BÔNUS: O Cordeiro em Pele de Lobo

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POV Haddad

Tudo que eu queria era um pouco de silêncio, mas pelo visto não vai acontecer.

- A mídia golpista não tem limites mesmo. Essa perseguição é inacreditável!

Já ouvi Gleisi falar isso tantas vezes nos últimos minutos que nem consigo mais sentir raiva da tal mídia golpista.

- Eles sabem que silenciar é o caminho mais seguro. Qual a novidade? - Manuela, impaciente, também não se conforma com algo que não vai mudar.

- E eles ainda querem insinuar que nós somos os censuradores!

É presidente de partido, vice, assessoria... Tudo no mesmo lugar. Será que pedir um pouquinho de paz é demais?

- Gente, por favor. - Suplico, já cansado - É, hoje não foi um dia bom, mas isso não vai resolver muita coisa. Estou ficando com dor de cabeça.

Isso só piora a situação e faz com que praticamente todos os presentes se empilhem em volta de mim. A massa de assessores e marqueteiros fica agitada.

- Você tá bem, Haddad? Quer alguma coisa? Alguém pega uma dipirona pra ele!

- Eu tô bem, só quero um pouco de silêncio. Posso ficar sozinho por um momento?

- Estão ouvindo? Pra fora, todo mundo! - Não duvido das intenções boas da Gleisi mas às vezes ela é um pouco demais.

Como ultimamente tenho que estar quase constantemente escoltado por presidente de partido e vice (assim como a maioria dos presidenciáveis), elas permanecem no local. Mesmo assim, é um pouco mais fácil de respirar. Bagunça demais nunca foi o meu forte.

- Fê, se não estiver em condições a gente pode te levar pra casa. - Manuela senta ao meu lado e coloca a mão nas minhas costas.

- Não precisa, Manu. Não quero que ninguém interprete como algum tipo de fuga; seria só mais uma pá de terra em cima da gente. Estou em plenas condições de ficar mais um pouco.

- Você quer que eu chame a Ana Estela? Mesmo que ela não possa acessar esse espaço, eu digo que você realmente precisa dela.

- Sim, por favor. Se barrarem vocês, eu estarei no salão de eventos.

- Tudo bem. Aguenta firme, tá? - Ela afaga meu cabelo - Vem, Gleisi, vamos deixar ele em paz.

- Força, amigo. Vai valer a pena. - Gleisi aperta levemente meu ombro e me lança um sorrisinho antes de ir.

Assim que elas também saem, desabo no sofá. Hoje está sendo um dos dias mais exaustivos da campanha. Viagens o dia todo, um debate que não correu tão bem pra mim agora à noite e pra terminar o pequeno show que o Ciro armou no meu camarim há pouco tempo.

Algumas coisas não mudam mesmo. Depois de tantos anos e tantas fases que passamos, o Ciro me parece que não tomou jeito; continua sendo tão bom político quanto cafajeste. A capacidade de convencimento é incrível.

Pensei que ele não me afetava mais de nenhuma forma, mas o jeito que ele trata o Guilherme me trouxe lembranças ruins. Porque eu sei como isso termina. E eu não posso deixar que o Ciro faça isso com ele.

Não com o Guilherme.

Sempre tive uma admiração muito grande por ele. Tão jovem e já é um dos maiores ativistas do país. Não leva desaforo pra casa e não tem medo de falar o que é preciso ser ouvido. Se todo político tivesse metade do senso de funcionamento da sociedade dele, não estaríamos assim.

Além disso, ele é meu amigo. Apesar de não sermos tão próximos assim, gosto muito dele. Isso é normal.

É por isso que eu quero tanto falar com ele agora. Porque somos amigos e eu quero o bem dele. Normal. É por esse motivo, também, que sinto um aperto no peito quando ele responde minhas mensagens dizendo que não está disponível pra falar.

Suspiro, esfregando o rosto pra tentar afastar a dor irritante em minhas têmporas. Um chocolate cairia bem agora. Espero que pelo menos isso tenha no tal coquetel.

Assim que concluo meu pensamento, um produtor bate na porta avisando que já podemos ir para o salão de eventos trocar algumas palavras com jornalistas. Suspiro. Mesmo cansado de entrevistas, não vou desperdiçar a chance de ter um pouco de visibilidade para me defender, já que não me deram isso no debate em si. Quanto mais rápido eu for, mais rápido serei liberado.

Meus músculos doem quando levanto do sofá para recolocar o paletó e sair, mas me forço a continuar. Com toda a minha força de vontade, mantenho uma expressão séria e vou até o salão. Mesmo tendo dispensado a companhia de todos, queria ter alguém do meu lado agora.

Felizmente, descubro por meio de um segurança que apenas jornalistas selecionados podiam entrar no evento e ficariam por apenas cinco minutos. Eles não são invasivos demais e fazem apenas perguntas sobre o debate, o que é bom.

Enquanto dou entrevista, Guilherme adentra o salão, sozinho como eu. Ele vê os jornalistas à minha volta e tenta passar despercebido pelo canto, mas alguns deles seguem o meu olhar e o encontram, prontamente indo atrás dele. Dou um risinho. Provavelmente terei que pedir desculpas depois.

Quando o último jornalista se afasta de mim e passa a tirar fotos do evento e dos outros candidatos, me sinto um pouco mais leve.

Ciro chega ao salão assim que sou liberado para transitar, logo sendo cercado por perguntas também. Procuro Guilherme e o vejo pegando comida na mesa, ainda sozinho. Aproveito para me aproximar.

- Com fome?

Ele olha para mim e sorri. Sorrio também. Creio que o vi sorrir pela primeira vez há poucos dias, mesmo conhecendo ele há anos. Desde então, descobri que gosto de fazê-lo sorrir.

- Nossa, demais. Me sinto até mal por isso, mas sempre acabo esses debates faminto.

- A Manu também. Pra ela, a melhor parte desses debates é a comida.

- Eu entendo! Somos parecidos em várias coisas.

- É verdade.

Conversamos um pouco, mas eventualmente percebo que Guilherme está olhando por cima do meu ombro com frequência. Quando olho para trás, vejo que é porque Ciro está nos observando de longe. Carlos Lupi e Kátia Abreu, que o acompanham, também nos olham e sussurram entre si. Suspiro.

- Eu não passo uma boa imagem. Sabe como são vistos os petistas ultimamente. - Digo.

- É só você não deixar que eles te intimidem.

Me surpreendo um pouco com sua resposta, mas faz sentido. Não se deixar intimidar é a base da ideologia dele. Um risinho escapa de minha boca sem querer. Tenho muito a aprender.

- É melhor eu ir, Guilherme. Não quero te causar problemas.

- Você não causa, mas tudo bem.

Aceno positivamente para ele e me afasto. Olho em volta e vejo Manu com Ana Estela dando entrevistas na entrada do salão. Estando com elas, esse olhar de julgamento não vai me incomodar.

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Boa noite gente rs eis aí um pequeno insight da visão do Haddad do presente (já que o do passado ja conhecemos bem)
Sobre futuros capítulos hot: então gente, nessa fic se tiver provavelmente vai ser bem lá pra frente pq a gente demora muito pra criar esse tipo de cena.
Pra quem pediu ciraddad e n leu a outra fic ainda: temos uma outra fic disso kkkkkk tem até a safadeza q vcs querem
Pra quem já leu a outra fic: amanhã tem cap novo rs

Garoto Promissor (Ciro x Boulos)Onde histórias criam vida. Descubra agora