A Verdadeira Eu

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Já era manhã do dia seguinte e eu não havia conseguido pregar os olhos a noite toda, pensando o que poderia ter levado Chaeyoung a agir daquela forma. Será que ela não estava nem um pouco preocupada? Tudo bem que eu havia dado motivos para que ela não quisesse me olhar na cara nesse momento, mas diante da situação eu esperava vê-la por aqui. O fato é que, esperança e expectativa são uma merda e só estavam me fazendo afundar. Nayeon disse que havia ligado para Chaeyoung e contado minha situação, entâo ao menos sei que ela se preocupou o suficiente para procurar saber o acontecido.

Dami havia acabado de deixar o quarto, eu estava oficialmente de alta desse hospital e de todas as más sensações que ele me trazia. Nayeon se mostrou uma ótima pessoa cuidando de mim durante esse tempo, quando ninguém mais se propôs a fazê-lo. Talvez fosse até por isso que ela estivesse aqui, não havia ninguém mais; ou talvez fosse a pedido do meu pai. Eu preferia acreditar que ela realmente havia desenvolvido uma alma e um bom coração depois de tanto tempo. Eu não ia nunca esperar ou imaginar algo assim vindo dela, mas, de novo, malditas expectativas.

Vesti a roupa limpa que Nayeon fez questão de ir pegar no hotel, dizendo que as de sábado não estavam em condições de serem usadas em público. E realmente. Elas fediam a tudo. Uma vez arrumada, cruzei a porta dando de cara com Oliver. Eu havia esquecido completamente dele. Um traço de medo passou pelo meu corpo tão rapidamente quanto saiu, tudo graças ao olhar que ele me lançou assim que notou minha presença, mas ele não me intimidaria. Não hoje. Hoje eu era uma Myoui, no sentido literal e grosseiro da palavra, e nada, nem ninguém, teria o poder de me abalar. Retribui a intimidação da mesma forma e me coloquei a caminho da porta.

- Senhorita, sairemos daqui direto para o aeroporto, o jatinho lhe espera. Suas malas e pertences já estão lá. - ele se manifestou, era nítida sua relutância a fazê-lo, mas era parte de seu trabalho.

- Obrigada - lancei um sorriso vitorioso de canto de lábio para Nayeon que fez o mesmo logo em seguida. Acho que domei a fera.

A viagem foi mais tranquila do que eu esperava, dentro do jatinho não se ouvia um ruído além do vento que cruzava a carcaça da aeronave do lado de fora. A maior parte do percurso eu passei adormecida, meu cérebro finalmente havia dado uma trégua de todos os pensamentos e ali eu vi minha única chance de descanso.

- Minari, você quer ir pra casa? - Nayeon perguntou enquanto descarregávamos nossas malas do jato para o carro, já em Nova York. Havia três deles, deduzi que seguiríamos caminhos separados.

- Não...

- Recebi ordens do seu pai para deixar a senhorita na casa da sua colega. - Oliver me interrompeu e eu contei até vinte para não fazer algo que fosse me arrepender depois.

Olhei para Nayeon rapidamente e lhe mandei um leve aceno antes de entrar no carro designado para mim. O motorista fechou as portas e se posicionou dando partida no veículo. Quando pensei em agradecer, Oliver adentrou sentando no banco do carona. Mas que merda. Meu celular vibrou e eu o retirei do bolso do casaco.

"Você não vai para casa, não é?"

Sorri encarando a mensagem no centro da tela e me apressei em respondê-la.

"Não mesmo! Essa porra loira não vai ter esse prazer."

Como se tivesse um faro para momentos em que era mal falado, Oliver me buscou em seu canto de olho. Recolhi meu celular de volta para o bolso do casaco e fechei os olhos me deixando relaxar encostada no banco. Mantive-me quieta durante todo o trajeto, do aeroporto até o prédio de Momo, já que eu ainda estava morando por lá, e assim que chegamos me retirei sem dar uma palavra. Apenas observei enquanto colocavam as minhas malas para dentro do prédio.

Requiem - Michaeng [BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora