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lorenzo

Me deixaram fazer uma ligação.
Minha mãe estava vindo pra delegacia pagar a fiança, coisa que ela não estava feliz em fazer.
E sei que ela está menos feliz em pisar na delegacia e mentir descaradamente.

— Lorenzo Coban? — Ouvi a voz de um policial que estava em frente a entrada da sela, automaticamente me manifestei levantando a mão — Sua fiança foi paga. — Disse abrindo o cadeado, e quando a sela foi aberta saí da mesma sem olhar pra trás, com o homem em meu encalço.

Pude pegar minhas coisas de volta, como celular, relógio e afins após assinar uma documentação, e enfim pude descer, indo rumo a recepção, avistando minha mãe ao longe, dentro de sobretudo escuro, saltos, como essas senhoras ricas e esnobes da TV. Ela com certeza acha que se fingir que é uma senhora da alta sociedade iriam me libertar antes dos outros. Acho que deu certo.

Me aproximei devagar, tendo os olhos dela sobre mim.

— Vamos? — Chamou seca, tendo dois policiais nos observando. Acenei positivamente com a cabeça e saimos dali, e fomos em silêncio até o carro.

Então ela se virou para mim. — Seu pai está uma fera. Se prepare. Eu não vou brigar, mas tenho que pontuar, estou decepcionada, porque você sabe o que isso implica, não esperava isso de você, não te criamos pra isso. — Disse me fazendo engolir em seco. Merda, acho que quero voltar pra sela.

— Mãe, eu definitivamente não queria ser preso e nem causar essa situação. — Fui sincero.

— Eu sei, Lorenzo. Mas você tem que tomar cuidado meu filho, é muita coisa em jogo, só não se encrenque, não consigo ficar sem você e seu pai, meu amor. — Disse mais branda, e me abraçou, a envolvi em um abraço apertado. Eu odiava os decepcionar.

— Ontem eu estava com você no colo, agora você me espreme inteira, isso é errado. Você pra mim é só um menino, um menino que foi em cana. — Disse com a cabeça contra meu peito.

— Ah não mãe, é madrugada, sem sentimentalismo agora. Vamos pra casa. — Murmurei rindo.

— Pois é, e se prepare. — Disse se afastando de mim e abrindo a porta do motorista. Se prepare Lorenzo.

Sei que sou um homem, maior de idade que em tese não precisaria se preparar para uma bronca, mas digamos que não vivia como um, trabalho na adega com meu pai, não fui pra faculdade e não posso ter um emprego normal porque documentação pode ser um problema, pior que a atenção. E atenção é o que minha família não quer chamar. Eramos um trio e tanto, acho que a relação pai, mãe e filho era muito forte por isso, diferente de muitas familias, o vínculo era grande, afinal eu sabia que só os tinha, e claro, eles só tinham a mim.

Quando chegamos em casa, adentramos pela porta principal do apartamento e eu já estava esperando o esporro do século, mas meu pai estava jogado no sofá da sala, dormindo, bem pesado.

Minha mãe olhou de mim pra ele e soltou o ar, levemente frustrada.

— Amanhã, seu pai vai estar uma fera, eu garanto! — Avisou em tom de ameaça, me fazendo rir.

— Boa noite, dona Carter. — Falei beijando sua bochecha e apertando seu rosto entre as mãos.

— Para garoto! — Disse se desvencilhando de mim, me fazendo rir e prosseguiu. — Boa noite, e por favor filho, amanhã acorde com juízo, sim? — Questionou e assenti. Era complicado.

Fui rumo ao meu quarto, ouvindo ela tentando acordar o meu pai. Ia ser difícil. E como ele, tudo o que eu queria, era dormir.

Pela manhã, acordei com o barulho de uma coisa se estilhaçando, possivelmente na cozinha e minha mãe gritando "Quebra mesmo, é você que compra!", ou seja, Cretino tinha começado logo cedo. Me levantei com preguiça sabendo que não escaparia de ir trabalhar, e fui quase me arrastando até o banheiro para tomar banho, seria um longo dia.

ResoluçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora