Garoto Promissor (Ciro x Boulos)

O Debate do SBT - pt. 2

Já com o astral mais levantado, sigo para o estúdio e imediatamente meus olhos procuram por uma pessoa.

Infelizmente, percebo que além de mim, há apenas Álvaro Dias já no palco. Me dirijo ao púlpito que contém minha foto, e alguns fotógrafos imediamente se aproximam para registrar minha chegada. Converso com minha equipe sobre o que pode acontecer no debate e lentamente, o estúdio fica lotado de jornalistas e aliados políticos dos candidatos.

Percebo Sônia entrando no estúdio usando um de seus formosos cocares e aceno para ela, com um sorriso fácil no rosto. Minha amiga percebe logo de cara e retribui o gesto com um sorriso que aquece meu coração. Logo, ela se acomoda na parte superior da plateia e passa a conversar com quem está do lado.

Recebo um leve toque no ombro. Quando me viro, encontro Marina sorridente:

- Boa noite, Boulos! Como se sente?

- Ansioso pelo debate. E você, como está?

- Com frio! - risos - Mas além disso, nada muito extremo.

- Você não se sente ansiosa?

- Não, meu jovem, já estou nesse jogo há muitos anos. Sei como lidar com essas coisas.

Rio fraco pra ela. Sei que não foi a intenção, mas me sinto inferior por ser inexperiente. Ela percebe e logo emenda:

- Mas é totalmente normal se sentir ansioso nesses momentos, Guilherme. Não se preocupe, você vai bem. Boa sorte.

- Obrigado, Marina, boa sorte para a senhora também.

Ela aperta levemente meu ombro como forma de encorajamento e se afasta, indo até seu púlpito.

Poucos minutos depois, Haddad é o quarto a chegar. Ele passa por mim e finge não me ver, por algum motivo.

Lentamente, todos os candidatos vão chegando até o palco, e nada de Ciro.

Ele é o último a chegar, sorridente, acompanhado de uma equipe grande de acessores e cercado por jornalistas.

Meu primeiro impulso é ir até ele, mas noto que ele está com as mãos cheias. Aproveito para cumprimentar os concorrentes com quem não pude conversar antes , e todos são muito polidos, como mandam as regras não escritas do meio político. Depois de alguns minutos, Ciro, já menos ocupado, se aproxima de mim; um de seus assessores o observa, por isso, penso em estender a mão para apertar a dele, mas ele imediatamente abre os braços em minha direção. Não penso duas vezes antes de abraçá-lo e mesmo sabendo que tem que ser rápido, acabo me inebriando com o cheiro de seu perfume. Ele ri um pouco e coloca uma mão no meu peito para me afastar, já se virando para sair. Seguro o braço dele, impedindo que se afaste. Ele vira na minha direção, com um pequeno sorriso e olhando nos meus olhos por um momento, e coloca a mão nas minhas costas.

"Mais tarde, Guilherme. Olhe em volta, rapaz."

Com essas palavras, ele se afasta de mim e sinto um frio súbito. Olho de relance para Daciolo, no púlpito ao lado do meu, e vejo ele olhando fixamente para a frente, fingindo que não viu nada; um pouco mais longe, consigo distinguir uma jornalista com câmera virada para a minha direção, e um pequeno flash dispara dela.

Procuro me recompor rapidamente e me dirijo à bancada que foi designada a mim, vendo a jornalista olhar para a tela da câmera e sorrir.