d e z e s s e i s

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lorenzo

— Tem certeza que não tem problema ficarmos aqui? — Malvie perguntou em um sussurro, pois estávamos trancados no andar de cima da adega, deitados no sofá, simplesmente abraçados, sentindo nosso calor, sua cabeça estava sobre o meu peito enquanto eu deslizava meus dedos pelas raízes de seu cabelo.

Meus tênis e suas botas jogadas no chão, seu colete e armamento, em um canto perto do sofá.

E havia um Jimmy interrogativo, cuidando da adega lá embaixo.

— Não, não tem. O movimento durante a semana é devagar, principalmente pela manhã. — Falei pensando que graças a isso, meu pai também não deveria aparecer por aqui tão cedo. — Por que não quis ir pra casa? — Perguntei, brincando com seus dedos (uma mania estranha, recém adquirida) que estavam sobre o minha barriga. Ela havia me pedido para tira-la da delegacia. "Me leve pra qualquer lugar, Coban, só não quero ir pra casa" foi o que me disse.  E foi o que fiz.

— Eu não estou com vontade, sabe? Eu amo demais a minha família, acho que é até obvio isso. Mas... Eles devem estar uma pilha por conta do que houve, eu os entendo, mas só quero ficar quieta. Minha mãe deve estar surtando agora...

— Se eu tivesse um trabalho como o seu, minha mãe já teria enlouquecido. — Comentei imaginando a dona Carter me vendo numa situação dessas. Eu entendia a Malvie ser uma policial, gostar disso. Mas ontem de madrugada, enquanto eu assistia minhas reprises de Chicago Fire, quando Jimmy me mandou mensagens falando sobre a troca de tiros, a morte do policial. E que Summer disse que Malvie estava na operação... Foi angustiante.

Eu até tentei dormir, mas passei a noite toda em claro, andando de um lado pro outro, inclusive peguei com Jimmy o número da Summer, pedindo que ela me mantesse informado. E eu entendia muito bem a família dela ficar assim. Eu não sei se me acostumaria a ver a Malvie em perigo.

Acho que durante essa madrugada eu me vi avaliando muito o que essa policial faz comigo, e o quanto ela mexe comigo.

E talvez o estrago já estivesse feito.

— Quer que eu vá embora? — Perguntou ela, se erguendo um pouco para olhar em meus olhos.

— Eu não disse isso. — Falei, tocando seu queixo, ela sorriu minimamente, antes de voltar a deitar sua cabeça sobre o meu peito.

A ouvi supirar, se aconchegando ao meu corpo, o cansaço se fazendo presente em mim por não ter dormido... E provavelmente ela também estava, foi ai que algo me ocorreu.

— Malvie, você comeu alguma coisa?

— Não estou com fome. — Murmurou,  de olhos fechados.

— Mas você não pode ficar sem comer.

— Obrigado por se preocupar... Mas estou realmente sem vontade, mamãe.

— Certo. — Respirei fundo, vencido, ignorando seu deboche. — Você... Era muito amiga daquele policial? — Perguntei, um tanto retido, com receio de soar insensível nesse momento.

Verdade seja dita, não havia muito o que dizer para aqueles que perderam alguém. Por mais que diga que sente muito, ou que esta ali para a pessoa, no fundo sabemos que isso não anestesia em nada a falta de quem se foi. Mas talvez seja a forma humana de demonstrar a mínima empatia.

— Sabe qual o problema? Eu nunca pensei no Andrew como um amigo, mas ele era. Entende? Tem pessoas que estão sempre ali, e você não dá o mínimo valor. Então, quando elas se vão, você percebe a falta que elas farão. Andy, era aquele cara relaxado, estava sempre ali, mais um de nós, toda segunda trazia uma caixa de Donuts pra delegacia, e sempre falava das filhas gêmeas, são lindas, tem cinco anos de idade, ele vivia mostrando fotos delas no celular pra todo mundo, todo orgulhoso. — Sorriu em meio as lágrimas que deceram de sua bochecha — E ele morreu bem na minha frente Lorenzo, estouraram a cabeça dele na minha frente, o sangue dele ainda está em mim, foi do nada e por nada. Droga! E o Geoff não deixou a gente sequer ir atrás daqueles canalhas que fizeram isso.  — Completou totalmente frustrada, e isso sim eu era capaz de imaginar, e não podia classificar o que deveria ser presenciar isso, e estar impotente nessa situação.

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