Reflexões em Dupla

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Ainda tenho tempo de tomar um banho e ajustar a barba, já que eu sei que o apartamento do Ciro fica bem longe daqui.

Já são mais de 12:30 quando ele chega em sua enorme caminhonete pra me buscar. Fica lá dentro, escondido pelo vidro fumê escuro, fazendo parecer que sou algum mafioso entrando em um carro desconhecido pra sequestrar alguém.

- E aí, lindo? - Ele me cumprimenta, seguido de um beijinho no rosto. Dou risada.

- Que brega.

- Eu sou das antigas, querido. E não me engana, eu sei que você adora.

É impossível não estar sorrindo à toa sempre que ele está comigo. Como é que ele faz isso?

Durante a viagem, me esforço pra não ficar rindo como um adolescente bobo, mas Ciro não deixa. Sempre tem uma gracinha nova na manga. Orgulhoso por arrancar risadas de mim, ele ri também.

- Ciro, deixa de graça!

- Por que, homem? Rir faz bem e eu adoro sua risada. Só vantagens.

- Mas aí eu fico parecendo um idiota.

- Fica parecendo um fofo, isso sim.

- Ah, duvido.

- É verdade!

Ele tem um talento jovial de deixar as coisas leves em volta de si. Olho para ele, aconchegado por sua aura calorosa; não me falta nada.

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Pela primeira vez, passamos pela portaria do prédio juntos. Conversando casualmente, como amigos fazem. Dou boa tarde para o porteiro de meia idade, que retribui com um sorriso simpático.

- Todos aqui são bem discretos. - Ciro me diz, enquanto subimos alguns andares de elevador. - Quase dá pra pensar que somos pessoas como qualquer outra.

Aceno, concordando. Não tenho muita dificuldade de ser uma pessoa como qualquer outra no subúrbio. Ser um político de classe média tem suas vantagens, acho.

Quando as portas do elevador se abrem no décimo nono andar, ele segura minha mão; o gesto, incomum pra mim, não passa despercebido. Penso em perguntar sobre isso, mas no fim resolvo não fazer objecção alguma. Eu gosto.

Caminhamos assim, de mãos dadas e em silêncio, até o fim do corredor. O flat para o qual nos destinamos fica atrás da última porta daquela seção "por privacidade", como Ciro me explicou na única outra vez que estive aqui.

Ele tem que soltar minha mão para pegar as chaves do bolso e abrir a porta, e tenho que me esforçar pra não reclamar. Entro antes dele, finalmente me sentindo mais livre por não estar mais fazendo algo errado em público.

Enquanto ele calmamente fecha a porta e tranca com a chave atrás de mim, olho um pouco ao redor. Na primeira vez em que estive aqui, não pude olhar muita coisa; nas outras vezes nos encontramos em hotéis. A decoração moderna imediatamente denuncia que não foi ele quem escolheu. Dou uma risadinha.

- Qual a graça, mocinho? - A voz dele soa mais grave que o normal. Não é surpresa, estando tão perto do meu ouvido.

No mesmo instante, sinto os braços dele envolvendo meu corpo em um abraço por trás. Suspiro quando ele deixa um pequeno beijo na curva do meu pescoço.

- Nada demais.

Dessa vez, é ele quem ri. Gostaria de ficar por muito tempo daquele jeito, mas ele não demora a se afastar um pouco e me guiar direto para a cama, o que não me deixa surpreso.

A surpresa é quando ele não me agarra imediatamente. Em vez disso, apenas deita ao meu lado e fica me olhando com cara de riso.

- Achou que eu já ia partir pra cima, né? Quem é o tarado agora?

Dou uma risada alta.

- Eu não tenho culpa de nada.

- E eu não penso só em sexo. Passar o tempo com você é legal.

Ainda conversamos por quase uma hora. Ouço várias histórias de sua vida, o que me agrada muito pois adoro conhecê-lo. Ele não reage horrivelmente ao descobrir que estou de ressaca por ontem, e até me passa várias receitas caseiras pra curar a dor de cabeça depois de uma noite de consumo excessivo de álcool. Não pergunta sobre Haddad e eu não falo sobre o quase-beijo. Afasto de minha mente a vontade de contar.

Segurando minha mão entre as dele, Ciro me observa. Em seu rosto, paira um pequeno sorriso que eu vi poucas vezes antes. Me faz sorrir também.

- O que foi? - Pergunto, depois de um tempo.

Ele não responde de imediato, mas seu sorriso cresce. Fico curioso.

- É que eu tô muito apaixonado. - Ele diz, sem hesitar no meio da frase, quando vê que eu insistiria. - É um pouco estranho.

Minha reação não poderia ser diferente: Levo um susto. Não tínhamos conversado sobre sentimentos ainda.

- Por que é estranho?

Sem soltar minha mão, Ciro vira de frente para mim e adota uma expressão séria. Faço o mesmo, e ficamos bem próximos.

- Eu não era desse tipo. - Ele explica, olhando nos meus olhos. - Não estou acostumado a lidar com sentimentos assim, de frente.

- E enfrentava como?

- Não enfrentava; apenas fugia. Foi assim com... Fernando.

Fernando. Ele tem sido um ponto frequente nesse relacionamento, inesperadamente.

- E não é mais assim?

- Não. - Ele parece firme, mas relaxa no momento seguinte. - Você me passa segurança. Estabilidade.

Fico feliz com essas palavras. Pouquíssimas pessoas fazem eu me sentir tão especial quanto ele. Se é uma armadilha, como todo mundo tem me alertado há dias, eu já caí há muito tempo e o homem à minha frente sabe muito bem disso.

De forma bem mais suave do que o normal, ele dirige uma das mãos ao meu queixo e me puxa para um rápido beijo.

- Tá todo romântico hoje, né? - Digo, a centímetros dele. - Olha que 'cê' sabe como eu fico.

Deslumbrado; derretido; entregue. Do jeito que ele gosta.

- E como sei. - O sorrisinho dele logo se torna travesso. - Não dá pra negar: eu adoro.

Os lábios dele se encontram com os meus novamente, dessa vez de forma mais incisiva. Sorrio no beijo quando seu braço esquerdo envolve minha cintura e pressiona nossos corpos juntos. Estava demorando.

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Boa noite gente rs
Então, o wattpad de celular de vocês também deu pau? O meu simplesmente resolveu não prestar mais, desde ontem fica dizendo que tô sem internet (?)
Tive que vir numa lan house postar fudjfsjdjsjd auge
Tudo por vcs ♡

Garoto Promissor (Ciro x Boulos)Onde histórias criam vida. Descubra agora