Será que existe coisa pior do que estar totalmente sem ideia do que fazer durante uma conversa? Depois de estar sentindo isso por esses poucos segundos, eu acabo de concluir que se existe, eu não quero nem saber o que é.
Fernando solta o ar dos pulmões com força, o que chama a atenção de seus cachorros. Ele volta a acalmá-los ao afagar suas orelhas antes de dizer qualquer outra coisa. Já percebeu que eu não vou falar nada.
- Eu não sei te dizer quando isso começou, pra falar a verdade. É como uma cereja no bolo pra toda essa situação que já deveria ser inconveniente demais. Bobo, né? Acho que alguma parte de mim pensa que a vida funciona como as novelas.
- Eu não sei o que dizer. - E também não sei a razão para ele estar me falando isso. - De verdade, não sei mesmo.
- Eu já esperava algo assim. - Ele passa a mão no cabelo novamente. - Não se preocupe, não vou tentar nada.
Consigo liberar um pouco da tensão que pairava sobre meus ombros nesse momento ao receber essa informação, mas ainda permaneço alerta.
- Que bom.
Em um momento de silêncio, Fernando engole em seco.
- Olha. - Ele se volta para frente e apoia os cotovelos nas coxas. - O que aconteceu no Rio foi um engano lamentável e eu lidei muito mal. Não vai acontecer de novo. Peço desculpas.
Eu não tô entendendo nada. Como uma pessoa agarra a outra por engano? Como ele muda totalmente de figura em tão pouco tempo?
- Fernando, você tentou me beijar. Não existe engano nisso. - Espero ele se endireitar no assento antes de continuar. - Se você tá preocupado com sua esposa ou com a mídia, fique sabendo que eu não vou falar nada pra ninguém.
- Vai muito além disso. - Ele fala em um suspiro. - Eu tô muito confuso agora, mas precisava pelo menos te dar uma... Noção. Como você pode ver, não sei lidar muito bem com isso.
- É dá pra perceber. - Me recosto no sofá, para observar melhor seu comportamento.
Ele olha pra mim e desvia o olhar mais de uma vez, puxando o ar como se fosse falar, mas não pronunciando nenhuma palavra. Esfrega o rosto e solta o ar para logo depois puxar de novo.
- Ela me largou por causa do Ciro. - Uma interrogação muito grande deve estar no meu rosto, porque ele tenta esclarecer assim que olha para mim. - A Estela. Depois que eu contei sobre o que eu tive com o Ciro, ela passou dois dias em um hotel. Quando voltou, pediu o divórcio imediatamente.
- Quê?
- É. Não preciso dizer que eu chorei muito. Fiquei tão mal que ela desistiu do divórcio, mas se manteve fria comigo pelos próximos meses. Chegou um dia em que ela pediu que ficássemos um tempo separados, e dessa vez não consegui impedir.
De uma forma irritante, me encontro sem palavras pela segunda vez em poucos minutos.
- Mas vocês estão juntos agora. - Consigo formar uma frase inteira, surpreendentemente.
- Bom, já fazem quase 13 anos; tempo o suficiente pra lidar com uma situação tão... Enfim. Isso ficou pra trás como uma mancha negra na nossa história, mas sempre vai estar visível aos meus olhos.
Se eu não estivesse tão surpreso, talvez acharia graça no discurso carregado de drama dele. Toda essa história só fica pior a cada nova informação que eu recebo.
Usando minha visão periférica, analiso novamente a quantidade de fotos que eles têm penduradas nas paredes e em cima dos móveis. Com essa nova informação, parecem muito diferentes de como eram antes. Imagino se alguma delas foi tirada enquanto os chefes da família estavam separados.
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Garoto Promissor (Ciro x Boulos)
Fanfiction*Repostando aqui porque o site ao lado me expulsou* Guilherme Boulos e Ciro Gomes são candidatos à presidência do Brasil. Seria um escândalo e tanto se eles tivessem um relacionamento, não é? TW: Abuso psicológico, tabagismo