Na mesma noite, Ciro me avisa por mensagem que estará em São Paulo pela manhã para gravar propaganda eleitoral. Disse também que seu médico recomendou descanso para se recuperar melhor e que além da gravação da propaganda na parte da tarde, não teria nada para fazer pelo resto do dia.Como Juliano informou nossa equipe na pequena reunião do camarim, sei que no dia seguinte tenho compromissos de campanha em Belo Horizonte na parte da tarde e da noite; então, informo a Ciro que podemos nos ver pela manhã.
Ele responde que falará com alguém de sua equipe para garantir um lugar em que podermos nos ver sem muitos riscos, e logo depois trocamos nossos "boa noite". O dia foi longo para nós dois e uma noite de sono é necessária.
Acordo com o despertador às 7 da manhã e rapidamente me arrumo para sair. Tenho que admitir que até escolho uma camisa nova e aparo a barba. Peço para Natália* deixar as crianças na escola hoje pois tenho um compromisso logo cedo, e ela concorda com uma risadinha. Consigo até ler na expressão dela "Você vai se encontrar com o Ciro, que eu sei"; nem preciso dizer nada.
Checo minhas mensagens e vejo que Ciro me mandou um endereço, que logo reconheço como sendo do Hotel Fasano. Acho engraçado. É um hotel conhecido por ser frequentado por ricos que traem suas esposas. Não é uma escolha ruim de sua equipe, já que muitas pessoas importantes se hospedam lá para não serem percebidas, mas mesmo assim...
Quem diria que eu entraria em um dos hotéis mais caros de São Paulo um dia? Eu definitivamente não diria. De qualquer forma, aqui vou eu.
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Ninguém me pergunta nada quando entro no hotel, e ninguém olha para mim. Tenho que passar por um enorme salão de refeições no caminho para o elevador, e vejo mais burgueses bem vestidos que parecem estar funcionando no piloto automático. Às vezes fico impressionado com como essas pessoas são esquisitas.
No elevador, recebo uma mensagem de uma de minhas assessoras dizendo que estará me esperando por volta de 12h40 no aeroporto. Olho no relógio, fazendo uma nota mental de que tenho pouco mais de três horas antes de ter que ir, já que o aeroporto é razoavelmente longe daqui.
Logo na saída, vejo Ciro alguns metros à esquerda, recostado em uma porta e falando ao telefone.
Fico um pouco longe, com receio de atrapalhá-lo, mas assim que me vê, ele sorri para mim e faz um gesto para que eu me aproxime.
Menos de um minuto depois, ele desliga o celular e me abraça.
- Desculpe, era o Carlos Lupi querendo saber se eu já estava em São Paulo.
- Sem problema. Entendo que presidentes de partido adoram pegar no nosso pé às vezes. As intenções são boas ao menos.
- Sim, claro. O Carlos é um dos meus melhores amigos, mas pense em um carinha chato pra campanha!
- Nossa, eu sou o mesmo com o Juliano.
E fofocando sobre o alto escalão de nossos partidos é que entramos no quarto de hotel. Ser político é bem curioso às vezes.
Eu tenho certeza que nunca estive em um lugar tão chique. A suíte é enorme e toda moderna. Nem consigo imaginar quanto deve ser a diária desse lugar, e pensar que os super ricos tem dinheiro pra gastar com isso é meio desconcertante.
- Deslocado? - A voz de Ciro me tira de minha reflexão. Ele logo se acomoda em uma poltrona, enquanto continuo de pé.
- Um pouco... Bastante.
- Entendo. O pessoal da campanha insistiu que eu me hospedasse aqui, mas eu acho que é um gasto desnecessário. Além disso, eu sabia que você ficaria desconfortável em um ambiente assim.
- Desculpe.
- Ei, não precisa se desculpar, Guilherme. Eu que deveria me desculpar por fazer você se sentir assim. É sempre triste para mim quando você se sente mal.
- E você ainda mexe comigo por ser romântico, não é?
- Isso não me impede de ser também.
Rio, me sentindo mais confortável. Ele percebe.
- Você está com fome? Aparentemente caras importantes como nós não podemos comer no salão com as outras pessoas desde o que aconteceu com o Bolsonaro, mas isso vai nos ajudar hoje. Posso pedir qualquer coisa aqui para cima. - Ele faz um gesto de telefone com uma pescadinha.
- É, na verdade eu estou com fome sim. Saí de casa sem tomar café.
- Isso tudo era pressa de me ver?
- Pode-se dizer que sim.
Ele lança um olhar travesso em minha direção.
- Então não é fome apenas de comida.
Sinto meu rosto ficando avermelhado. Não entendo como um marmanjo de 36 anos fica envergonhado com isso, mas parece que Ciro é especialista em fazer eu parecer um adolescente na puberdade.
- Ah, 'cê' sabe.
- Sei. Entendo mais claramente do que você imagina, Guilherme.
Com essas palavras, ele se aproxima de mim. Se aproxima muito, a ponto de eu conseguir sentir sua respiração.
- Eu pensei que o médico havia te dado uma ordem para descansar.
- É. - Ele desliza ambas as mãos por minhas costas e me dá um selinho. - Mas isso não significa que você tenha que descansar também. Ainda tem muitas coisas que eu posso fazer com você sem que eu tenha que tirar uma peça de roupa.
Um pouco arrepiado, permito que ele me guie pela mão até a cama.
O resto é história.
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*Natália Szermeta é a "companheira" do Guilherme, como eles mesmo gostam de se chamar
No universo da fic, eles têm um relacionamento aberto bem específico que será explicado aos pouquinhos no decorrer da fic (ou em um cap bônus, não decidi ainda)
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Garoto Promissor (Ciro x Boulos)
Fiksi Penggemar*Repostando aqui porque o site ao lado me expulsou* Guilherme Boulos e Ciro Gomes são candidatos à presidência do Brasil. Seria um escândalo e tanto se eles tivessem um relacionamento, não é? TW: Abuso psicológico, tabagismo