Garoto Promissor (Ciro x Boulos)

BÔNUS: Pit Stop

Alguns minutos depois

POV Haddad

Encostado sozinho na parede do corredor, me sinto um pouco estranho. Deslocado. Eu já imaginava que ficar perto do Guilherme hoje seria uma tortura silenciosa, mas não pensei que as sensações fossem adquirir tanta intensidade.

Eu não posso continuar assim. Meu relacionamento com ele é tão importante pra campanha quanto é pra mim. Mas, céus, como é possível que Ciro fique pairando como um fantasma sobre mim mesmo indiretamente depois de tantos anos?

Meu cabelo me irrita, caindo na minha testa e me obrigando a passar a mão a todo momento. Há dias me sinto facilmente irritável; isso me incomoda profundamente. Não consigo mais esconder de mim mesmo: não estou bem.

- Fê? - Ouço Manuela me chamando. O apelido é inconfundível.

Quando olho para o lado, ela está na porta do salão com uma expressão confusa. Dou meu melhor pra parecer normal.

- Sim?

- Tá tudo bem com você?

- É... Tá sim. Eu só... Preciso pensar um pouco.

Ela se aproxima e segura meu ombro. Como sempre, o toque faz eu perceber o quanto estou tenso. Relaxo um pouco.

- Você não sabe mentir, Fernando.

Suspiro.

- Desculpa.

- Ei, tá tudo bem; ninguém vai te culpar de nada. Quer ir pro quarto? A Ana Estela está lá.

- Eu não posso me ausentar de um evento de partido assim. Tenho responsabilidades.

Ela sorri. É a única além de Estela que conhece de perto meus momentos de fraqueza, que se tornam cada vez mais frequentes. Ela é mais forte do que eu.

- Agora o pessoal só está criando laços pra fortificar depois. Gleisi e Lind cuidam bem disso, você sabe.

- O cabeça de chapa sou eu.

- Acima disso, você é Fernando, lembra? Pai, esposo, professor e um grande amigo. Uma pessoa como qualquer outra.

Não, eu não sou uma pessoa como qualquer outra. Sou um político, um candidato a presidência. Sou o meu partido. O que acontece por fora disso pode esperar. Fui burro em me envolver em problemas emocionais dentro desse ambiente, e agora tenho que aguentar.

- Não é isso que eles vêem, Manu. Eu preciso estar impassível e tenho falhado nisso.

- Você não falhou em nada.

- Falhei. Em muita coisa, aliás.

Manuela afasta pequenas mechas de cabelo que continuam insistindo em cair no meu rosto. Não adianta muito, já que elas saem do lugar segundos depois.

- Tenho que cortar isso. - Digo, olhando pro chão.

- Você pode passar num salão antes de ir pro estúdio. Temos tempo.

- É, verdade.

Como se não pudesse ficar pior, hoje ainda tem o debate. Depois da crise que eu tive pós-record, a ansiedade para esse último só me castigou ainda mais. Os resultados da reunião são favoráveis, mas ainda estarei na linha de fogo de cinco outros candidatos.

- Fê. - Manu chama minha atenção, me fazendo levantar o olhar. - Você não quer falar o que aconteceu?

Penso sobre isso por um momento. A única coisa que ela sabe é que algo aconteceu. Ela não sabe do episódio lamentável com o Guilherme, e não sabe das sensações horríveis que isso provocou em mim. Apesar de eu querer falar tudo pra alguém, não acho que seria a melhor coisa a fazer.

- Ainda não, desculpa.

- Não fica assim, amigo, não vou te forçar a nada. Quando estiver pronto eu vou estar aqui, mas não fica guardando tanta coisa no peito, tá? Isso vai fazer muito mal pra você.

- Eu prometo que não vou. - É mentira e eu sei disso. Ela provavelmente sabe também. Estou me remoendo por tudo nesse exato instante. - Vamos entrar de novo. Já estou melhor.

Minha parceira de chapa não parece convencida, mas opta por não me pressionar. Agradeço mentalmente por isso.

Ela enrosca o braço no meu e voltamos juntos para o salão. O pequeno grupo continua dividido em duplas ou trios e a única pessoa que olha diretamente pra nós é Guilherme, ao longe. Consigo sustentar o olhar por certo tempo, mas ele logo desvia e coloca as mãos no bolso. É aí que percebo quem está na frente dele. Ciro.

- Pensei que tinha ido pro quarto. - Gleisi se aproxima de nós, felizmente me distraindo deles.

- Não, eu preciso conversar com algumas pessoas ainda.

- Muito bem. Preciso que você converse com o Cid Gomes, já que é amigo dele. Aquele homem não me suporta e não faz questão de disfarçar.

- Por que Cid e não Lupi? - Manuela pergunta o que está em minha mente.

- Confie em mim. Ele tem mais influência sobre o Ciro e parece mais aberto a negociar. Lupi continua o mesmo crápula de sempre.

Lindbergh normalmente é o responsável pelas negociações mais difíceis, mas quando procuro o homem com os olhos, vejo que ele mantém uma conversa animada com o presidente do PSOL. Sorrio um pouco. Ele pegou uma simpatia pelo garoto, e não vou tirar ele de lá por um capricho meu.

- Tudo bem.

Solto meu braço do de Manuela e sigo a passos calmos na direção de Cid. Nunca conversei com ele sobre campanha e não falamos diretamente há meses, mas não deve ser difícil. Ele é um político excepcional, assim como o irmão. Entende disso.

O homem sorri quando vê que eu me aproximo dele e aperta minha mão sem hesitar. Bom sinal.

Ainda olho para Ciro e Guilherme, conversando à nossa esquerda. Os dois estão olhando em nossa direção, mas não demoram a voltar a prestar atenção um no outro. Ciro, especificamente, não parece incomodado, o que é um milagre.

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Pronto gente aushauaha agora só sábado
Boa leitura ♡