Garoto Promissor (Ciro x Boulos)

Estranhamento

POV Guilherme

O dia de campanha passa rápido. Apresento minhas propostas e participo de uma sabatina da UFMG, que é minha zona de conforto. Aparentemente, a aceitação do meu plano de governo é maior entre universitários e falar sobre minhas ideias me deixa à vontade.

- É preciso discutir dentro das escolas racismo, porque os jovens negros estão sendo mortos por uma política de segurança desastrosa. É preciso discutir dentro da escola machismo. O Brasil é o quinto país no ranking de violência contra a mulher. É preciso discutir dentro da escola diversidade sexual e LGBTfobia. O Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo. - Discurso, recebendo aplausos dos presentes.

É satisfatório discutir minhas propostas com pessoas que têm mais empatia do que uma porta, diferente dos representantes da velha política que encontro nos debates.

À noite, participo de um comício no centro de Belo Horizonte. São provavelmente meu tipo favorito de evento de campanha, pois discutir sobre o tecido social com o povo é a forma mais adequada de exercer a política desde a pólis grega.

Retorno ao hotel já um pouco tarde, às 22h30. A primeira coisa que faço assim que estou sozinho é mandar um oi para Ciro. Em segundos, recebo uma resposta:

"E aí?"

"Acabei de chegar no hotel, estou morto"
"Pena. Depois desse dia descansando e estou quase novo em folha. Passei o dia sentindo sua falta, porém."

Sorrio ao ler.

"Eu queria ter mandado mensagem antes, mas foi tudo bem corrido. Pelo menos passou rápido."

"Sem problemas, nunca fui do tipo que exige. Deu tudo certo nos eventos de campanha?"

"Tudo correu como o planejado. Você passou o dia fazendo o quê?"

"Quando não estava gravando propaganda para a TV, estava tweetando. A campanha nas redes sociais tem ido bem."

Passamos alguns minutos conversando sobre campanha, até que Ciro me manda a seguinte mensagem:

"Hoje falei com o Fernando, soube que ele está em Minas também. Chegou a falar com ele?"

"Sim. Ele avisou que quer falar comigo hoje, na verdade. Daqui a pouco mandarei mensagem a ele."

Ele passa um tempo anormalmente grande digitando para então enviar uma mensagem curta:

"Sobre o quê?"

"Não sei, ele disse que queria tratar apenas pessoalmente e não questionei muito"

Ele visualiza na hora, mas passa vários minutos digitando mais uma vez.

"Tome cuidado, ok? E cheque comigo qualquer informação suspeita."

Tomo um susto; isso está ficando cada vez mais estranho. Sei que a relação entre o PT e o PDT não está entre as melhores no momento por causa de dramas de campanha, mas isso está esquisito demais pra ser jogo político simples.

"Tudo bem"

Depois disso, ainda conversamos por alguns minutos, mas logo aviso que tratarei dos assuntos com o Haddad. Ciro concorda e não fala mais nada que seja suspeito demais, então fico em uma curiosidade ainda maior.

Logo em seguida, portanto, mando uma mensagem a Haddad avisando que podemos conversar agora e ao visualizar, o mesmo me liga.

- Guilherme? - Ele chama com sua voz habitualmente calma, assim que o atendo.

- Sim, sou eu.

- Descobri mais cedo que estamos em um hotel bem próximo um do outro. Podemos nos falar ainda hoje?

- Podemos sim. Onde?

Olho no relógio e chego à conclusão de que isso provavelmente terminaria muito tarde e tenho que acordar cedo amanhã, mas a curiosidade é grande demais.

- Quer vir aqui ou prefere que eu vá até aí?

- Acho que prefiro ir aí. - Não quero causar nenhum constrangimento a ninguém, e um ex prefeito/ex ministro andando por aí de noite chamaria muito mais atenção que eu.

- Tudo bem. Vou te mandar a localização, pode ser?

- Ok.

- Obrigado.

Sem tchau nem nada, ele desliga. Estranho.

Porém, logo recebo uma mensagem com a localização e vejo que realmente é muito perto daqui. Bristol Merit Hotel, há poucas quadras de onde estou. Não esperava que um homem como ele ficaria em um hotel 4 estrelas, mas encaro isso como um tipo de surpresa boa.

Tomo um banho rápido e troco de roupa apenas pra não aparecer lá sujo e encardido.

Por via das dúvidas, bato na porta ao lado e peço a chave do carro que o PSOL nos emprestou para garantir segurança. Apesar de me olharem com uma cara um pouco estranha, não me perguntam nada e fico até aliviado com isso.

Saio do hotel pela porta de incêndio já que são apenas três andares para descer de escada e logo vou até o estacionamento subterrâneo pegar o carro. As câmeras de segurança me incomodam um pouco mas me convenço de que ninguém ia querer usar imagens minhas saindo de um hotel de carro no meio da noite para um destino misterioso.

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Eita que no próximo a coisa vai ficar feia hein! Tenho mais de uma versão do próximo cap e dependendo da reação de vcs tanto aqui quanto no spirit vou decidir qual postar.
Bom dia pra vcs ♡