias e...

– E que passam pela infância e juventude antes de chegar à velhice – ele me interrompeu. – Ou achou que todos já nasciam velhos e enrugados?

– Não, é só...

Então pare de duvidar! – exigiu, e depois de uma pausa pensou e acrescentou: – Você devia agradecer pela minha idade, porque eu não teria conseguido escapar de Malcon com barba e bengala. Os outros Magos todos eram exatamente como você esperava, e talvez se eu também o fosse, não estaria aqui.

Fiquei em silêncio diante dessa verdade. Todos ficamos, pois lembrar que Elcana era o único e último Mago vivo ainda era algo bastante pragmático. Então, sem ter muito mais o que dizer, olhei em volta e depois de uma pausa perguntei:

– Estes Golens são seus druidas?

Nesse momento ele hesitou, e sua boca até semiabriu-se para me responder, mas as palavras pareceram pesar. Ele fitou o nada à frente, pensativo e explicou:

– Não. Os Golens nunca vão substituí-lo, são apenas empregados. Gaio era o nome do meu druida, mas está morto. Malcon o matou quando fugi... ou melhor, ele o matou pensando que era eu. Foi uma noite horrível, a pior de todas que eu já vinha tendo.

Meio sem jeito e condoída pela perda dele, pois ainda era visivelmente dolorosa, eu ainda perguntei:

– Sabe, você podia nos contar o que houve. Digo, todos sabemos que você fugiu, mas tudo ainda é um mistério. Há muitos que duvidam disso, que acham que você morreu.

Ele me encarou, meio dividido, e só assim, mais calmo, pude perceber que Elcana era um jovem bem mais bonito do que reparei a princípio. Tinha sobrancelhas grossas e olhos claros. Cabelos loiros que vinham para a frente sobre seus bem cerrados.

Mesmo interrompendo seja lá o que fosse fazer com Vangard, ele desviou os olhos de mim e contou, antes de prosseguir:

– Eu e Gaio estávamos indo à Varréia, atender ao pedido dos regentes de lá, mas a caminho eu descobri que Malcon estava juntando magia negra na fortaleza do Horto, ao norte daqui. Existem ruínas lá do antigo covil de uma Maga rebelde, um lugar propício para o que ele estava fazendo, então de alguma forma ele se tornou poderoso ali e juntou como servos criaturas corrompidas.

Crônicas de Penina - Livro 1 - Os desenhos de Cornélio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora