v i n t e e t r ê s

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lorenzo

O negócio está fechado. — Disse senhor Stanton, apertando minha mão.

— Nós ficamos muito felizes com sua escolha. — Falei a ele, um maltês, dono de um pub conhecido em Valletta.

Eu estava trabalhando como supervisor geral de uma vinícola aos arredores de Positano, uma cidadadela pequena no sul da Italia, que transportava e comercializava seus vinhos para alguns lugares, como Sienna, Venice, Florença e Milão. E também para Malta, o que me traz aqui de tempos em tempos. Cheguei aqui na tarde anterior, e provavelmente só iria embora daqui a alguns dias, é época de férias e as ilhotas de Valletta e Gozo se enchem de turistas, o que é bem interessante.

E saí dali com a certeza que havia acabado de fechar um bom negócio.

Eu havia me especializado na coisa com o tempo, e gostava de trabalhar com as bebidas. Me lembrava meu pai... Faz tempos que não o vejo pessoalmente, apesar de saber que preciso ve-lo, principalmente agora que seu fígado resolveu reclamar pelos anos de bebedeira.

Ele era meu pai. Eu ainda era contra tudo o que ele fez e por isso vivo longe deles, seguindo a minha vida, mas vínculos... São vínculos.

Naquela tarde, a quase oito anos, antes que eu me despedisse de Malvie Wright, minha mãe havia me chamado em casa, me disse que precisava conversar comigo e que meu pai não estaria lá. Era mentira.

Tudo estava empacotado e embalado, as malas prontas pra uma fuga.

O Cretino e sua Garotinha estavam fugindo novamente. Mas eu não conseguiria ir com eles, por mais insistente que minha mãe fosse, me despedi dela ali, e segui sozinho para fora de Harrow naquela madrugada. Peguei um trem até a Itália, consegui um emprego, as coisas foram mudando, e cá estou.

Acho que vivi muitas coisas, trabalho braçal, dormir num quartinho com poucos metros quadrados, me desdobrei para pagar contas mínimas,  mas contei com senhor Vitorio que me deu uma oportunidade de um emprego melhor, e se estou vivendo bem hoje em dia foi graças a bondade dele comigo a uns anos... Já minha vida sentimental não passa do casual, sem deixar de mensionar uma tentativa falha de romance com Violetta minha vizinha, uma italiana pequena e invocada, (nosso caso terminou com ela picotando minhas roupas me chamando de canalha e eu nunca soube o motivo).

E minha aventura com Elisabeth, eu nem sei em qual momento nossa amizade se tornou amizade e algo mais. E éramos isso, amigos que transam quando se encontram, e como ela, é consultora de imagem de um grife importante, vem bastante a Milão, quando podemos nos vemos, desabafamos nossas frustrações e acabamos na cama.

E essa vem sendo a minha vida.

A margem, sempre sem chamar atenção demais pra mim, mas tentando seguir em frente de alguma forma.

Sai de meus pensamentos caminhando pelas vielas afuniladas,  do trânsito complicado em Valletta, ao achar o estabelecimento que procurava, e me guiei para um bar restaurante aconchegante  que havia a frente, eu ainda não tinha almoçado, e a culinária daqui é ótima. E havia ar condicionado o que era um alivio pra mim que nunca gostei de calor.

Talvez eu usasse meu tempo livre para ser mais um turista e dar um mergulho, cogitei ir para St.  Peter's Pool ou Blue Lagoon mais tarde, que tem as melhores e mais lindas praias de Malta.

Me sentei em uma mesa vazia e logo fui atendido, pedi apenas um risoto de frutos do mar e um suco natural de lichia para acompanhar.

Logo fui servido e comecei a comer sem nenhuma pressa, sentindo então depois de alguns instantes provando a deliciosa comida, um olhar sobre mim.

ResoluçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora