Resolução

t r i n t a e t r ê s

malvie

Por mais incrível que pareça...

Passamos a manhã tomando instruções para nosso salto de paraquedas, para enfim, depois de certo receio vendo outros o fazerem, nós decidimos que se já estávamos ali, não era pra dar pra trás. Entramos naquele helicóptero junto aos instrutores, o salto era sempre sobre a a areia da praia (e eu até perguntei se aquilo não podia dar muito errado e as pessoas pararem em alto mar, o que na verdade até podia acontecer, apesar da queda ser mais precisa do que imaginei), e depois de milhões de  "Meu Deus, isso é loucura" vindos do Lorenzo e eu quase desistindo da idéia de saltarmos sem o instrutor, nos preparamos pra saltar juntos, segurando nas barras de amparo do helicóptero que era preparado pra saltos multiplos, com todo aquele vento batendo contra nós, e um mundo inteiro lá embaixo, ouvindo instruções claras do instrutor sobre quando deveriamos abrir o paraquedas acoplado em nossas costas.

O olhei de esguelha através dos óculos, ele assentiu. Eu respirei fundo, pegando em sua mão estendida, e então, num rompante de coragem, saltamos juntos.

Soltamos as mãos nos primeiros metros, em algum momento, e enquanto eu caía de braços abertos eu só conseguia gritar e sentir tantas coisas que eu sequer saberia descrever, e muitas delas era sobre abrir o paraquedas no momento certo porque eu não queria morrer. Quando achei que era hora, eu abri, conseguindo vislumbrar Lorenzo fazer o mesmo ao longe.

Minha aterrissagem foi a uns bons metros a frente dele, e o impacto nos meus pés ao pousar e correr sobre a areia da praia foi bem menor do que pensei.

Eu cai no chão, rindo, eufórica, mas logo com a ajuda de funcionários da agencia de paraquedismo, comecei a desfazer do equipamento de proteção e do paraquedas amarelo acoplado as minhas costas. Quando terminei, os agradeci rapidamente antes de correr na direção de Lorenzo que estava acabando de retirar seu paraquedas.

Não demorou para que eu saltasse sobre ele, o envolvendo em um abraço, ele quase perdeu o equilíbrio pelo susto, enquanto eu ria, com aquela adrenalina toda correndo dentro de mim.

O senti me apertar contra ele, tirando meus pés do chão, sorrindo contra o meu pescoço.

— Obrigado, foi incrível! — Soltei, pisando de novo no chão e me afastando levemente, segurando em seus braços, para olhar em seus olhos.

— Você gostou mesmo, não? — Disse com um sorriso largo no rosto, me olhando de uma maneira indecifrável.

— VAMOS DE NOVO! — Exclamei extremamente animada, o puxando pelo braço.

— Não quer deixar para outro dia? — Ele perguntou retesante, mexendo em seus cabelos que foram amassados pelo capacete.

O meu estava preso em uma trança que fiz antes do salto, mas mesmo assim não devo estar muito apresentável.

— Lorenzo... — Arrastei seu nome, notando que a euforia dele parecia diferente da minha.

— Sim?

— Você nunca mais vai saltar né? — Perguntei erguendo as sobrancelhas.

— Foi bom... Mas também foi horrível! — Ele declarou, rindo de nervoso. — Eu ainda não posso definir a experiência.

— Tudo bem, tudo bem. — Fiz uma pausa, afinal eu não ia forçar a barra. — Vamos deixar o salto, por algo muito mais interessante. — Falei pensando no que realmente estava me fazendo falta no momento.

— Como o que por exemplo? Eu posso pensar em milhares de coisas mais interessantes pra se fazer... — Disse com humor e certa malícia, me fitando descaradamente naquela sua feição clara de cafajeste.