A Nova Normalidade

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02/10/2018
Suzano - SP

Acordo com um raio de sol queimando meu rosto. Quando abro os olhos, vejo que a luz excessiva vem de uma irritante fresta na cortina. Tento levantar pra tirar aquela luminosidade de mim, mas sou impedido pelo peso do braço de Ciro que envolve meu peito.

Dou uma risadinha baixa.

- Será que eu posso levantar?

Ainda adormecido, ele responde apenas com um grunhido. Quando tento afastar seu braço, ele me segura mais forte.

- Eu preciso levantar, Ciro. Campanha, lembra?

Ele emite mais um som, dessa vez um pouco mais claro, mas ainda não o suficiente. Peço para que repita.

- Fica aqui.

Rio. É difícil resistir assim, mas é perigoso demais ficar. Já testei minha sorte dormindo fora do hotel em que minha equipe de campanha está.

- Não posso. Tenho que voltar pro hotel, ir pra Guarulhos e ainda pegar um voo.

- Só um pouquinho...

Lentamente, ele abre um pouco os olhos. É impossível não sorrir.

- Só um pouco mesmo.

- Você é tão fácil de dobrar... Eu gosto disso.

- A culpa não é minha se eu gosto de carinho, seu aproveitador.

Volto a deitar e recebo um sorrisinho de agradecimento. Ciro, sendo manhoso como é, começa a beijar meu pescoço e deslizar uma mão por meu peito; logo em seguida, por meu abdômen. Suspiro ao sentir seu toque descendo pelo meu corpo, mas seguro sua mão antes que ele chegue onde quer.

- Desse jeito eu não saio daqui hoje.

- É isso mesmo que eu quero.

- Olha olha, hein. Se você for me atrasar então já vou.

- Não, por favor... Eu me comporto.

- Tudo bem.

Dessa vez, Ciro realmente se comporta. Fico todo derretido e percebo que vou acabar me atrasando do mesmo jeito. Ignoro a constatação que fiz e ainda permaneço uns bons 15 minutos nos braços daquele homem.

Infelizmente, somos interrompidos pelo meu celular tocando. Estendo o braço para pegá-lo no bolso da minha calça (que está jogada no chão por causa de ontem) e suspiro ao ver o nome 'Juliano Medeiros' na tela.

- Bom dia, Juliano.

- Onde é que você tá, Guilherme??

Ao meu lado, Ciro começa a rir em silêncio. Gesticulo para que ele pare, mas só faz com que ria mais. Começo a rir também.

- Eu tive que sair cedo pra resolver umas coisas. - Dou meu melhor pra disfarçar a voz risonha e me xingo internamente por não conseguir pensar em uma desculpa melhor.

Espero que eles só tenham dado a minha falta hoje de manhã.

- Nós ficamos preocupados, criatura. Que horas você volta?

Tenho sorte de não ser tão cobrado pelo partido, pelo menos. Ia precisar de alguns segundos pra arranjar uma boa desculpa.

- Já estou voltando. Que horas a gente sai?

- Umas 8h pegamos estrada pra Guarulhos.

Olho na tela do celular rapidamente. 7h00 em ponto.

- Tudo bem, cara. Podem ficar tranquilos que estou aí em 20 minutos.

- Beleza.

Quando desligo o telefone, Ciro ainda está rindo.

- Tá doido, Ciro? Ele podia te ouvir. - Tento ficar sério pra impor firmeza, mas não dá certo.

- Desculpa, é que é engraçado pensar que você está no último lugar que pensariam.

Dou uma risadinha com o pensamento. É um pouco engraçado mesmo. Penso em Juliano, que provavelmente desconfia de algo que estou fazendo mas nunca pergunta nada e vive repetindo que minha vida é minha vida.

- Talvez não seja o último lugar. Mas é engraçado mesmo.

Depois de resistir a alguns protestos de Ciro, levanto da cama para vestir minhas roupas com um pouco de pressa. Ele levanta também, já que tem que me levar até o hotel.

Em menos de 10 minutos, estamos ambos prontos para sair.

Saio primeiro pela porta dos fundos, pois eu e o Ciro saindo juntos do hotel em plena luz do dia seria como encontrar ouro em uma mina para os jornalistas.

De cabeça baixa e com as mãos no bolso pra evitar ser percebido, espero até que Ciro venha me buscar de carro na esquina do hotel em que estávamos.

Hoje, ele permanecerá no interior de São Paulo pra fazer campanha enquanto eu irei para o Rio de Janeiro participar de dois comícios. Fico animado só de pensar.

Não demora muito até que o Civic alugado pare na minha frente e o motorista sorridente abra o vidro pra me lançar uma piscadinha.

- Oi, você vem sempre aqui? - Ele diz quando entro no carro, provocando uma risadinha.

- Não tanto quanto gostaria. Essa cidade é até legal.

- Eu concordo. O interior de São Paulo é um lugar subestimado.

Entre pequenas conversas e a necessidade de desviar de alguns caminhos pra evitar fotógrafos, chegamos ao meu hotel exatamente às 7h27. Passando pela entrada, vejo Juliano impaciente olhando o relógio no saguão.

- Ah, tá de sacanagem; O Juliano tá ali me esperando. Me deixa na esquina pra não despertar suspeitas, por favor.

- Sem problema.

Como o trânsito ainda possui vestígios do movimento exacerbado da hora do rush matutina, Ciro para o carro a duas quadras de distância. É difícil saber se há algum fotógrafo por perto, então por via das dúvidas nos despedimos sem nenhum contato físico e com uma promessa de mandar mensagem assim que estivermos livres.

É uma boa decisão, já que assim que saio do carro percebo uma pessoa escondida atrás de uma árvore com a câmera na mão, do outro lado da rua. Esse tipo de coisa às vezes me dá a impressão de que estou vivendo dentro de um filme.

Espero que pelo menos eu seja o protagonista.

Ao me aproximar do hotel, Juliano aparece na porta com um semblante bravo. Quando me vê, porém, volta ao normal. Isso é bom, porque quando ele está bravo eu tenho dificuldade em ficar sério.

- Guilherme! Que susto, homem. Não some assim!

- Desculpa, eu tinha alguns assuntos pra resolver.

Ele estreita os olhos pra mim.

- Que tipo de assuntos?

Recuo um pouco. Não esperava essa pergunta e não pensei em uma resposta. Quando ele percebe, coloca uma mão nas minhas costas e começa a me guiar até o hotel.

- Quer saber? Eu nem devia ter perguntado. Sua vida é sua vida. Só esteja conosco na hora e tudo vai ficar bem, beleza? É simples.

- Você que manda.

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BOM DIA GENTE (e boa tarde pra quem está no horário de Brasília)
Um bilhão de desculpas pela demora mas esses últimos dias foram completamente malucos. Passei sexta e sábado direto fazendo campanha pro Haddad, fui tombada pra caralho no domingo e ontem eu PERDI MEU EMPREGO por razões ideológicas. Por favor, tenham paciência comigo kkkkk pelo menos agora tenho mais tempo pra escrever apesar de que a animação deu uma caída boa com a vitória do desgraçado.
Eh isto gente, boa leitura rs

Garoto Promissor (Ciro x Boulos)Onde histórias criam vida. Descubra agora