v i n t e e c i n c o

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malvie


(...)

— Coban! — O chamei, ele parecia distraído olhando seu celular, em meio ao jardim do hospital, mas ao me ouvir, se virou surpreendido. Acho que ele não esperava por isso, por eu querer algumas respostas.

Lorenzo estava diferente, estava mais maduro, sua expressão mais firme, além do físico mais robusto. Mas havia algo nas entrelinhas, entre a maturidade e do cara um tanto irresponsável que conheci em Harrow.

— Vai chamar a polícia? — Ironizou enquanto eu me aproximava. Sendo eu da Scotland Yard, não tinha jurisdição nenhuma fora da Inglaterra. E eu não tinha motivos para prende-lo, até onde sei. Confiando na carta que ele deixou.

— Você cometeu algum crime? — Rebati, tentando soar mais humorada do que a situação permitia.

— Não, não cometi. — Disse colocando as mãos dentro do bolso da calça jeans. As roupas ainda estavam úmidas e marcavam seu corpo e... Desviei o olhar afastando pensamentos inoportunos, indo direto ao ponto.

— O que está fazendo aqui? — Inqueri o olhando nos olhos. Eu não sabia sequer o estava sentindo, quando eu menos esperava reencontra-lo. Eram quase oito anos, muitas coisas mudaram.

E então ele riu desacreditado.

— Eu sou livre pra ir e vir, não? Malta faz parte da minha vida agora. Vocês foram a surpresa desagradável. — Disse ele. E o "desagradável" não deveria ter me ofendido depois de tudo, mas ofendeu.

— Coban, você saiu fugido de Harrow, Ulisses e eu nos desdobramos pro seu nome não ser vinculado ao assassinato do juiz. Mas seu pai o matou, ele é um foragido. Os crimes que ele cometeu nos Estados Unidos se prescreveram ou não, não é da minha conta, mas aquilo me afetou diretamente e você sabe disso. — Falei, eu queria ouvir a versão dele, só pra poder colocar uma pedra nessa história.

— Quer que eu te agradeça pelo que você e seu noivo fizeram por mim? Pois o meu pai eu não vejo há anos. — Soltou com escárnio, ele estava na defensiva. Mas o que chamou a atenção foi ele saber que Ulisses é meu noivo.

Jimmy seu fofoqueiro.

— Eu não quero seu agradecimento. — Fiz uma pausa, notando que eu não tinha o que fazer ali. Droga, o que eu estava fazendo? — Eu nem sei o que estou fazendo aqui tentando entender seus motivos. Passar bem, Coban. — Antes de ir, soltei —Mantenha seu pai longe da Inglaterra.

Quando lhe dei as costas, ouvi sua voz.

— A rosa dos ventos. — Disse, mas eu não me virei para olha-lo, apenas segui meu caminho e entrei de volta no hospital, me punindo mentalmente por que fui me submeter a isso, a ir atrás dele depois de tanto tempo. Era pra ser irrelevante.

"A rosa dos ventos" era o pingente da correntinha que ele me deu quando foi se despedir de mim. E eu ainda a tinha, no fundo do meu porta jóias, estava no meu apartamento, esquecido com o tempo.

Mas eu entendi o que ele quis dizer, referente ao que dissemos um para o outro naquela madrugada.

Um navegador, nada é sem uma rosa dos ventos em sem mapa. — Disse eu, algo que ouvi de uma professora de geografia quando ainda estava na escola aprendendo sobre os pólos, direções. Enquanto ainda olhava a correntinha.

— Não importa, onde estiver, em que pólo estiver, quando algo tem que ser, pessoas tem que se encontar, vai acontecer. — Disse Lorenzo, me causando estranhamento. Ele parecia... Melancólico?

Afastei essa lembrança, me perguntando se ele acreditava mesmo nisso, mas me policiei, eu não deveria ficar pensando nessas coisas.

Entrei então, na porta da enfermaria onde Peter estava, todos estavam conversando aos sussurros entre si, mas senti um único olhar sobre mim. Ulisses. Ele tinha um vinco na testa, aparentemente preocupado.

ResoluçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora