Injúria

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01:00

O relógio de pulso do Fernando apita uma vez, indicando que é 1h da manhã. Ele não está mais sentado no chão, e sim, ao meu lado no sofá. Não muito preocupados com qualquer coisa, nós dois conversamos sobre as vidas dos outros.

- Eu não me sinto muito bem me metendo na vida de outras pessoas - Haddad pensa alto. - mas não dá pra negar que algumas coisas valem a pena.

- Ah, mas fofocar faz bem pra mente. Deixa de ser careta.

- Até tu, Brutus?

- Não tenho culpa se você é careta.

- E eu não tenho culpa de ser assim. Sabia que a genética tem um papel importante na formação da personalidade de uma pessoa? Alguns traços se incorporam em nós mesmo sem a influência do meio.

- Nem vem com essa, Fernando. - Rio - E eu não estou reclamando. Essa característica combina com você.

- Tá dizendo que eu sou chato?

- Não, não. Pelo contrário.

Ele sorri, e o analiso um pouco. É uma antítese quase perfeita de Ciro. Fico pensando em como foi possível que eles dois tenham tido um relacionamento tendo personalidades tão contrastantes. Bem, não sou tão parecido com Ciro também.

Por reflexo, pego o celular do bolso pra checar por mensagens dele. Há apenas uma, o que é estranho. Decido ver depois.

O petista observa meus movimentos enquanto guardo o aparelho de volta no mesmo lugar.

- Isso aí no seu bolso é um maço de cigarro? - Ele aponta para o pequeno retângulo visível em meu bolso direito.

- É.

- Não sabia que você fumava.

- Só um pouco; estou diminuindo. Te incomoda?

- Não mais. Incomodava antigamente. Eu costumava julgar demais.

- Entendo. Já passei por essa fase.

Ele acena com a cabeça pra mim, com um sorriso que demora demais em seu rosto. Desvio o olhar.

É a vez do celular dele tocar em seu bolso. São apenas mensagens, mas fico grato por ser o suficiente pra desviar sua atenção de mim.

- Desculpe, quando toca é porque é urgente.

- Sem problema.

Não quero parecer invasivo ao olhar para seu celular (já que ele está grudado em mim e eu teoricamente poderia ver tudo), então recosto pra trás, encostando a cabeça nas costas do sofá e fechando os olhos pra descansar um pouco. Abro-os pouco tempo depois, quando ouço Fernando suspirar ao meu lado.

Levo um pequeno susto quando percebo que ele está olhando diretamente pro fundo dos meus olhos. No mesmo momento, endireito a postura. Sinto vontade de me afastar, mas o jeito que ele me olha não deixa isso acontecer.

Com um movimento lento, como se estivesse tentando não assustar um gato, ele guarda o celular de volta no bolso. Não desvia o olhar e nem fala nada. Permaneço estático no lugar, tenso demais pra sentir algo claro.

Isso muda quando o homem ao meu lado umedece os lábios com a língua. Nesse momento, passo a ficar cheio de... receio.

Não entendo de onde veio esse peso no ar. Há poucos minutos estávamos normais, e agora a atmosfera é densa entre nós. Não sei se é pela proximidade, que aumenta cada vez mais, por sinal.

Tento me agarrar a algum pensamento concreto, mas nenhum vem à minha mente. O álcool é uma desgraça mesmo.

Fico lá, imóvel, acompanhando os movimentos absurdamente lentos e imprecisos daquele homem na minha direção. A mão dele eventualmente encontra a parte de trás do meu pescoço e guia meu rosto pra mais perto do dele. Em completo choque, observo o semblante dele ficando ainda mais sério do que já estava.

Seu toque suave como uma pena desliza de minha nuca até meu ombro, e então até o meio do meu peito.

E aí, ele me empurra bruscamente pra longe.

O movimento é tão súbito que não tenho reação. Fernando, por sua vez, levanta do sofá como um raio e sai andando até a cama.

- Não faz isso comigo, Guilherme...

- Eu?! - É a única coisa que digo.

Sentado no leito e esfregando o rosto, ele olha para o nada com olhos mais abertos que o normal. É a primeira que vez que o vejo em um momento em que não está no controle de uma situação.

- Que porra foi essa, Fernando? - Ele sussurra pra si mesmo. Quase não consigo ouvir.

- É, eu estava prestes a fazer essa mesma pergunta. - Digo, ainda um pouco chocado.

Ele olha pra mim brevemente, cobrindo a boca parcialmente com a mão. Sinto um arrepio um tanto desagradável ao reviver a memória recente dessa mesma mão me puxando na direção dele.

- Me desculpa, Guilherme. Não sei o que deu em mim.

Não respondo, pois estou ocupado tentando me recompor o mais rápido que consigo. Chego a ficar um pouco ofegante pelo súbito choque de adrenalina. Então é mesmo verdade que ele quer algo a mais de mim; essa situação não deixou dúvidas.

Ciro estava não estava errado, afinal de contas.

Tem coisas demais passando pela minha cabeça, e eu acho que apenas uma noite de sono vai clarear minha mente alcoólica. Que merda, eu tenho que acordar cedo.

É, parece que não vai ser hoje que eu durmo em casa, mas tenho que falar tudo isso pra Natália o mais rápido possível.

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Boa noite gente!!
Então, sei que todo mundo quer me matar agora usahusahusa uns por ser Bouddad demais e outros por ser Bouddad de menos fksnfmsmf mas eis aqui: dois capítulos no mesmo dia! A razão pra isso, meus amigos, tem um nomezinho horrível: ENEM.
Amanhã nem eu ou minha coautora poderemos postar pois passaremos a tarde inteira fazendo a prova (e a manhã/noite inteira surtando) portanto eis aqui um petisquinho extra pra vcs pois são top d++.
Pra quem também vai fazer enem amanhã: MUUUUITO boa sorte, eu vou estar mandando muitas energias positivas pra vcs!!! Não esqueçam de levar caneta extra e um lanchinho kkkk
É isso pessoal, boa leitura ♡

Garoto Promissor (Ciro x Boulos)Onde histórias criam vida. Descubra agora