BÔNUS: O Último Coquetel - pt. 2

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POV Ciro

Eu consigo ver na cara dele. No momento que as palavras saem da minha boca, tenho vontade de pegar de volta porque eu já sei a resposta. O jeito com que ele passa a fitar meus sapatos é inconfundível.

- É sério que tudo isso é ciúme, Ciro?

- Claro que não.

- Então o que é? - Ele volta a me olhar nos olhos.

- Preocupação.

- Ah, conta outra, né?

- Eu tô sendo sincero com você, criatura.

A ansiedade começa a borbulhar no meu estômago. Eu não sou o mesmo de antes, sei disso. Mesmo assim, não consigo evitar de levantar um pouco a cabeça pra olhá-lo de cima para baixo quando ele me analisa. O movimento novamente tem a reação contrária à que eu esperava. Ele imita o gesto, e isso me dá arrepios.

- A gente bebeu bastante, e ele tentou me beijar. - Ele fala devagar. - Feliz?

Engulo em seco. Isso é bem melhor do que eu esperava, mas mesmo assim é um baque maior que o antecipado. Ele começa a balançar o pé, e me sinto um pouco perdido.

- Se você diz que ele tentou, é porque não conseguiu. - Forço o tom de voz mais normal que consigo.

- Ele deu pra trás... - Ele parece que vai continuar a frase, mas não fala mais nada.

- Como é que isso aconteceu?!

- Eu não sei, Ciro.

- Como não sabe? Ele só tentou te agarrar e você não fez nada?

Dou um passo para frente, e ele dá um passo para trás.

- Claro que não.

- Você ia beijar ele? - Insisto.

- Por que você se importa?

- Por que sim, homem! Só me diz: Você ia?

Isso é errado, eu sei que é. Minha vontade é de pegar ele pela gola e arrancar a resposta, mas a noção de quão inapropriado isso seria me trava inteiro.

- É, talvez. E daí?

Fecho os olhos e respiro fundo. Minha cabeça começa a doer um pouco. Como isso é possível? Há alguns dias tudo estava bem, e eu tinha o Guilherme só pra mim. Hoje, novamente, me lembro que Fernando sabe jogar esse jogo muito bem e nem ele mesmo tem ideia disso.

Pra piorar, lidar com o Guilherme é muito mais difícil do que eu pensava. A reação dele foi diferente do que eu tinha em mente, e eu nunca tinha visto ele assim.

Não importa o que eu faça, sou sempre eu quem termino correndo atrás dele. Eu nunca entendo. Será que eu estou velho demais pra acompanhar o ritmo de alguém tão mais novo?

Diante do meu silêncio, ele fica visivelmente mais impaciente.

- E daí, Ciro? - Repete. -  Me dá UM motivo plausível pra você ter armado toda essa cena. Eu só quero um.

Só um motivo. Só um. Por que é tão complicado formular uma única frase?

Procuro na minha mente desesperadamente sobre alguma experiência passada pra saber como lidar melhor com isso, mas eu nunca precisei me explicar pra ninguém.

- Eu... Não sei.

Me sinto idiota. Ele está certo. Cid está certo. Tenho que fazer um esforço ridículo pra não deixar meus ombros se curvarem demais, já que estamos em público. Esfrego o rosto. Não posso ficar assim agora.

Fernando. Isso é culpa dele. Pensei que já tivéssemos colocado tudo isso pra trás, mas parece que ele está disposto a desenterrar ossos que ninguém mais procurava.

- Ciro, olha aqui pra mim. - A voz de Guilherme está muito mais suave que antes, mas quando levanto o olhar, percebo que ele ainda está mais sério que o normal. - Eu gosto muito de você, de verdade. A última coisa que eu quero é te magoar, mas entende uma coisa: Eu não sou algum bicho de gaiola. Não vou tolerar me sentir assim.

- É claro... Eu sei disso. Nunca foi minha intenção fazer você se sentir dessa forma.

Ele levanta uma sobrancelha.

- Tudo bem.

Ainda tenho milhares de perguntas, mas não posso me atrever a falar sobre isso agora. Me sinto sobrecarregado e com a necessidade de um abraço, mas nao há a menor chance de eu conseguir me aproximar dele agora. Todas as luzes vermelhas estão ligadas indicando perigo.

É ele quem coloca uma mão na minha nuca, porém. Suplico silenciosamente a ele para que me abrace, mas ele não o faz. Suspirando longamente, ele apenas desliza a mão pelo meu ombro por não mais do que dois segundos e logo se afasta. Não apenas nosso contato físico cessa; Guilherme também coloca as duas mãos no bolso e faz menção a sair de perto de mim.

Isso é mais do que eu posso suportar agora.

- Ei, não vai. - Seguro seu braço antes que ele se mova.

- Por que não?

- Eu já te deixei ir uma vez hoje, e não pretendo repetir a dose.

Ele sorri, e um alívio imediatamente toma conta de mim. Senti mais saudade desse sorriso do que estou disposto a admitir.

- Seu pessoal não vai sentir sua falta?

Giselle sabe que eu não tenho muito tempo pra ficar com ela nesse tipo de evento, e eu sei que Cid vai me cobrir em qualquer emergência. É perigoso sim, mas me sinto seguro o suficiente.

- Eu não ligo. Só quero passar um tempo com você.

Até porque se eu não fizer, Fernando o fará. Isso eu não vou permitir.

O procuro no meio da multidão. Ele não está mais com Ana Estela, mas sim em pé em um canto com Gleisi e Manuela. Parece sentir meu olhar, já que olha de relance para mim. Instintivamente coloco um braço nos ombros de Guilherme, e ele desvia o olhar de nós. É bom mesmo.

Alheio à situação, Guilherme não reage ao meu contato súbito. Ao lado dele, eu não me sinto tão sozinho, ao menos. Só uma demonstração simples de afeto faz eu me sentir melhor do que qualquer coisa que Giselle pode me oferecer.

Não vou soltar assim tão fácil.

Garoto Promissor (Ciro x Boulos)Onde histórias criam vida. Descubra agora