Metáforas Sem Fim

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Algumas horas depois
Rio de Janeiro - RJ

Mais um dia, mais um hotel. Já faz dias que não durmo em casa e a saudade da família tá começando a apertar. Pego o celular pra mandar uma mensagem pra Natália e logo vejo que ela mandou algumas fotos das nossas filhas dormindo com ela de madrugada.

Na legenda, lia-se "Laura e Sofia com saudade do pai, mandaram muitos beijos"

Rio, olhando pras fotos por mais tempo que o necessário. Decido que hoje vou dormir em casa independente de agenda de campanha.

Com um sorriso no rosto e já pensando em ir pra casa no fim do dia, resolvo tomar um banho; afinal, depois da noite de ontem não diria que estou exatamente limpo.

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Rindo alto no meio da rua, parecemos mais um bando de arruaceiros do que uma equipe de campanha presidencial. Isso é normal, já que somos vistos como baderneiros de qualquer forma. Já percebi que é algum tipo de atitude imoral para um político se parecer com uma pessoa comum, e é exatamente por isso que não faço questão de parecer incomum.

Em um grupo de 5, esperamos sorridentes em um ponto de ônibus a chegada da van do PSOL que nos levará até o Sindicato dos Comerciários.

- Pelo que eu sei, teremos que competir por atenção. Outros candidatos também estarão na cidade ao mesmo tempo que nós. - Juliano fala, em tom informativo. - Em eventos diferentes e provavelmente horários diferentes, mas estarão.

- Esse jogo consiste em uma eterna competição por atenção, no fim das contas. - Respondo, recebendo acenos de concordância.

Depois de alguns dias, finalmente descobri o tratamento da política como um "jogo" pra muitos políticos com quem conversei. Tudo depende de mexer as peças certas e esperar por resultados. Me recuso a participar dessa besteira, no entanto. Vou apenas seguindo, e quanto mais pessoas ouvirem nossa voz, melhor.

Discutimos alguns detalhes sobre a palestra que darei dentro de poucas horas, e subitamente outro grupo de campanha chega e fica próximo de onde estamos.

- Olha quem está ali. - Ouço alguém perto de mim dizer.

Olho para o lado, e ninguém menos que Marina Silva com sua equipe esperam o transporte a alguns metros de nós.

A equipe dela é composta pelo dobro de pessoas da nossa, mas mesmo assim parecem menos. De pé em silêncio e com a postura correta em volta da líder de chapa, se assemelham um pouco a robôs. Acho muito engraçado.

Resolvo me aproximar pra fazer um pouco de social, e os integrantes do grupo de campanha imediatamente me analisam de cima a baixo para verificar se venho em paz. Tenho que rir um pouco.

- Podem deixar, gente, o Guilherme é sempre uma boa companhia. - Marina anuncia, sorrindo.

Assim, ela se afasta um pouco da aglomeração e a acompanho.

- E então, Marina, como estamos?

- Bem. Hoje tenho apenas um evento de campanha e logo posso voltar pra casa. Essa rotina é extremamente desgastante.

- Eu concordo. Todo mundo precisa de um tempinho pra respirar.

Falo isso, mas eu mesmo não tenho tido nenhum tempo pra respirar há vários dias. Meus ombros estão constantemente doloridos e às vezes não tenho tempo nem de fumar um cigarro.

- Você devia seguir seu conselho, sabia?

- Já estou acostumado a estar sempre ligado no 220V.

Não é mentira. Minha rotina é corrida, mas esse novo normal está sendo um pouco anormal demais pro meu corpo. Procuro não admitir isso nem para mim mesmo.

- Eu acredito.

- Eu já conheço esse seu tom irônico, viu?

Ela ri, e eu deixo escapar um sorrisinho. Percebo que nossas equipes de campanha nos observam atentamente, alguns metros atrás de nós. Alguns franzem as sobrancelhas, me fazendo deduzir que não conseguem ouvir direito o que se passa. É um ponto positivo.

- Eu falei com o Haddad, há pouco. Estamos no mesmo hotel. Ele me perguntou sobre você. - Marina diz, um pouco baixo, depois de alguns segundos.

- Perguntou o quê?

- Se eu sabia onde podia te encontrar. Acho que ele quer conversar com você. Eu diria pra mandar uma mensagem.

- É, eu acho que vou fazer isso.

Fico pensativo. O Haddad tem se aproximado de mim bem rápido durante esses dias. Penso em tudo que Ciro falou, e isso só me deixa mais confuso.

- Posso te fazer uma pergunta, Guilherme? Me desculpe se for pessoal demais.

- Pode, acho.

- Você sabe onde está se metendo, não é?

- Perdão?

- Com... Esses dois. Eles são uma dupla difícil. Há muita história por trás.

- É, eu tenho uma noção disso.

- Nesse caso, menos mal. Apenas olhe muito bem por ande anda; qualquer passo em falso pode ser fatal.

Essas metáforas sempre me quebram.

- Como assim?

- O lugar não é muito oportuno, meu jovem. Vê aquele rapaz ali, na minha equipe, de camiseta azul? - Ela sussurra, apontando para um homem de semblante sério na faixa dos 40 anos. - Aquele é o Carlos. Ele deu um passo em falso na direção do Ciro há muitos anos, e isso acabou trazendo consequências sérias. Coisas indizíveis.

Ainda não entendo, mas a ideia começa a se formar na minha cabeça. Aceno para ela.

- Eu vou tomar cuidado.

- Obrigada, Guilherme. Bem vindo ao jogo político, onde nada é o que parece.

- Guilherme! - Até levo um susto quando Juliano me chama, o que faz Marina dar uma risadinha. - Vamos, irmão!

Olho pra trás e observo que nossa carona chegou.

- O papo tá muito bom, Marina, mas já tenho que ir.

- Muito bem. Boa sorte nos seus compromissos.

- Pra senhora também.

A passos rápidos, vou até a van e imediatamente puxo o celular. Não dá mais pra ficar tentando adivinhar o que esse cara quer comigo. Isso está ficando misterioso demais pro meu gosto.

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Boa tarde gentee
Gostaria de informar que o horário de postagem passou para a faixa de 13h/14h pq bastante gente tava reclamando que cedo da manhã a fic tava atrapalhando outras coisas uahsauhs então tá aqui
Para todos que me mandaram mensagens de apoio ontem: muuuito obg mesmo. É crime me demitir por razões ideológicas mas meu chefe já tinha concordado em me pagar as indenizações necessárias antes de eu pedir algo pra justiça kkkkk no final vai dar tudo certo, porém agora eu acho que vou mudar de cidade (ainda não sei que dia, mas é no mês que vem). Se for atrapalhar a rotina de postagem, eu aviso vcs!

Garoto Promissor (Ciro x Boulos)Onde histórias criam vida. Descubra agora