Momento de Paz

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Na saída do salão, um segurança grandalhão me olha de cima a baixo, porém me deixa passar sem protestos.

Encontro Ciro de pé no corredor que de fato se encontra deserto, com as mãos no bolso e lendo um quadro de avisos do SBT. Caminho até o lado dele, que não se move.

- Será que alguém lê isso? - O homem me pergunta, sorrindo.

- Você tá lendo agora, né? Todo mundo que trabalha aqui provavelmente tem tempo de sobra pra perder lendo isso.

- Esse é um bom ponto. - Ele se vira para mim, surpreendentemente perto. - Você não está se sentindo meio adolescente agora, fazendo coisas erradas escondido?

- Um pouco, mas logo passa, já que adolescentes não costumam concorrer em uma eleição presidencial.

- Isso é verdade, felizmente.

Ficamos um segundo sorrindo um para o outro e olhamos em volta ao mesmo tempo só para garantir, como já se tornou um hábito involuntário.

Logo depois, ele segura minha nuca e toca meus lábios com os dele.

E sinto que vou derreter.

Minha primeira reação é me agarrar à gola de seu paletó e puxá-lo contra mim. Ele se agita um pouco e desce a mão que estava em minha nuca por minhas costas, o que me faz arrepiar inteiro. Aprofundo o beijo, tentando minimizar ainda mais o espaço entre nós, e recebo uma reação positiva: Ciro me empurra levemente para que eu encoste no quadro que estávamos olhando há meros segundos.

Com pressa, abro os botões de seu paletó e deslizo minhas mãos até suas costas por baixo deste. Sinto sua mão no limite da minha cintura, brincando com o cós de minha calça, e tenho que me esforçar para segurar um suspiro.

Separamos o beijo no susto quando eu encosto com o pé em um vaso de planta que por algum motivo faz um barulho alto.

Olhamos em volta rapidamente e logo começamos a rir.

- Sinceramente, Guilherme, você é mesmo um despudorado; estamos no meio de um corredor. - Ele diz, alinhando o terno com um sorriso travesso no rosto.

- Hein? Você que me agarrou, seu tarado!

- E você adorou. Nem preciso dar detalhes.

- Aí já é outra história, Ciro, convenhamos. - Também tenho que arrumar as mangas da minha camisa, levemente amassadas pela movimentação súbita.

- Eu não te culpo, pois também não resistiria a mim se fosse você.

- Seu ego inflado faz um par muito eficiente com seu raciocínio rápido, sabia?

- Sabia.

Será que é possível não estar constantemente sorrindo ao lado dele? Acho difícil.

Resolvemos entrar no meu camarim para descansar por alguns minutos, já que eu e ele passamos um bom tempo de pé.

Depois de explorar um pouco o camarim conversando sobre o debate, nos damos por vencidos e nos atiramos em um sofá de cor desnecessariamente vibrante.

- Deveríamos trancar a porta? - pergunto.

- Provavelmente não, já que vai ser bem estranho dois candidatos à presidência trancados em um camarim do SBT.

Aceno em concordância. Ficamos sentados lado a lado, de mãos dadas, em um gesto simples que implica uma intimidade que eu fico feliz em ter. Ele olha para nossas mãos juntas por poucos segundos e deixa um pequeno beijo em minha mão. Há mais de um mês, quando começamos com... isso, percebi que Ciro é muito carinhoso e adora contato físico. Felizmente para ele, sou quase o mesmo. Infelizmente para nós, temos poucas chances de ficarmos a sós e aproveitarmos momentos como esse.

Portanto, não podemos ficar muito tempo aqui. É perigoso demais e já estamos testando a sorte; a qualquer momento alguém pode aparecer.

Me sinto desconfortável tendo que esconder um relacionamento de todas as pessoas, mas é uma informação perigosa demais. Nunca falamos sobre isso, não há necessidade de muita reflexão para perceber que qualquer informação vazada poderia afetar nossas campanhas de forma irreversível. Mesmo um conhecimento minúsculo nas mãos erradas pode ser manipulado da pior forma, e isso definitivamente não é uma coisa que queremos.

Ao mesmo tempo em que me sinto um pouco mal com isso, não sei muito bem como abordar Ciro sobre o que Haddad disse para mim depois do debate. É meio patético, mas resolvo deixar de lado por enquanto. Quem sabe o assunto surge alguma hora?

Garoto Promissor (Ciro x Boulos)Onde histórias criam vida. Descubra agora