Diferente Dos Outros

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- Qual é, Ciro? E a transparência que você me prometeu?

Minha aproximação com Fernando, mesmo que sutil, foi um marco explícito no nosso relacionamento. Em uma semana, muita coisa mudou e não sei bem o que fazer com essa informação.

A minha frente, Ciro suspira e pressiona uma têmpora.

- Desculpa. - Diz, de olhos fechados. - Eu sou ruim nisso.

A atitude me surpreende um pouco, mas não sei bem se posso confiar. Ele muda tão subitamente que isso tem feito eu me sentir perdido.

- Eu sei.

- Veja, vamos conversar melhor sobre isso depois? Você tem perguntas, eu tenho perguntas... E a gente tá num campo minado.

- Você vai me responder?

- Claro. - Ele volta a pegar o celular no bolso e vira a tela para mim. - Vou até fixar a conversa, ó.

- Tô vendo.

Fernando passa bem perto de nós, desviando nossa atenção para ele. Observamos os passos dele em silêncio, até que ele aborda Cid com um sorriso. Ciro coloca o celular no bolso da calça dessa vez.

- Inteligente. Sabem como mexer as pecinhas. - Ele comenta, olhando para eles. - Era o esperado.

Me sinto incomodado. O jogo político persiste 24 horas por dia, 7 dias por semana. De vez em quando Ciro age assim, enxergando pessoas por suas funções e pensando em organizar tudo da forma que mais beneficia a si mesmo. Sei que isso é uma coisa boa para um político, principalmente um carreirista como ele, mas às vezes isso revira meu estômago.

- Tudo está saindo como o planejado?

Meu tom é mais agressivo do que eu planejava, e isso faz com que ele olhe para mim com as sobrancelhas levantadas. Tenta tocar no meu braço, mas desvio.

- Não tudo. Você tá bravo comigo.

- Eu não posso deixar você ficar me agarrando no meio de todo mundo, Ciro.

- Mas não é por isso que você tá assim. - Ele estreita os olhos.

- O que você queria? Você tá sendo um... - Babaca? Escroto? Filho da puta? Não sei dizer.

- Um o quê?

- Esquece, Ciro. O que deu em você? É só isso que eu quero saber.

Dessa vez, quem olha em volta é ele, mas acompanho seu olhar. Vejo a mandíbula dele ficando tensa ao ver que quase todos os seus correligionários (tirando Cid, que ainda está com Fernando) estão alinhados olhando para nós.

- Não dá pra falar nada com esses enxeridos pendurados em mim. Vamos sair.

Ele está ficando louco.

- Juntos?

- Ninguém vai falar nada. Depois eu me dou com esses senhores.

Quais as chances de isso dar errado? Muitas, eu diria.

- Ciro...

- Confia, homem.

Sei que a única que vai me indagar sobre isso é Sônia, e não vejo problema nisso. Minha preocupação não é com as pessoas que estão aqui dentro; pelo menos não só com elas.

Respondo apenas assentindo com a cabeça. Sob os olhares atentos dos pedetistas (e surpreendentemente, ninguém mais), saímos do salão e seguimos pelo corredor.

- A Giselle está no meu quarto. - Ciro comenta, em tom monótono.

Pela primeira vez em muito tempo, a menção de outra pessoa me causa uma ponta de desconforto.

Garoto Promissor (Ciro x Boulos)Onde histórias criam vida. Descubra agora