n o v e

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malvie

Abracei Summer que chorava em meu ombro, ambas sentadas no sofá do hospital.

Um mal súbito. Senhora Blanchard, da qual ela cuidava há cinco anos veio a falecer durante a tarde, e eu que vim passar a noite com Caius, cheguei um pouco tarde devido ao meu pequeno desvio junto ao infrator... E acabei também por ter que dar apoio a minha amiga que estava ali, desolada. Os filhos da senhora vieram de Liverpool e estavam cuidando do enterro. Mas Summer... Estava arrasada.

— Sun, eu não sei nem o que dizer. — Soltei, enquanto fazia carinho em seu cabelo.

— Não pr-recisa dizer nada. — Disse engasgada pelo choro. — Ela era como uma avó p-pra mim, eu a amava como uma Malvie. E... eu tinha um lar. — Soltou entre lufadas de ar, o rosto vermelho e inchado.

Summer só tinha o pai, e ele era alcoólatra e um tanto... Machista e hostil. Então aos dezessete anos ela conseguiu esse trabalho de acompanhante e cuidadora da senhora Blanchard, e se mudou pra casa dela... Se livrando do pai.

Agora... Ela já não tinha mais emprego e pra onde ir já que os filhos da mulher era intragaveis.

— Pode contar comigo, você pode ir lá pra casa, meus pais nunca se importariam. De qualquer forma logo você vai conseguir um novo emprego. Sabe aquele plano de morarmos juntas? Então... — Tentei dar soluções a ela.

— Obrigado amiga... Eu nem sei o que dizer. Mas eu não quero pensar em nada agora, sabe, ta doendo tanto. — Falou fungando deixando meu coração mais apertado, não queria a ver assim.

— Eu sei... — Murmurei sem ter muito o que dizer, só a abraçando para mostrar que estava ao lado dela. — Mas sabe que estou aqui com você, não está sozinha...

No meio da noite Summer foi embora, afinal o velório da senhora Blanchard seria durante a madrugada, então eu voltei para o quarto, e me recolhi na poltrona ao lado da cama de Caius que dormia em um sono pesado... Se eu pudesse iria com ela, mas meu irmão não podia ficar sozinho e ela insistiu que eu não o deixasse. De manhã quando minha mãe viesse, eu iria para o velório.

Eu mantive o abajur ligado, a verdade que era para papai passar a noite no hospital, mas ele pegou um resfriado e o Dr. Bailey não achou bom que ele ficasse, eu estava sem sono então continuei a leitura do livro que eu parei a há algumas semanas, Galvestone de Nic Pizzolatto. E talvez o personagem principal, tenha me lembrado a alguém, o criminoso Roy Cady, mesmo não tendo nada haver com o infrator (nada mesmo) me remeteu a ele.

Então eu fui obrigada a sorrir ao me lembrar de nossa conversa e a corrida, e me recriminei em seguida, afinal não havia motivo. Não tínhamos nada, além de um coleguismo, apesar dele ter flertado descaradamente comigo hoje. Bem... Lorenzo não é nada do que eu pensei que fosse, e eu talvez esteja simpatizando um pouquinho com ele. Só um pouquinho. E bem, ele é...

Um bom molhador de calcinhas, não que me afete, claro.

— Malvie? — Fui tirada de meus pensamentos inoportunos por Caius, que tinha a voz rouca por ter despertado.

— Sim? — Respondi colocando o livro de lado.

— Eu quero água. — Disse, então me levantei, indo até a uma jarra que tinha sobre o rack, e enchendo um copo com água.

— O que a... Spring queria? — Perguntou ele se referindo a Summer. Sim ele fazia trocadilhos com o nome dela.

— É Summer. — Corrigi pela milionésima vez, caminhando até a cama, o vendo se sentar devagar, pois além da contusão que gerou a cegueira, ele havia fraturado duas costelas. Eu o notava tentando captar onde eu estava pela voz.

ResoluçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora