Requiem - Michaeng [BR]

Redescobrindo

Sobre o dia de ontem eu só tenho uma coisa a dizer: Confuso. Desde que levantei hoje que venho tendo a mente ocupada com esses pensamentos, era estranho recapitular aquilo tudo e não ter uma certeza do que se tratou para mim. Não vou mentir dizendo que não gostei, muito pelo contrário, o fato de ter sido inesperado e ter acontecido da forma que foi, mexeu comigo de uma maneira que eu juntava forças para suprimir. Mas por outro lado havia uma ponta de dúvida, um traço de incerteza me rondava perguntando insistentemente se eu deveria criar expectativas.

Chaeyoung é uma garota incrível e às vezes eu tinha pensamentos um tanto quanto inusitados em relação a ela, mas a grande questão é se ela teria os mesmos pensamentos em relação a mim. Mesmo com tudo que ocorreu eu ainda me recusava a admitir que ela gostasse de garotas ou até mesmo de ambos, porque simplesmente não se encaixava ao seu perfil. Sua inocência fazia tudo parecer um erro, uma experiência, como quando uma criança faz algo de errado, mas você não a pune porque ela ainda é ignorante para tal coisa. Chaeyoung era um grande enigma para mim, às vezes ela se mostrava inteiramente mulher e outras uma total criança em termos de inexperiência para com a vida.

Por mais que eu tenha gostado do momento íntimo que trocamos, eu tinha quase certeza que não passava disso. Um momento. Eu estive no lugar errado, na hora errada e com a pessoa errada. Talvez se não fosse eu pudesse ter sido qualquer outra e era isso que me matava, essa gigante incerteza que eu nunca havia experimentado antes. Meus relacionamentos eram mais fáceis do que isso, você estava afim e pronto. Não tinha muito que pensar, nem muitas dúvidas a responder. Era algo real e quase tão sólido quanto uma pedra, você podia ver que estava ali e também podia ver quando se partia.

Já com Chaeyoung não, era tudo como um grande borrão, como uma massa de gás tóxico que me asfixiava a cada segundo em que eu me mantinha ali e, mesmo sendo diferente e doloroso, eu permanecia lá. O que mais me impressionava é que em poucos dias isso ganhou tamanha proporção dentro de mim e ela se mantinha tão impassível quanto podia. Às vezes eu me perguntava se ela era sonsa de alguma forma, se tinha noção de como agia e fazia isso, pois gostava de ter os outros a desejando de certa maneira. Mas ai vinha à inocência e o simples fato dela não ter tantos amigos assim para lançar por terra a minha teoria.

Hoje com certeza eu a veria novamente, o acordo com meu pai envolvia meu retorno à Juilliard e cá estava eu, na secretaria, esperando meu momento de ser chamada pela diretora para saber de uma vez por todos se eu voltaria ou não.

- Mina? - me desliguei dos pensamentos sobre Chaeyoung por um momento e me voltei à frente.

- Senhora Mendez? - perguntei já afirmando com um enorme sorriso no rosto e me colocando de pé para cumprimentá-la.

- Como você mudou, está mais radiante. - ela disse enquanto passava as mãos pelo meu rosto e descia pelas minhas mechas. Meu rosto corando bruscamente com o elogio inesperado. - Está tão linda, o cabelo cresceu, a pele menos pálida - nós rimos. Como se fosse possível eu sair do branco que me foi dado ao nascer - você tem um brilho diferente, principalmente nesses lindos olhos.

- Está insinuando que estou grávida? - ergui uma sobrancelha fazendo-a cair na gargalhada.

- Você tem os traços de uma, realmente - arregalei os olhos já me preparando para debater. - Mas espero que não esteja.

- Não vou te fazer titia tão cedo depois dessa.

- Eu não me importo, estou na flor da idade para me preocupar com afilhados ainda. - Ela continuava a mesma de sempre, mais uma pessoa que se mostrou me conhecer pelo meu verdadeiro eu, mesmo quando eu o escondia de todos.

Senhora Mendez era uma das professoras da faculdade e era conhecida por ser bastante carrasca e séria. Quando entrei aqui, lembro que ouvia os boatos e não via a hora de me bater com ela na sala de aula para poder enfrentar a fera e ver no que dava. Começamos com o pé esquerdo, no primeiro dia eu tratei de fazer um ótimo papel de mim mesma e arrumar encrenca com a velha, me lembro de discutirmos sobre minha capacidade vocal quando ela me chamou à frente para fazer os testes de voz e me disse que eu era desleixada.