Rio de Janeiro - RJ
13:12Chegamos atrasados no hotel por termos sido recebidos no aeroporto por uma multidão maior do que a antecipada. É um bom sinal, claro. As coisas estão indo bem nessa reta final.
Me jogo na cama assim que entro na suíte. É bem maior e mais chique do que as que geralmente ficamos, mas estou cansado demais pra me incomodar com isso agora. Além disso, Juliano andando nervosamente pelo quarto me incomoda mais ainda.
- Eles querem que a gente esteja no salão de refeições às 16h. O combinado foi que comparecesse os dois integrantes da chapa e o presidente de partido. Disse que poderíamos levar outra liderança de partido também, mas quem é que eu vou chamar assim em cima da hora?!
- Se 'pode' então significa que não precisa. Qualquer coisa chama o Marcelo; ele deve estar por perto. - Digo. Não entendo direito o porquê de tanto nervosismo.
- Você é um gênio, Guilherme! - Ele corre para a porta e grita para a suíte ao lado: - Alguém liga pro Freixo e diz pra ele vir aqui urgente!
Depois de receber uma resposta positiva, ele volta, secando as mãos na calça. Reviro os olhos.
- Juliano, fica calmo. Um presidente de partido precisa passar segurança.
- Eu não participo de reuniões com o alto escalão de outros partidos, Guilherme. Isso é meio novo pra mim.
- E muito menos eu.
- Mas você é amigo deles, cara.
É, eu certamente me sinto confortável perto do Ciro e da Manuela, mas é só. Carlos Lupi e Kátia Abreu fazem eu me sentir inseguro, Gleisi parece que não vai com a minha cara desde que eu recusei me filiar ao PT e ainda tenho essa situação esquisita com o Fernando. Eu é que deveria estar nervoso.
Antes que eu possa falar mais alguma coisa, há uma aparente discussão na suíte ao lado. Juliano imediatamente vai até lá coordenar a equipe, e fico sozinho. Não por muito tempo, no entanto. Quando estou prestes a mandar uma mensagem chamando a Sônia, ela aparece na porta que Juliano deixou escancarada.
- Toc toc... - Ela diz, já entrando.
- Pode entrar.
- Por que é que o Juliano tá surtando aqui do lado? Nunca vi ele assim.
- Não faço ideia. Acho que a campanha tá mexendo com a cabeça dele.
- Com a de todos nós. - Ela suspira.
Suspiro também. Não tenho tempo nem pra pensar direito nas consequências dessa campanha, mesmo sabendo que esse fato em si é uma delas. Acho que isso está pesando mais do que eu imaginava.
Me afasto para ocupar apenas metade da cama e permitir que Sônia deite ao meu lado. Ela ainda fecha a porta sorrateiramente antes de se aproximar de mim, e eu já sei o que ela vai perguntar a seguir.
- E o Ciro?
- O que tem ele?
- Também vai participar dessa tal reunião, né? Eu vi aquela víbora da Kátia Abreu na escada. Ele já deve ter chegado também.
- É, eu não procurei saber dele. Ele não respondeu minhas mensagens ainda e isso é meio estranho.
Checo meu celular por impulso. As mensagens que eu mandei às 10 da manhã foram recebidas, mas não foram visualizadas ainda.
- Será que ele tá bravo?
- Por que estaria? Eu nem fiz nada.
- Pelo que você fala, ele age estranho quando quer.
- É, ele começou com isso nos últimos dias. Não sei...
Checo mais uma vez. Obviamente não há resposta ainda, já que eu olhei quase agora. Guardo o aparelho de volta no bolso pra evitar de ficar procurando compulsivamente algo que não há.
Juliano entra como um raio no quarto, trazendo uma pilha de coisas.
- Como vocês conseguem ficar deitados aí? Tá tudo uma loucura!
O silêncio paira por alguns segundos. Não ouço nada.
- Não tem coisa alguma acontecendo. - Sônia diz, de olhos fechados.
- Tem sim! Tudo!
Dessa vez, tento prestar atenção aos meus arredores. Continuo sem ouvir nada.
- Olha, Juliano, eu vou ter que concordar com a nossa amiga aqui. Para um pouco, deita aí, toma um gim caro desses que tem na prateleira ou sei lá.
Ele larga todas as coisas que segura em cima de uma mesa qualquer e se permite tomar um pouco de fôlego. Indicamos uma poltrona com aspecto vintage que há a alguns metros da cama, e ele se senta nela.
- Eu preciso relaxar. - Acho que as palavras dele são mais pra si mesmo.
Sônia levanta e vai até ele.
- É, garoto, você tá sempre aperreado com tudo. Deixe estar. Quer saber o que eles querem se reunindo com a gente? Pedir pra pegarmos leve com o Haddad hoje.
- E por que estão chamando nós e não só o Guilherme?
- Eles vão dar algum motivo especial. - Digo, pensando melhor sobre isso. - Provavelmente querem formar aliança logo hoje, porque o debate anterior foi um desastre pro Haddad. Aposto qualquer coisa que isso é ideia da Gleisi.
- Argh, aquela mulher é intragável. - Juliano reclama. - A estratégia dela... Me dá arrepios.
- Em mim também. Eu só não entendi porque eles também chamaram o Ciro. Quando é que o grupo da centro-esquerda vai querer pegar leve com o PT?
Nenhum de nós tem essa resposta. Não me surpreenderia se essa reunião terminasse em discórdia. Me sinto mal pelos funcionários daqui, que têm que coordenar três chapas presidenciais no mesmo hotel e ainda por cima causando confusão.
Sônia convence Juliano a deitar um pouco e receber uma massagem nos ombros, e eu resolvo dar uma volta no saguão. O maço de cigarros cheio em meu bolso há dias já está começando a pesar na consciência, mas eu sei que esses dois detestam que eu fume. Me sinto adolescente novamente, saindo de fininho pra acender um cigarro. Tempos que não deixam saudades.
Não consigo evitar de checar minhas mensagens mais uma vez. Ciro ainda não respondeu. Tento fixar na minha cabeça que ele geralmente não manda muitas mensagens nos dias de debate porque passa o dia ocupado. Demorar pra responder nunca foi uma coisa que me incomodou muito, mas por algum motivo está passando a ser.
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Boa tarde gente kkkk hoje o cap saiu mais cedo
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Garoto Promissor (Ciro x Boulos)
Fanfiction*Repostando aqui porque o site ao lado me expulsou* Guilherme Boulos e Ciro Gomes são candidatos à presidência do Brasil. Seria um escândalo e tanto se eles tivessem um relacionamento, não é? TW: Abuso psicológico, tabagismo