As Melhores Coisas Do Mundo

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Voltamos no momento exato em que Sana parecia rebater seu primeiro Strike. Meus olhos saltaram ao constatar a veracidade da situação e meus passos se tornaram mais rápidos, até meu corpo encontrar a grade. Chaeyoung estava ao meu lado dessa vez e me encarava com um sorriso no rosto enquanto eu me dobrava em confusão.

- Ei - gritei o treinador, que bufou e se virou em minha direção com muito esforço - Porque ela está rebatendo?

Ele poupou palavras e apenas estirou o dedo na direção das arquibancadas. Chaeyoung soltou um "coitadinho" quando, ao mesmo tempo em que eu, fitou o garoto asmático sentado no colo de sua mãe, mais vermelho do que um tomate e mais ofegante do que um aspirador de pó. Eu sei que é insensibilidade, eu sei que é maldade, grosseria até, mas, diferente da mais nova, eu respondi com um riso anasalado que escapou ruidosamente dos meus lábios.

- Minari - Chaeyoung me repreendeu encarando-me com os olhos pequenos - Não tem graça.

- Desculpa, não é dele que eu estou rindo, é da situação.

- Strike dois! - gritou o árbitro chamando nossa atenção de volta à partida. Sana exalava tensão, tamanha era a intensidade que se tornava visível mesmo de tão longe. Suspirei um pouco aflita por ela, o placar continuava um a um e, pelo visto, ela seria a última a rebater. Odiava essas situações em que o peso de toda uma decisão caia sobre suas costas, dava pra sentir a ansiedade dos olhares, mesmo daqueles que juravam que o jogo seria bom independente do placar. Mas a vitória não estava tão distante assim, havia uma garota na segunda base pronta para correr a qualquer momento, seus olhos estavam semicerrados, atentos à base alvo da onde sairia seu sinal verde e onde ela encontraria a vitória.

- Vai Sana! - eu pulei com o grito repentino da minha namorada. Chaeyoung conseguiu chamar a atenção da irmã e agora trocavam sorrisos, um nervoso e um consolador. Era bonito ver a relação das duas, o amor era mais do que nítido e elas pareciam se conhecer incrivelmente bem, sabendo o exato momento de se impor em prol da outra.

- Vai Sana! - reproduzi de forma semelhante, pulando agora em meu lugar e apertando os dedos na grade. Um sorriso enorme tomava meu rosto sem que eu sequer houvesse me dado conta de sua formação - Você consegue, manda essa bola para longe!

A pequena sacudiu a cabeça parecendo acreditar em minhas palavras e se posicionou sacudindo o bastão, uma, duas vezes antes de se fixar em foco. De canto de olho eu vi Chaeyoung me sorrir de forma terna, eu conhecia aquele olhar, ela estava admirada. Fingi não dar muita importância e tornei a observar a jogada que se iniciaria. Era isso, você não precisava estar confiante o tempo todo, só precisava acreditar.

Como em um final de filme de drama, um daqueles em que o time de baseball deslocado leva a vitória, quase, inesperada, Sana rebateu com o que parecia ser toda a sua força e esbanjando a melhor das atuações da sorte. Pela primeira vez eu vi alguém acertar um rebatimento de olhos fechados. Minha boca se partiu em uma mistura de excitações que eu não soube nem como me expressar realmente. Meu corpo começou a chacoalhar e logo eu estava me lançando no ar e gritando, junto a todos os torcedores de carteirinha, para que as garotas corressem.

O jogo terminou e incrivelmente Sana deu a vitória aos Rangers, nem ela mesma parecia acreditar ser autora de tamanha conquista. Seus companheiros de time a carregavam pelo campo, acompanhados de perto pelo treinador que deu o primeiro sorriso desde que eu cheguei aqui. Chaeyoung estava agarrada em mim, tão estática quanto eu apenas observando o momento de alegria de todos e tomando parte dele para si. Eu parecia uma mãe orgulhosa ou ao menos acho que esse deveria ser o sentimento de uma mãe ao ver o filho conquistar algo, era tão extasiante, tão ridícula e imensamente bom vê-la esbanjar aquele enorme sorriso de dentes de leite.

Requiem - Michaeng [BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora