Razões E Ilusões PT2

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Recobrei a consciência ainda em um estado desconhecido. Eu estava diante de uma imensidão negra, nada se via, nada se sentia, nada se fazia presente ali. Meu olhar corria por todos os cantos, mas tudo se resumia no mesmo vazio. Era tudo muito estranho, parecia surreal. Eu não me sentia ali, essa é uma situação completamente estranha e complicada de se descrever. Aos poucos o vazio se tornou um subir e descer de meu peito, lá estava minha respiração novamente, ou ela sempre esteve ali e eu não havia notado. Foi só nesse momento que eu realmente senti o ar sair por minhas narinas, algo como quando você se dá conta de que está respirando depois de ter prendido o ar por longos segundos. Mas eu não estava cansada. Muito menos ofegante. O que aconteceu? Por que estou aqui?

Eu forçava minha mente para encontrar as respostas que, de alguma forma, eu sentia ter dentro de mim, mas absolutamente nada me vinha. Meus dedos se moveram e lá se foi mais uma surpresa minha. Agora eu tinha mãos também. A sensação percorreu meu corpo lentamente, do meu pescoço dolorido até a planta de meus pés, os malditos saltos ainda me apertavam na canela. Sim, eu estava de saltos, vestido, e arrumada... Um arrepio me percorreu com a memória da noite inteira voltando até mim. Convencer Chaeyoung a abandonar sua hora sagrada de estudos para me acompanhar no evento da empresa, me arrumar em tempo recorde. Eu varria todos os cantos da minha memória para encontrar as peças que faltavam nesse difícil quebra cabeças.

Então tudo me veio em um único flash. Eu me decepcionando comigo mesma por ter ido até lá apenas para tentar provar a mim mesma algo que eu suspeitava, Mark sobre o palco falando besteiras, a pequena pílula oferecida à toda aquela gente por ele. O ar me esvaiu lentamente quando me recordei do grito agudo de Chaeyoung, o desespero que senti quando, mesmo que por um segundo, pensei que ela estivesse sofrendo de alguma forma e, o desespero maior ainda, quando vi a meu próprio irmão estirado no chão como um cadáver sem vida. Mas então eu me lembrei do motivo de tudo isso. A maldita dor invadira meu peito novamente, dessa vez tão forte quanto pode, tão desesperadora que eu nem fui capaz de conter. Havia um grande problema nisso, eu sei que havia. Não foi apenas a dor. Não foi apenas Mark.

Meus olhos se espalmaram abertos e em um impulso estranho ergui meu corpo, sendo parada rapidamente no meio do caminho e caindo deitada onde eu parecia já estar antes. Ofeguei buscando ar quando meus pulmões pareciam ter esvaziado por completo, a saliva desceu fina pela minha garganta e então os mesmo olhos castanhos que me trouxeram desespero agora me traziam paz e relaxamento. Ela estava ali. Chaeyoung estava comigo e eu não sabia se agradecia ou se me desesperava novamente.

- Shhhhh - ela soltou baixinho com o rosto próximo ao meu, meu rosto se aquecia com o toque brando de seus dedos e por um momento eu me esqueci de tudo que me preocupava - Calma, tá tudo bem.

Pisquei diversas vezes antes de me acostumar com o alaranjado forte que tomava o ambiente logo acima de nós. O frio maltratou minha pele no momento em que o senti e Chaeyoung rapidamente esfregou a mão direta em meu braço.

- Onde estamos?

- No seu carro. Como está se sentindo? - ela me observava sob aquela iluminação horrível das lâmpadas auxiliares do teto. Realmente era meu carro, reconheci o estofado acinzentado e o cheiro de menta assim que ela me informou.

- Bem, eu acho... - foquei o olhar no seu, um tanto assustada. Chaeyoung me olhava com certa preocupação, as bolas castanhas não saíam de mim dois segundos e eu me perguntava o quanto ela já sabia sobre o meu problema. Quer dizer, se uma ambulância esteve envolvida, com certeza eles contaram sobre a razão do meu desmaio - O que os médicos disseram para você?

- Não sei de notícia nenhuma ainda. Tzuyu, Troy e meu pai estão lá dentro com Mark.

- Quero dizer, sobre mim - perguntei em um surto repentino de coragem. Ela definitivamente sabia de algo, é impossível alguém ter me avaliado longe de sua presença e, se estávamos juntas aqui agora, significa que ela havia ficado preocupada o suficiente para me manter acompanhada tão de perto. Não havia para onde correr, era preciso enfrentar logo esse problema - Eles te contaram o porquê do meu desmaio?

Requiem - Michaeng [BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora