BÔNUS: Espera.

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27/09/2018

POV Ciro

Me jogo na cama assim que me deixam sozinho. Viagens são sempre irritantes e ainda por cima a equipe de campanha não me deixou ficar em meu apartamento por hoje, com a desculpa de que é muito longe do estúdio de gravação em que produziremos a propaganda para a TV. Engano deles pensar que não sou esperto. Sei que o Carlos tem contatos com o dono desse hotel e que o cabra provavelmente insistiu que eu ficasse aqui.

Uma dor de cabeça aguda me castiga por causa da viagem de avião, e tomo alguns analgésicos para tentar amenizar. Obtenho sucesso, pelo menos.

Penso em mandar uma mensagem para Guilherme, mas tenho a impressão de que isso pareceria um pouco desesperado demais. Ele disse que viria pela manhã, então deve chegar daqui a pouco.

Olho no relógio, e vejo que marca 7h30. Provavelmente dá tempo de tomar um banho.

7h43

Esse lugar é realmente fenomenal. O único ponto negativo é a quantidade de almofadinhas engomados que eu vi no caminho até aqui. Sinceramente, isso já era esperado de acordo com o naipe desse hotel porém fico pensando que se foi um pequeno incômodo para mim, provavelmente será um grande incômodo para Guilherme.

Penso em comer, mas acho melhor esperar até que ele chegue. Olho para o relógio novamente: 7h45.

Volto a me jogar na cama e olho meu Twitter. Eleitores falando bem de mim, fascistoides fazendo propaganda do Bolsonaro... Tudo normal.

7h50.

Levanto da cama e dobro as roupas que eu trouxe de casa, organizo as bebidas por cor no frigobar, endireito os tapetes.

7h57.

Resolvo olhar o que as pessoas estão falando do Guilherme nas redes sociais. Os lacaios do nazista imundo pegam ainda mais pesado com ele, mas isso não é surpresa. Vejo muitas coisas boas sobre ele também, e até assisto um vídeo dele discursando em um comício em São Paulo.

8h05

Pesquiso fotos dele no Google e fico rindo sozinho.

8h09

Fazer isso está me deixando ainda mais ansioso para vê-lo, então paro.

- Pra que tudo isso, homem? Você viu ele ontem. - Falo comigo mesmo, tentando me distrair. - Não acha que está velho demais pra ficar suspirando pelos cantos que nem um jovenzinho?

Resolvo andar pelo corredor enquanto ele não chega, pois não consigo mais ficar parado.

Saindo pela porta, no entanto, meu celular toca. Meu corpo inteiro gela e pego o aparelho do bolso com uma força desnecessária; na tela, o nome de Carlos Lupi brilha.

Toco no ícone vermelho para recusar a chamada.

- Que saco, estou no meio de um compromisso agora, Carlos. Ocupado demais fazendo absolutamente nada.

Assim que termino de falar sozinho, o celular toca de novo. Penso por um momento, mas resolvo atender. É uma distração.

- Alô.

- Ciro, cara! Eu disse que te ligaria cedo mas tava cheio de pepino por aqui. Você já está em São Paulo?

- Sim, cheguei no hotel faz uma hora. Como estão as coisas por aí?

- Tudo na santa paz, amigo. Nossa agenda está cheia, e estão cobrando uma coletiva de imprensa do PDT antes da eleição. O que você acha?

- O que você decidir, está decidido, companheiro.

- Então já vou dar uma olhada aqui e te falo assim que tiver a data certinha de tudo, beleza?

- Por mim está ótimo.

Ele começa a tagarelar sobre a campanha e um monte de coisas que já sei, mas paro de prestar atenção pois com o canto de olho, vejo Guilherme olhando para mim a alguns metros de distância.

No mesmo segundo gesticulo para que ele se aproxime.

- Carlos, tem como você me passar tudo isso por mensagem? Tenho que desligar agora.

- Claro! Vou mandar tudo assim que puder.

- Valeu, você é o melhor.

Desligo o celular e puxo Guilherme pra um abraço. Sinto que ele se assusta um pouco, mas eu não aguentaria mais de um segundo sem tocá-lo depois desse tempo de espera.

- Desculpe, era o Carlos Lupi querendo saber se eu já estava em São Paulo. - Digo a ele, ao mesmo tempo pensando se ele conseguiu sentir meu coração batendo rápido.

- Sem problema. Entendo que presidentes de partido adoram pegar no nosso pé às vezes. As intenções são boas ao menos.

Definitivamente, uma das melhores qualidades que o Guilherme tem é ser muito fofo. Está ao lado de outras cem qualidades.

- Sim, Claro. O Carlos é um dos meus melhores amigos, mas pense em um carinha chato para campanha!

- Nossa, eu sou o mesmo com o Juliano.

Sorrio. Por agora, eu só quero encher esse rapaz de beijos e ver no que dá. Acho que não deveria ter passado aqueles minutos olhando fotos dele.

Olho para o relógio pela última vez: 8h12.

12! Logo meu número da sorte desse ano. Bom sinal.

Garoto Promissor (Ciro x Boulos)Onde histórias criam vida. Descubra agora