Todos nós somos obrigados a nos espalharmos pelo palco enquanto dezenas de jornalistas entram para nos perguntarem tudo que conseguem sobre o debate.
Normalmente, a maioria deles tem a mesma pergunta sobre o a avaliação do debate e logo vão atrás de outro candidato para levantar a mesma questão, mas dessa vez são poucos que vão embora depois da minha primeira resposta. Acabo por descobrir que é porque eles têm perguntas específicas pra mim:
- Boulos, no intervalo do segundo bloco nós vimos você e o Juliano Medeiros conversando ali com a equipe do PT. Qual era o assunto?
- Nós fomos lá checar como o Haddad estava. A comissão da Record deploravelmente negou um direito de resposta à acusação tosca do Álvaro Dias e ele ficou perturbado. Faríamos o mesmo com qualquer candidato. Estamos aqui pra combater as injustiças.
- Vocês são próximos dos integrantes da equipe?
- Somos amigos de alguns deles, sim. Como eu disse, faria o mesmo por qualquer outro.
- Durante a maior parte do debate, vimos uma aproximação sua com o Ciro Gomes e a Marina Silva que inclusive riam juntos algumas vezes. Do que estavam rindo?
- Do debate em si. As perguntas, 'cê' sabe. Eles são gente boa.
- Onde está o Juliano Medeiros nesse momento?
- Deve estar ali na plateia. Vão falar com ele; aquele cara adora dar entrevistas.
E assim, me livro dos jornalistas.
Resolvo ir atrás da Sônia pra conversamos sobre o debate no camarim, e logo percebo que ela está conversando com Eduardo Jorge e Marina. Me aproximo assim que vejo que Eduardo ainda está segurando um saco de papel com biscoitos, com a esperança de conseguir alguns.
- E aí, gente. - Os cumprimento.
- Guilherme! Estávamos falando do senhor agora mesmo. - O vice de Marina dá um tapinha no meu ombro, com um largo sorriso.
- Ah, é? Falando coisa boa?
- Eu estava falando pra eles que você sempre reclama de fome depois dos debates mas nunca traz comida. - Dessa vez, é a minha vice que me dá um tapinha no ombro.
- Fofocando sobre mim!
- Mas era uma fofoca do bem, Boulos. O Edu ficou tão comovido que guardou biscoitos pra você. - Marina coloca uma mão no meu ombro.
Não sei se fico surpreso ou se rio quando o homem estende o pacote para mim. Acabo meio que fazendo os dois.
- Eu mesmo fiz. - Ele diz, ainda sorridente. - É uma receita da minha avozinha; que Deus a tenha.
Eu gosto muito dele. Não nos falamos mais do que três vezes na vida, mas ele trata todos como se fossem amigos de infância e eu acho isso bem engraçado. Faz uma dupla muito adequada com a Marina.
- Uau... Obrigado, Eduardo.
- Não tem problema nenhum, Guilherme!
-//-
Depois de dar uma forrada no estômago, me sinto melhor para ir até o camarim. Um produtor coordena tudo e nos avisa que haverá um coquetel em 40 minutos, o que é ótimo.
Entro no meu camarim e me jogo no sofá para esperar Sônia, que ficou trocando algumas palavras com a Manuela do lado de fora. Fico feliz por ela estar se adequando bem ao círculo dos vices. A política precisa de mais mulheres como essa.
Quando ela aparece, porém, é por uma frestinha na porta. Me aproximo.
- Gui! Eu acabei de testemunhar um negócio aqui fora! - Ela dá um jeito de gritar e sussurrar ao mesmo tempo.
- Quê? Como assim? - Sussurro também.
- Espera aí!
E então, ela sai novamente e fecha a porta. Imediatamente abro de novo e olho para fora. Ela está na frente da porta ao lado e faz um sinal para que eu não faça barulho. Além dela, o corredor está vazio.
Quando abro a boca para perguntar porque ela está ouvindo uma conversa dos outros, ela faz o sinal de silêncio com mais vigor e gesticula para que eu me aproxime.
Vou até ela e logo ouço as vozes de dentro da sala.
- Eu não deixar você jogar esse seu joguinho com ele, Fernando. Não enquanto eu estiver aqui. - Imediatamente reconheço a voz de Ciro
Sônia aponta para mim, indicando que o 'ele' sou eu.
- Eu não entendo o que você quer de mim, Ciro. Nem tudo segue os interesses políticos e você bem sabe disso. - Haddad responde, em uma voz bem mais contida.
- Você pensa que eu sou burro?
- Não, jamais.
- Então como espera que eu acredite em uma baboseira dessa?
- Meu Deus, Ciro. Lá no fundo, você ainda é o mesmo. Insiste em pensar que é dono dele.
Arregalo os olhos. Sônia também.
- Que tipo de insinuação é essa?! Eu não sou dono de ninguém!
- Então por que é tão difícil aceitar que ele simplesmente está se aproximando de mim por vontade própria? Eu estou te falando, Ciro. Não tem nada por trás.
- Isso é mentira. Você e a cúpula do PT tem feito coisas indizíveis por alianças desde a pré-campanha.
- Você me conhece, Ciro. Sabe quem eu sou! Nunca faria algo assim por pura aliança política. Eu não sou nenhum tipo de robô do meu partido.
Os dois ficam em silêncio por um tempo.
- Eu não sei quem você é, Fernando. Você mudou demais.
Ouvimos passos. Sônia sai correndo para dentro de nosso camarim e me puxa junto. Nem dá tempo de fechar a porta antes de ouvirmos alguém saindo do cômodo ao lado. Felizmente, ele vai para a direção contrária à de onde estamos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Garoto Promissor (Ciro x Boulos)
Fanfic*Repostando aqui porque o site ao lado me expulsou* Guilherme Boulos e Ciro Gomes são candidatos à presidência do Brasil. Seria um escândalo e tanto se eles tivessem um relacionamento, não é? TW: Abuso psicológico, tabagismo