Vibrações - pt. 1

330 39 193
                                    

19:59

Resolvi variar hoje e vestir uma camisa azul. Sei que fico bem de rosa, mas tenho mais do que as duas camisas de sempre.

Ainda insisto um pouco para que alguém venha comigo, mas não obtenho sucesso. Não sei se pensam que políticos são os monstros que vivem embaixo das camas, mas prefiro não julgar.

Admito que tenho um pouco de receio de pedir um Uber, mas acaba que a motorista é uma apoiadora. Sinal de sorte.

Já na frente do hotel, algumas pessoas também me reconhecem e falam comigo. É até animador encontrar apoiadores na rua assim; faz dias que não sou xingado por aí. Sinal de sorte também.

Na recepção, uma moça sorridente me cumprimenta e diz que minha entrada já está liberada. Sem muito alarde, me encaminho até o elevador. Eu não sei quais são as intenções dos donos de hotel pra sempre reservarem uma suíte no 13° andar pro Fernando, mas até que é engraçado.

Assim que saio do pequeno cubículo, ouço uma risada alta. Já ouvi o suficiente pra saber que pertence a ninguém menos que Lindbergh Farias. Me sinto um pouco aliviado, já que posso afastar de minha mente o pensamento levemente irritante de que Fernando estaria criando desculpas pra ficar sozinho comigo.

Não é preciso procurar muito até achar a porta com o número 1310, já que é a primeira porta na frente do elevador. Dou uma batidinha, imediatamente me arrependendo de ter batido fraco demais. Depois de alguns segundos, estou convencido de que não fui ouvido mas assim que decido bater de novo, a porta se abre e sou recebido por um Fernando de risinho no rosto. Antes que ele possa falar algo, porém, Lindbergh se anuncia primeiro do outro lado do quarto:

- Guilherme! Há quanto tempo, meu amigo. Chegue aqui, não se acanhe.

Olho por cima do ombro de Haddad e vejo que meu interlocutor está sentado na cama, encostado na cabeceira. Ao lado dele, na mesma posição, Manu ri com uma taça na mão.

- Estamos entre amigos. - Ela diz, alegre.

- Falou tudo, Manu. Só é uma pena que você esteja sozinho, Guilherme... Pensei que ia ter a chance de conhecer o Juliano hoje.

O olhar risonho que Manuela lança ao senador me dá uma pista do motivo do interesse. Dou de ombros.

- Ele não quis vir, e olha que insisti.

- Pena. Ele é um homem inteligente. - Fernando finalmente fala algo ao fechar a porta delicadamente. Em seguida, me guia até um grande sofá que suponho que foi arrastado para perto da cama. Então, me entrega uma taça de vidro grande. - Está servido? Temos vários vinhos aqui.

- Somos convidados VIP do hotel. - Percebo que a taça na mão do Lindbergh está meio vazia e que o sotaque dele está mais forte que o normal. Há quanto tempo será que eles estão aqui bebendo vinho?

- É, eu vou aceitar sim.

Com um sorriso, Fernando preenche minha taça com um vinho proveniente de uma garrafa de aparência cara. Interessante.

Ele faz o mesmo com sua própria taça e se senta em um tapete em frente à cama e ao sofá. Tento não montar teorias sobre o porquê de ele não ficar ao meu lado no estofado, mesmo tendo espaço de sobra.

-//-

Depois de uma hora de conversas sobre campanha, alianças políticas, vinhos caros (que não entendo), fascismo e Chico Buarque, a segunda garrafa de vinho vazia é colocada no chão. Não demora até que puxem uma terceira.

- Vinho branco? Adoro! - Manuela, já bem animada, exclama.

Levanto uma sobrancelha.

- Não sou o maior fã.

- Você tem que abrir essa mente, Guilherme. - Fernando, ainda sentado no tapete, estende o braço pra me entregar minha taça preenchida com o líquido transparente.

Não sei se é o álcool correndo no sangue ou a sensação de que a combinação de vinho e política não é nova na minha vida, mas tenho a impressão de que ele está sendo um pouco amigável demais.

- Toda bebida é boa entre amigos, Guilherme! - Lindbergh, que nesse meio tempo já tinha se deslocado para o sofá comigo e há alguns minutos foi para o tapete com Fernando, é visivelmente o mais alterado. Dou risada do jeito dele.

O vinho seco desce rasgando pela minha garganta, mas não acho ruim. Me sinto mais relaxado do que tenho me sentido há semanas nesse momento, entre risadas e algumas fofocas.

Entretanto, no meio de tudo aquilo, meu celular toca. Quase derrubo a taça pegando do bolso, e dou uma travada quando vejo que é Ciro. Não é incomum que ele me ligue à noite, mas logo hoje?

Sob os olhares atentos de meus acompanhantes, recuso a chamada. Espero que ele pense que estou dormindo.

Não funciona. No mesmo momento, o aparelho começa a tocar novamente.

- Bah, parece que alguém quer muito tua atenção. - Manu diz, se esticando um pouco pra tentar ver quem está me ligando.

Fernando sorri da curiosidade de sua parceira de chapa, apesar de que ele próprio parece interessado também.

Minha mente está anuviada demais pelo álcool pra tomar uma decisão rápida. Droga, eu devia ter mandado uma mensagem pra ele mais cedo, mesmo que fosse pra dar uma desculpa qualquer.

Felizmente, o aparelho não demora muito até que pare de tocar. Ficamos em silêncio um pouco, esperando que comece a soar pela terceira vez, mas coloco o telefone no modo silencioso de uma vez bem a tempo de bloquear o som da terceira chamada. Manuela, ainda muito curiosa, começa a montar teorias:

- Eu sei que a Natália nunca foi do tipo que fica no pé, então não é ela. Não vejo motivo pra alguém da campanha te ligar a essa hora...

- Olha só, o Guilherme tem um chaveirinho? Sempre achei que você tinha mais cara de ser um chaveirinho. - Lind se junta ao quadro de teorias, para meu desespero.

Levantando num pulo desajeitado, ele corre para meu lado para tentar olhar o celular. Guardo de volta no bolso, mas não rápido o suficiente.

- Ciro! - Ele cai na gargalhada. - Então eu estava certo. Você é o chaveirinho.

Manu e Fernando dão de ombros olhando um para o outro. Me dou por vencido e não me importo muito com o fato de que um senador da república que é mais de 10 anos mais velho que eu está rindo da minha cara. Sinto até vontade de rir também. No fim das contas, acho que me encaixo como um 'chaveirinho' mesmo.

--------------------

Bom dia genteee hoje tem cap bônus rs mas n faço ideia do horário pq to enrolada com umas coisas aqui kkkkk
Pra quem curte fic hétero aqui vai uma publicidadezinha: A nanatslia, uma leitora muito querida pra mim que nos acompanha desde que o primeiro capítulo de Garoto Promissor saiu no spirit ainda, escreveu uma fic da fic kkkkkkk que se passa junto com A Raposa e o Cordeiro
Como é difícil crescer aqui no wattpad, sugiro que vcs vão lá dar uma olhadinha!! A obra dela chama O Avesso
Aliás quem tiver seus trabalhos e quiser uma forcinha pra divulgar, fiquem a vontade pra divulgar aqui pois com certeza vou olhar rs tô procurando fics pra ler
E quem quiser escrever uma fic da minha fic também fique a vontade. O universo é livre, eu n reclamo n auahaushsh
Boa leitura e vcs são top 😍

Garoto Promissor (Ciro x Boulos)Onde histórias criam vida. Descubra agora